«Baby Ruby» (2024)

Um filme de Bess Wohl na Netflix.

Razão número 153 pela qual a maternidade tem de ser repensada.


Maria Varanda

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A vossa eterna tia favorita está de novo em cena para vos dar lições sobre a maternidade e saúde mental. E nada melhor do que um filme para nos elucidar através do terror, comédia e drama. Pena é não poder dar spoilers, pelo que, para vossa felicidade, a nossa discussão de saúde mental vai ficar muito à superfície.


Uma vlogger e influencer torna-se mãe, e o mundo à sua volta começa a revelar-se completamente diferente, com novos perigos à espreita. A descrição sumarizada não parece nada de especial, eu sei; deu-me a crer, quando a li, que seria mais um filme estilo Huesera ou Still/Born e que o único acrescento era a profissão da moda. Ainda bem que estava redondamente enganada.


Baby Ruby é um filme de 2023 e é a primeira longa-metragem em que Bess Wohl participa exclusivamente como realizadora. Quando vi o filme, não sabia quem o tinha realizado, mas passei o tempo todo a comentar com o meu (infeliz) companheiro de cinema: aposto que é uma mulher. Há coisas que só uma mulher sabe e, ao que tudo indica, Bess Wohl tem dois cromossomas X.

Baby Ruby é uma abordagem aos terrores do pós-parto, com a legendagem da Netflix a traduzir idioticamente uma fala acrescentando-lhe a denominação «depressão pós-parto». Fofos, os vossos dedos de testa falharam-vos. Na fala, apenas se diz «pós-parto», e o filme é claramente sobre psicose pós-parto e não depressão. São coisas diferentes, google it. O filme é um retrato delicioso das dificuldades que uma mãe experiencia nas exigências de vinculação que lhe são colocadas pela maternidade, enquanto o próprio corpo recupera de uma coisa que só é bonita em memória e que pode ser altamente mutilante na vida real. Baby Ruby retrata o momento do parto com tamanha brutalidade que, por um momento, ficamos na dúvida se o bebé sobrevive ou não.

Enquanto o seu corpo se tenta regenerar, Jo (Noémie Merlant) tenta conectar-se emocionalmente a um bebé que parece tudo menos disponível a amar e ser cuidado pela mãe. O choro de Ruby é altamente irritante ao longo de todo o filme e está muito bem representado na dinâmica de ansiedade e dúvida entre mãe e filha.

O filme é sério, mas isso não impede de estar repleto de comédia: os pontos de risota são vários, com escolhas inteligentes em pequenos desfechos no decorrer da longa-metragem. A visão de Jo é-nos apresentada com tamanha proximidade que, quando o clímax se inicia, não sabemos se Jo é louca, se tem razão ou se ficámos nós loucos também.


Baby Ruby está disponível na Netflix e, apesar de uma classificação altamente medíocre nos diversos sites de crítica, é uma aposta segura para quem, como eu, gosta de abordar temáticas do mundo real com um gostinho a sangue, insanidade e um bocadinho de terror.


Maria Varanda

Diz-se que nasceu em Portugal em 1994, pelo menos nesta reencarnação. Quando a terceira visão está alinhada, brotam ideias na sua mente que a inquietam e tem de as transcrever para o papel para sossegar o espírito. Chamam-lhe imaginação, mas se calhar as ideias vêm de outro lado, e Maria serve apenas de meio de transmissão. Procura-se quem queira ouvir a mensagem.