Crítica a Duyster, de Thomas Vanbrabant e Jordi Ostir
Primeira longa-metragem dos dois realizadores belgas, exibida no Fantasporto 2022
De Cláudio André Redondo
Confesso que sou fã de filmes do estilo found footage. Para quem não conhece o termo, é um género que conta uma história como se as imagens que estamos a ver, que foram encontradas, tivessem sido registadas pelas personagens antes de lhes acontecer algo. Duyster é um filme desse género.
O filme conta a história de três estudantes que investigam um carrasco do século XVII, que terá feito um acordo para matar cem bruxas a troco da salvação da sua filha, acusada de bruxaria.
Durante o filme, os estudantes tentam desvendar se isso terá realmente acontecido, e, se sim, se o carrasco terá sido bem-sucedido. Nesse percurso, são-nos apresentados vários elementos que ajudam a compor e dar credibilidade à história: o que eram as bruxas, como eram julgadas, torturadas e executadas. As investigações levam as personagens a descobrir algo estranho e caricato que as leva por um caminho inesperado.
Em termos técnicos, o filme destaca-se pela competência. A fotografia crua com iluminação natural, a câmara livre, o som trabalhado para dar a ilusão de que foi captado de forma amadora pelos micros da câmara com a total ausência de música além do som ambiente. Tudo contribui para dar a ilusão de que estamos a ver um documentário feito por jovens amadores, a justificação usada para a existência das imagens.
Ao longo do filme, encontramos ainda vários detalhes e momentos que nunca chegariam à versão final num documentário profissional. Juntando isso à excelente representação dos atores, com pequenos enganos, sorrisos nervosos e a típica estranheza de movimentos de quem está pela primeira vez à frente das câmaras, somos facilmente levados a acreditar que as imagens podem ser reais, que a história pode ser real.
No entanto, o filme não está isento de defeitos, sendo um dos piores o facto de terem usado mais do que uma câmara em algumas cenas, sem nunca ser devidamente explicado como, ou a razão pela qual, isso acontece. Para muitos, um verdadeiro pecado dentro do género do found footage.
O filme termina com um final imprevisível e acima de tudo arriscado, que, temo, nem toda a gente compreenderá, e com uma ou duas questões em aberto que poderão levantar dúvidas.
No seu todo, é um bom filme com uma história original e diferente daquelas a que estamos habituados a ver no género. Se conseguirmos ignorar os seus defeitos, diria mesmo que se pode considerar um filme muito bom. Penso que não agradará a toda a gente, mas, ainda assim, acredito que vale a pena ser visto para aqueles que procuram algo diferente dentro do género.
Não percas a entrevista a Thomas Vanbrabant e Jordi Ostir na Fábrica do Terror.
GOSTASTE? PARTILHA!
Cláudio André Redondo
Apaixonado pelos livros desde os oito anos. Desde essa idade que sempre se aventurou pela escrita e foi acumulando histórias na gaveta, mas só recentemente começou a contar histórias de terror. É nesse género que encontra, atualmente, o maior prazer de escrever, sentindo por vezes que abriu uma porta para um lugar sombrio de onde figuras negras procuram sair. A gaveta abriu-se, resta saber o que de lá vem.