Crítica à antologia «Devil’s Rejects» (2022)

Editada por Michael R. Goodwin, o livro inclui um conto do autor português Miguel Gonçalves

Já é raro encontrar histórias assumidamente de terror escritas por portugueses. Ainda mais raro é encontrá-las em antologias estrangeiras. Assim, esta antologia mereceu o interesse da Fábrica do Terror.

Patrícia Sá

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A nota introdutória do editor de Devil’s Rejects (2022), Michael R. Goodwin, contextualiza o leitor acerca do propósito desta antologia: dar uma segunda oportunidade a obras previamente rejeitadas. Assim, Devil’s Rejects congrega 12 contos de terror, um deles, «The Scarecrow Man», de um escritor português: Miguel Gonçalves.

Já é raro encontrar histórias assumidamente de terror escritas por portugueses. Ainda mais raro é encontrá-las em antologias estrangeiras. Assim, esta antologia mereceu o interesse da Fábrica do Terror, mas não só por este facto; há bom terror nestas histórias, que merecidamente foram acolhidas numa segunda casa.

O terror é o elo unificador destes contos. Histórias que vão desde maldições hereditárias a assassinatos sanguinários, de sacrifícios a mutações monstruosas. Alguns contos inovam na forma como tecem a narrativa, servindo-se da técnica do found footage, no caso de «The Cursed», de Spencer Hamilton, e de fragmentos de cartas e jornais, no caso de «Yours Truly», de Marcus Hawke.

Além disso, muitos dos autores e das personagens destes contos pertencem a grupos historicamente negligenciados, como mulheres e pessoas LGBTQIA+. Isto é importante, pois, deste modo, a antologia pode ser uma fonte de esperança para leitores desejosos de se verem representados enquanto personagens e criadores deste género. Como argumenta R. Shanea Williams, «se não te vês regularmente representado nalguma coisa, é difícil veres-te como criador dessa mesma coisa» (no original, «If you don’t see yourself often represented in something, it’s hard to see yourself as a creator of that very thing»).

Há um pouco de tudo nesta antologia, que por certo agradará a qualquer amante do género.

«The Scarecrow Man» é o terceiro conto da coletânea. Tem uma premissa original, acerca de um homem que cria espantalhos. O conto alterna entre relatos do presente e do passado, oferecendo, paulatinamente, peças ao leitor para que este construa o puzzle da narrativa. O elemento macabro caminha entre as linhas, velado, mas presente, de uma forma deliciosamente inquietante. Miguel Gonçalves apresenta personagens interessantes e um protagonista misterioso, que nos faz desejar descobrir as origens da sua estranha ocupação e o final perturbador que certamente nos aguarda.

E não desilude.


Recomenda-se Devil’s Rejects a qualquer aficionado de terror e, especialmente, «The Scarecrow Man», que prova que existe, sim, bom terror português e que esse terror tem um espaço no público internacional.


Após uma rejeição, podem surgir sentimentos de desânimo e inadequação. Esta antologia pode trazer um novo alento a qualquer escritor que esteja a passar por uma fase semelhante. Não desistir é fulcral para encontrar a casa certa.

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