Especial — Dia Internacional do Livro Infantil

Qual foi o primeiro livro infantojuvenil que leste e te despertou para o terror?

Mesmo que não estivesse classificada como tal, há sempre aquela obra inesquecível que nos fez sentir medo pela primeira vez e que abriu as portas aos livros de terror.

Stephen King diz que um livro é um portal para outro universo. Não poderíamos estar mais de acordo. Para os fãs de terror, a primeira vez que atravessaram para a outra dimensão foi de tal forma marcante que nunca esqueceram o primeiro livro. Dia 2 de abril, comemora-se o Dia Internacional do Livro Infantil, e estes são os livros que marcaram os operários da Fábrica do Terror.

A História Interminável, Michael Ende

Sandra Henriques

Não me lembro se vi o filme antes de ler o livro, mas seguramente ambos marcam o início da minha atração pelo Fantástico e, mais tarde, pelo terror. Já não estou segura de isto ser uma memória real ou «implantada», mas recordo-me de que o livro que li vinha impresso a duas cores: uma, quando a história se passava na «realidade»; outra, quando descrevia as aventuras de Atreyu em Fantastica. Lembro-me de o ler quase de uma assentada e de me sentir completamente transportada para aquele universo (e dilacerada pela morte muito real do cavalo, Artax, no Pântano da Tristeza). Hoje em dia, sinto o mesmo quando estou a ler um bom livro de terror ou a escrever as minhas próprias histórias.

Auto da Barca do Inferno,
Gil Vicente

Liliana Duarte Pereira

Não sei se foi ou não o primeiro livro que me despertou para o terror — um minuto de silêncio pela minha fraca memória. Grata. Só sei que o Auto da Barco do Inferno, de Gil Vicente, me marcou e que ainda tenho o livro que herdei da minha irmã, bem velhinho e a cheirar a antigo. Acho-o delicioso e intemporal. A sátira sobre os costumes daquela época continua a encaixar-se na perfeição nos dias de hoje. Haverá melhor ideia do que o Dia do Juízo Final se passar num porto, com uma barca que se destina ao Inferno de um lado e uma barca que se irá encaminhar para o Paraíso do outro? A minha personagem preferida é o Diabo, pelo seu sarcasmo e ironia. Vi o Auto da Barca do Inferno em peça, no teatro Luísa Todi em Setúbal, e fiquei ainda mais fã do Diabo. Grande alerta sobre qual será a minha barca…

Babysitter,
R. L. Stine

Cláudio André Redondo

Poderia escolher o primeiro livro que li, Os Cinco nos Rochedos do Demónio, de Enid Blyton, (título que escolhi por ter demónio no nome), já que ainda hoje recordo com a mesma emoção os momentos finais em que temi que eles fossem engolidos pelas ondas, e o único refúgio que encontram é no farol supostamente assombrado. Mas não sinto que seja verdadeiramente um livro de terror, tanto que, depois dele, continuei a procurar livros mais assustadores. Foi quando descobri a série Babysitter, do R. L. Stine, que finalmente senti ter encontrado o que procurava, pois esses foram os primeiros livros que realmente me meteram medo, que me fizeram temer pela personagem e virar cada página a tentar adivinhar que coisas horríveis lhes poderiam acontecer a seguir. Depois disso, li vários livros do autor, tanto da coleção Estrada do Terror como da coleção Arrepios, e qualquer um poderia ser uma boa primeira leitura no género. Mas antes desses, e de descobrir muitos outros autores e livros, foi a história daquela rapariga a sobreviver a coisas terríveis que me confirmou que um livro pode ser muito assustador.

Demónios das Profundezas,
Steve Jackson e Ian Livingstone

Pedro Lucas Martins

Este foi o primeiro livro que, aos 9 anos, me despertou para o terror literário, e para uma série de outros livros da coleção Aventuras Fantásticas. Era um livro de aventura com diversos elementos de terror, que se jogava com dados e quadros de marcações, no qual só avançávamos para a página seguinte se os valores corressem de feição. Tudo isto eu ignorei por completo, por só estar interessado na leitura acerca de demónios, esqueletos e todo o tipo de monstros. Assim, ganhava automaticamente todos os combates e lançamentos de dado, para poder saber o que se passava a seguir. Mais tarde, descobriria que havia livros de terror que não precisavam de batota estratégica para seguirmos a narrativa. Mas foi este livro que me colocou nesse caminho.

Os Cinco e o Comboio Fantasma,
Enid Blyton

Marta Nazaré

Lembro-me de os meus pais me salvarem de umas férias aborrecidas de verão com a coleção Os Cinco, de Enid Blyton. Quando cheguei ao sétimo volume, Os Cinco e o Comboio Fantasma, fiquei grudada à história. Os cinco amigos acampavam numa charneca solitária e, a dada altura, conheceram um senhor que lhes falou em comboios-fantasma que apareciam a meio da noite, sem luz e sem condutor, para depois desaparecerem sem deixar rasto. A partir daí, percebi que nenhum dos outros livros me empolgara tanto como aquele. Afinal, gostava de ler terror, mais precisamente terror infantojuvenil, e a minha busca por livros do género começou.

Os Cinco no Lago Negro,
Enid Blyton

Fernando Reis

O primeiro livro que me lembro de ter provocado emoções fortes foi Os Cinco no Lago Negro, de Enid Blyton. Apesar de não ter elementos de terror por si só, todo o ambiente e trama impressionaram o jovem eu de 8 ou 9 anos, que começou a correr um pouco mais rápido da escola para casa, sozinho à noite, no inverno, com medo de que um prisioneiro fugitivo saísse de trás da casa da eletricidade a meio do caminho. Um misto de medo e excitação que, aos poucos, se tornou viciante.