Lugares a visitar: Igreja de São Francisco – Capela dos Ossos (Évora)
«Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos»
Mesmo os mais corajosos dão um passo atrás quando se lhes depara a mensagem pouco acolhedora sobre a entrada da Capela dos Ossos em Évora: «nós ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos».
De Liliana Duarte Pereira
Esta capela foi construída no século XVII por três frades franciscanos que pretendiam relembrar-nos de como a vida humana é efémera e frágil.
Além da componente religiosa, existiam questões práticas que também hoje se colocam, nomeadamente, o facto de existirem em Évora cerca de 42 cemitérios que ocupam um espaço considerável, que poderia ser utilizado para outras finalidades. Por este motivo, as ossadas foram retiradas da terra, servindo de matéria-prima para a construção da capela.
Apesar de atualmente combatermos a falta de espaço recorrendo à cremação, não estamos livres de que esta moda barroca regresse em força. Assim, pelo sim, pelo não, aconselhamos a que faça um planeamento atempado do seu próprio funeral.
Os mais céticos acreditam que a decoração é certamente feita de material não-humano, mas a verdade é que, apesar de ser difícil aceitar o gosto macabro, as paredes e os oito pilares que compõem esta capela estão forrados com ossos e crânios humanos, encaixados de forma engenhosa e permanente (pelo menos, assim esperamos).
O teto abobadado está pintado com frescos que apresentam diferentes símbolos ilustrativos de passagens da Bíblia Sagrada e da Paixão de Cristo. Em exposição, está também o ossário dos fundadores da capela, duas múmias do género feminino, poemas e uma imagem do Senhor dos Passos, ou Senhor Jesus da Casa dos Ossos, que retrata o sofrimento de Jesus Cristo carregando a cruz até ao calvário. À saída, encontra-se um painel de azulejos (2015), da autoria do arquiteto Siza Vieira, a ilustrar uma alegoria à vida por oposição à morte.
Sim, sabemos que é tentador levar no bolso uma pequena amostra do material da capela, contudo, informamos que não é permitido, além de que corre o risco de levar consigo o espírito do dono do osso. Por questões de segurança, compre apenas um íman para o frigorífico.
Em Portugal, existem ainda mais cinco capelas dos ossos: em Lagos, em Alcantarilha, em Faro, em Monforte e em Campo Maior. Assim, se tiver estômago, poderá realizar uma excursão para ficar a conhecê-las todas.
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Liliana Duarte Pereira
Liliana Duarte Pereira, nascida a 30 de junho de 1986, é licenciada em Política Social através do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Sempre quis preparar os mortos para os seus funerais, mas não vingou. Tem fobia a pessoas falecidas e a portas entreabertas. Gosta de animais, de fazer doces, de rir de coisas mórbidas e de escrever.
Integrou as antologias «Sangue Novo» (2021), «Rua Bruxedo» (2022) e «Sangue» (2022). Venceu o Prémio Adamastor de Ficção Fantástica em Conto (2022) com «O Manicómio das Mães», da antologia «Sangue Novo».