Crítica a «Coleção de Contos Best of Best», de Junji Ito (2022)

O Japão é um país onde o terror se encontra presente em praticamente todas as formas de arte.

A própria cultura japonesa, que vive de mitos e lendas, assim o pede. É fácil encontrar nomes de culto em quase todos os meios — cinema, escrita, pintura e teatro. No manga, (banda desenhada japonesa) o nome que os fãs do terror mais depressa reconhecem será o de Junji Ito.

Cláudio André Redondo

O nosso livro está à venda!

Não tendo sido o primeiro a explorar o género, terá sido talvez o primeiro a consolidar um estilo que ganhou fama além-fronteiras, tornando-o na maior referência do manga de terror, especialmente fora do Japão.


É precisamente Junji Ito que a Devir nos dá a conhecer, traduzindo a obra Ito Junji Tapenshu Best of Best para o português Coleção de Contos Best of Best, numa coleção onde se pode descobrir o estilo que caracteriza o autor e parte das suas inspirações.

Junji Ito é um autor cuja obra explora o horror corporal e cósmico, com temas que abordam a loucura, a obsessão, a crueldade e a perda de identidade que geralmente culmina na perda da humanidade. O autor, muitas vezes, fá-lo usando situações que poderiam ser reais, e que nos fazem pensar que poderiam acontecer connosco. Junji Ito diz inspirar-se nos seus próprios medos e isso nota-se ao transmitir-nos novos medos.

Este é um livro que conta com dez contos do autor e quatro imagens extra referentes a outras obras suas. É uma edição interessante, com várias páginas a cores que são um acrescento delicioso à obra, e uma capa belíssima com referência a dois dos contos. A tradução está exemplar, com várias notas que ajudam a perceber algumas referências usadas. Impresso da direita para a esquerda, seguindo a regra dos manga, o livro conta com uma boa variedade de contos, que permite não só ver parte das suas influências como o tipo de histórias que o autor gosta de contar.

A grande crítica que faço — sendo um best of, que poderá ser o livro de introdução ao autor para novos leitores — é a de o livro não incluir uma pequena biografia e mais informações sobre o seu trabalho. Mas isso já faltava na versão original.

Além disso, e aqui é uma questão de mero gosto pessoal, adoraria poder ter uma versão de capa dura, pois acho que o livro merecia. Contudo, não sendo comum nos manga, entendo que não seja possível.


Num autor com uma obra tão vasta, será sempre questionável se estas serão as suas melhores histórias, mas uma coisa é certa: permitem dar a conhecer aquele que é considerado por muitos o nome maior do manga de terror, em português. Agora, é esperar que a Devir venha a traduzir as obras mais conhecidas e extensas de Junji Ito. O público português sem dúvida que o merece.