Entrevista ao ilustrador Pedro Potier

Um olhar sobre o trabalho deste multifacetado artista.

Pedro Potier é o criador por trás de diversas ilustrações fantásticas — e fantásticas ilustrações. Em várias delas, podemos encontrar o terror como ingrediente. 

Pedro Lucas Martins

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Fala-nos um pouco do teu percurso pelas artes. O seu início, desenvolvimento e pontos que considerarias marcantes.

Decidi muito novo que queria ser «desenhador» como profissão, sem saber muito bem o que isso era nem como é que isso seria uma carreira.
Comecei por trabalhar em publicidade, a fazer storyboards e conceitos para anúncios. Entretanto, trabalhei em animação em várias séries e filmes, ilustrei muitos manuais escolares. Ao fim de algum tempo, comecei a trabalhar numa empresa de videojogos e acabei por me manter nessa área desde então. Passei pela GameInvest, pela Biodroid e atualmente estou a trabalhar na Marmalade Game Studios.
Fui sempre mantendo várias atividades como freelancer, em paralelo. Fiz BD, dei aulas de Concept Art e trabalhei como ilustrador para várias editoras de role playing games.

É frequente ver nas tuas criações elementos fantásticos. Este universo atrai-te naturalmente ou tem sido mais o contexto de trabalho a ditá-lo?

Os universos de fantasia e de super-heróis sempre me atraíram imenso, e o meu trabalho sempre gravitou nessa direção. De início, as minhas influências vieram sobretudo da BD, onde estes eram os dois temas que eu mais procurava e tentava replicar nos meus desenhos. Por isso, o meu portefólio sempre foi tendo imagens de fantasia e ação, e o trabalho que foi surgindo, e que procurei, foi muitas vezes nessa direção.

Pedro Potier, lisboeta a viver em Benfica e a trabalhar remotamente em Almada. Trabalha numa empresa de videojogos a tempo inteiro e ilustra jogos de cartas como freelancer. Passa demasiado tempo a jogar e ocasionalmente a ver séries de televisão. Tenta ler um livro por mês, idealmente de fantasia, ficção científica ou policial. Tem um filho de seis anos que lhe ocupa o resto do tempo.

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A Wizards of the Coast, uma das tuas colaborações, é bastante conhecida pelo jogo de cartas Magic the Gathering. Como começou esta colaboração?

Durante 5 anos, ilustrei um compêndio de aventuras de Dungeons and Dragons para a Kobold Publishing. Eram ilustrações a preto e branco numa temática mais sombria de fantasia, ocasionalmente mais perto do terror e que puxavam a uma estética mais clássica de DnD. Quando a Wizards of the Coast decidiu fazer uma expansão de cartas de Magic the Gathering com a temática de DnD, procuraram artistas que conseguissem uma arte mais próxima dos manuais clássicos de aventuras de RPG. Foi com um misto de surpresa, excitação e até desconfiança que, em abril de 2020, recebi um e-mail de um diretor de arte da Wizards. Dizia que gostava bastante do meu trabalho e queria saber se eu tinha disponibilidade para trabalhar com eles.

Neste contexto, fizeste algumas ilustrações para a expansão All Will Be One, relativa à história de Phyrexia. Toda esta tem uma forte componente de terror associada. Isto é algo que te agrada? 

Trabalhar para um set de Phyrexia foi uma experiência fantástica apesar de a componente do terror não ser o meu maior foco. Eu era consumidor assíduo de Magic e The Thran, a origem de toda a saga phyrexiana é um dos meus livros favoritos. A criação do maior vilão, à altura, da história do Magic, a sua lógica distorcida e os métodos aterradores para atingir o poder fascinaram-me. Nada como um bom vilão para medirmos a capacidade dos nossos heróis.


Dentro do género do terror, cinematográfico, literário ou ilustrativo, quais dirias serem as tuas referências?

Cinematograficamente, eu gosto mais de coisas antigas, como os filmes de John Carpenter, Sam Raimi e Wes Craven, por exemplo. The Thing é um filme genial que me tem servido de inspiração em diversos projetos. Na BD, gosto bastante do material publicado pela Boom Comics, Something is Killing the Children, e muito do material da Dark Horse, em particular a série Hellboy, de Mike Mignola, e todo o Mignolaverse. No entanto, o meu maior consumo de terror talvez seja através da música. As minhas playlists incluem bandas como King Diamond, Bal-Sagoth, Cradle of Filth…

Para os fãs de terror, que outros trabalhos teus poderão considerar-se influenciados por este género?

Antes de Magic, fiz muitas ilustrações de dark fantasy, que era a temática central dos booklets Warlock da Kobold Publishing.  Fiz também algumas ilustrações para um conto curto do Luís Corte Real na revista Bang! Anteriormente, tinha feito ilustrações para um zombie dating sim chamado Dead!but Alive.


Tens na calha algum projeto ligado ao terror? Ou algo que gostasses de fazer dentro desta esfera?

Tenho uma história em desenvolvimento, em colaboração com o Eliseu Gouveia, sobre um pirata amaldiçoado com imortalidade que vai percorrendo os séculos. Já lançámos uma primeira BD de quatro páginas para testarmos algumas ideias, e o plano é fazer mais histórias, assim que tivermos oportunidade. Eu gosto sobretudo do sobrenatural e do folclore, portanto algo que surja dentro dessas temáticas será sempre excitante e bem-vindo.