Sessão da Noite — Crítica a «Graça Furiosa» 

Um filme de Paris Zarcilla.

Estreia em Portugal a 30 de maio.


Maria Varanda

Os nossos livros estão à venda!

Graça Furiosa (Raging Grace) passou previamente na 17.ª edição do MOTELX e foi candidato a Melhor Longa Europeia na competição Méliés d’argent, tendo perdido para Superposition.


A longa acompanha uma imigrante filipina ilegal no Reino Unido nas suas exigências quotidianas, e dificuldades financeiras e sociais, na tentativa de obter (por meios não legais) a sua cidadania.


Graça Furiosa é um filme cujo modo de filmagem e montagem deixa o espetador deveras incomodado, não sendo um estilo que agrade a toda a gente (como todos os estilos, na realidade). O modo como passa de cena em cena, no seu começo, simboliza a inconstância e insegurança na vida de Joy (Max Eigenman) e Grace (Jaeden Paige Boadilla), até ao momento em que Joy é contratada como cuidadora de um idoso em fase avançada de vida e dependência — a passagem de cena em cena toma contornos mais comuns, mas a narrativa permanece perturbadora, mantendo um ambiente que instila a sensação de que algo muito errado está a decorrer. Mesmo quando parece que tudo já foi revelado, Graça Furiosa esconde mais uma ou duas surpresas incomodativas para o espetador.

Uma clara crítica ao conceito do «homem branco», refugiando-se na proteção e destigmatização e sensibilização para as dificuldades da imigração ilegal e da descontextualização cultural, Graça Furiosa traz também noções psicopatológicas não só na caracterização dos seus vilões e anti-heróis, como na personagem de Grace, distorcendo as linhas da brincadeira e matreirice infantil.


Nos cinemas portugueses a partir de dia 30 de maio, Graça Furiosa é uma escolha certa para aqueles que preferem filmes pouco clássicos, que misturam a escuridão da mente humana com o terror social e as disparidades culturais que caracterizam a sociedade atual.