Autora com contos nas antologias «Sangue Novo» e «Sangue», Madalena Santos conta-nos sobre a sua relação com a escrita

«O Sangue Novo foi um incentivo também para mim, para continuar a escrever»

Madalena Santos estreou-se como autora publicada na antologia Sangue Novo, com o conto «Sonhei com uma Linha Vermelha».

O convite para integrar esta coletânea de 15 novos autores surgiu numa altura em que a autora tinha redescoberto o seu gosto pela escrita criativa. E em boa altura, porque pouco tempo depois desta entrevista, o conto da Madalena, «O Homem do Comboio», foi um dos selecionados para integrar a antologia Sangue, editada pela Trebaruna e a ser lançada durante a Feira do Livro de Lisboa 2022.

 

De Sandra Henriques

 

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Como é que chegas ao terror, ao teu gosto pelo género?

Não me lembro de nenhum livro ou filme em específico que me tenha empurrado para também querer escrever terror. Mas lembro-me de que comecei a ler mais terror no verão de 2020. Li o Shining de Stephen King, e tornou-se o meu livro favorito. Como já tinha feito um curso de guiões na Escrever Escrever, fiquei interessada em fazer outro, e foi quando descobri o curso de Escrever Terror.

 

Chegas então ao Escrever Terror um bocadinho por acidente. Qual era a tua expetativa com o curso?

Não tinha muitas expetativas para ser honesta. Comecei a voltar a escrever no secundário e depois, quando desisti da faculdade em 2020, aproveitei para fazer o curso de guionismo, [para o qual também] não tinha expetativas nenhumas. Nunca tinha feito nada na área de guionismo e com o curso de Escrever Terror foi a mesma coisa, nunca tinha escrito nada no género. Lembro-me de que havia pessoas no curso de guionismo que tinham objetivos, por exemplo, de fazerem uma curta, mas eu estava lá só mesmo porque tinha interesse em ver onde é que isso me podia levar.

 

E, às vezes, isso é meio caminho andado para as coisas correrem bem. Tens aquela curiosidade e vais atrás. Não tens logo de ter uma ideia definida, podes fazer um curso simplesmente para desenvolver competências ou encontrares aquilo que gostarias de fazer. Uma das coisas que descobri sobre ti foi que tinhas estudado música, violino. Essa tua experiência na música afeta a tua escrita ou não? São coisas completamente diferentes, os dois processos criativos são diferentes? A Madalena escritora, não é a mesma Madalena música? 

Nunca pensei nisso. Eu não quis seguir música. Continuo a tocar, mas  não quis profissionalmente ser música por causa da exposição e do stress todo que experienciei no secundário com audições, provas e isso tudo. Acho que têm isso em comum porque, para escrever, também não gosto da parte em que tenho de apresentar [os meus textos] a outra pessoa. Gosto de estar mais resguardada. Mas acho que pessoalmente não há nenhuma ligação [entre a música e a escrita]. Porque na música nunca criei nada, não há processo de criação, é tocar e interpretar. E escrever é mais criação para mim.

 

Uma das coisas que disseste durante a apresentação do Sangue Novo foi que, para ti, era impensável seres publicada antes dos 20 anos. 

Eu fiz o curso em novembro de 2020 e o convite veio uns meses depois.

 

E como é que recebeste esse convite?

Fiquei muito feliz e nem sequer pensei muito, até porque já estava a escrever o conto «Sonhei com uma Linha Vermelha». Acabei o curso e passado um mês estava de férias da faculdade. Em janeiro, tive um sonho, comecei a escrever o conto e estava mais ou menos a meio do conto quando o Pedro [Lucas Martins] me enviou um e-mail a convidar-me para a antologia. Nem pensei em dizer não.

 

Não sabia que o teu conto tinha começado mesmo como um sonho. 

Sonhei com aquela parte do cão dentro do café a transformar-se. Depois acordei e escrevi [isso] nas notas. O sonho não me saía da cabeça e comecei a escrever a história.

 

Disseste também, na tua apresentação, que gostavas de escrever quando estavas na escola, enquanto os textos podiam ser criativos. Continuavas a escrever mesmo assim, na escola?

Não. Eu sempre gostei de muitas áreas diferentes. Tanto gostava de Matemática e de Português como de Música, e o que fazia quando chegava a casa [depois das aulas] era os trabalhos — estudava e tocava. Não fazia mais nada. Ainda por cima, no secundário, os textos são só expositivos, composições de matéria decorada, e eu não tinha muito tempo [para me dedicar à escrita criativa]. No 12.º ano, quando os horários começaram a ficar mais vazios, é que comecei a escrever outra vez. Participei num concurso (o Campeonato de Escrita Criativa do Pedro Chagas Freitas) em que cada semana tinha um tema, e tínhamos de escrever histórias de 300 palavras, mais ou menos. Não tinha expetativas de ganhar, era mesmo só pela experiência. E nessa altura, voltei a escrever.

 

Escrita criativa, no secundário, não existia. Não havia espaço para isso, mesmo que tu quisesses. Mas também não havia, se calhar, professores que vos incentivassem a isso?

Não. Os meus professores nem eram assim de mentalidades muito fechadas. Até gostavam de saber sobre as coisas do conservatório e daquilo que eu seguia [em termos artísticos]. Antes do secundário, no 5.º ano, quando ainda escrevia textos criativos. Lembro-me de escrever um texto de duas páginas — tinha sido o maior que tinha escrito até essa altura — sobre fadas e duendes, e a minha professora de Português colou o meu texto na parede onde costumava [destacá-los]. Sempre gostei muito dessa professora. Ela sempre incentivou os alunos a ler e a escrever fora das aulas.

 

Então já escrevias ficção especulativa com 10 anos!

Exatamente. Mas depois fui perdendo um bocado isso da escrita criativa à medida que fui avançando na escola.

 

E pensas em continuar a publicar? 

Sim, eu queria. Agora não sei em que área, porque também gosto muito de cinema. Por isso, ainda não sei.

 

O que é que achas que vai acontecer a seguir ao Sangue Novo? Tendo em conta que não tinhas expetativas quando aceitaste o convite para participar.

Ainda não sei para onde é que vai depois disto. Sinceramente, não tenho muitas expetativas. Acho que o Sangue Novo foi um incentivo também para mim, para continuar a escrever.

 

Espero que sim, porque neste momento és uma autora publicada. Sentes que isso te vai pesar ou que te vai dar mais energia para continuares a escrever? Ou isso para ti é completamente indiferente?

Neste momento, ainda não parece sequer que sou uma autora publicada. Acho que não senti esse peso da publicação. Estou à espera do que é que vai acontecer.