FANTASCLASSICS reforçado na 42.ª edição do Fantasporto
Estrelas de Hollywood dirigidas por importantes realizadores em grandes filmes da história do cinema
Honrar a história do Cinema, apresentando os seus melhores filmes do passado e tal como foram concebidos, isto é, para o grande ecrã, faz parte do ADN do Fantasporto desde a sua primeira edição em 1981. Neste 42.º Fantasporto, o desafio é múltiplo. Comemorar efemérides especiais, exibir alguns filmes de culto e, ainda, relembrar os rostos de grandes atores e atrizes dirigidos por grandes realizadores desde os anos 30 até aos anos 60, numa Hollywood de esplendor.
Começamos pelas efemérides de Filmes de Culto
Os destaques vão para os 40 anos de Blade Runner de Ridley Scott, um dos filmes charneira do Fantasporto, onde teve a sua antestreia europeia.
Na Los Angeles de 2019, um polícia, Deckard, interpretado por Harrison Ford, está encarregado de caçar quatro replicantes que chegaram ilegalmente à Terra. Filme revolucionário de ficção científica, filme-culto inquestionável, é ainda uma experiência audiovisual a não perder em grande ecrã e com som 5.1.
Também o precursor THX 1138, de George Lucas, festeja 50 anos. No futuro, no século XXV, os humanos são numerados. Um homem e uma mulher vão revoltar-se contra a sociedade rígida em que os forçam a viver. Com Robert Duvall, num início promissor como ator, e a mestria de George Lucas, na sua primeira longa-metragem, anos antes de iniciar a saga Star Wars. Um marco inovador que hoje em dia se vê com agrado.
O Clássico dos Clássicos
O verdadeiro FANTASCLASSICS sente-se honrado pela possibilidade de exibir o grande clássico Casablanca, de Michael Curtiz, que celebra este ano uns impressionantes 80 anos desde a sua estreia. Num café em Casablanca, Marrocos, durante a governação francesa, o dono americano (Humphrey Bogart) divide-se entre manter o café aberto, agradando aos ocupantes nazis, e ajudar a sua antiga amante (Ingrid Bergman) e o marido desta a seguirem para Lisboa e daí para a América. Filme vencedor de três Óscares: Melhor Filme, Melhor Realização (Michael Curtiz) e Melhor Argumento, considerado por muitos o melhor filme da história do Cinema.
Não muito diferente em impacto é o grande Singin’ in the Rain, de Stanley Donen e Gene Kelly, que celebra neste próximo Fantasporto 70 anos desde a sua estreia. Um glorioso exemplo do cinema musical norte-americano, com a alegria transbordante de uma história de amor, coreografias fabulosas e música inesquecível. Gene Kelly canta à chuva (e quase todas as canções são clássicos dos anos pós-guerra), Debbie Reynolds torna-se numa das queridas da América e a sexy Cyd Charisse dança.
Mas a grande História cinematográfica vai também para a mostra a que se denominou HOLLYWOOD STARS. High Society, de Charles Walters, é uma comédia musical em que uma jovem da alta sociedade (Grace Kelly) hesita entre um novo casamento e o ex-marido, um cantor de jazz. Gene Kelly e o Old Blue Eyes, Frank Sinatra, repartem os favores da socialite enquanto o fantástico Louis Armstrong toca e canta. Este é o último filme da atriz favorita de Hitchcock, que abandona, nesse ano, o cinema para casar com o príncipe do Mónaco. Com a música fabulosa de Cole Porter, este filme foi nomeado para dois Óscares.
Depois, temos grandes paixões com Mogambo, de John Ford, uma história de amor e ciúme passada em África. Um caçador branco, interpretado por Clark Gable, tem um triângulo amoroso com uma mulher da sociedade americana, Ava Gardner, e a mulher de um antropólogo, Grace Kelly. Gable é novamente, e tal como em Gone with the Wind, o homem duro por fora que se devora por paixão. Por seu lado, o realizador John Ford foi responsável por alguns dos melhores filmes da história do Cinema, como The Quiet Man (1952), The Searchers (1956) ou The Man Who Shot Liberty Valance (1962).
Ninguém duvida do estatuto clássico de All About Eve. A mulher maquiavélica, a falsa ingénua, a insaciável que se insinua no círculo de amigos de uma estrela da Broadway já com uma certa idade, é o tema deste filme de Joseph L. Mankiewicz. Nele, brilham a fantástica Bette Davis, uma das grandes atrizes da altura, e ainda George Sanders, Anne Baxter e Celeste Holm, todos famosíssimos na época. O filme foi vencedor de seis Óscares dos mais importantes, entre os quais Filme, Realização, Argumento, Ator Secundário (George Sanders), Guarda-Roupa e Som. Podemos ainda ver, num pequeno papel como Miss Casswell, Marilyn Monroe.
O Fantástico mais clássico
Um clássico pouco visto e que há décadas seguramente não tem à sua disposição uma sala de cinema, Guess who’s Coming to Dinner, de Stanley Kramer, mostra um casal de meia-idade que tem de rever a sua atitude quando a filha lhes apresenta o seu noivo negro. Este filme foi uma pedrada positiva numa época em que as relações inter-raciais ainda eram muito problemáticas e bastante ausentes do cinema dos estúdios. Conta com três atores fabulosos, já na altura galardoados com Óscares. Spencer Tracy e Katharine Hepburn encontram Sidney Poitier, na altura já vencedor de um Óscar por Lilly of the Valley (1964) e o primeiro ator negro a ser nomeado, em 1959.
Ainda nesta retrospetiva, dois filmes de Joseph L. Mankiewicz, Suddenly, Last Summer lança definitivamente uma Elizabeth Taylor como atriz adulta num filme baseado numa peça de Tennessee Williams. Mais tarde, Taylor brilha em Cleopatra, também realizado por Joseph L. Mankiewicz, em 1963, e torna-se depois vencedora de dois Óscares, por Butterfield 8, em 1960, e por Who’s Afraid of Virginia Wolf?, em 1966. Taylor é, neste filme, uma mulher belíssima, avaliada por um psiquiatra (Montgomery Cliff) para ser lobotomizada a pedido da tia (Katharine Hepburn), depois de uma morte na família.
O clássico perdido e achado
Finalmente, uma recuperação, um filme brasileiro que se pensava perdido. A Praga, de José Mojica Marins, chega-nos numa versão restaurada, e acompanhada de uma curta-metragem. Zé do Caixão (Mojica Marins) conta a história de Marina, a mulher de Juvenal, que não compreende os pesadelos do homem amado depois de este ter tirado algumas fotos no campo, junto à casa de uma bruxa. Desaparecido durante muitos anos, este é o único filme ainda inédito do mestre do horror brasileiro, agora restaurado, que visitou o Porto em 2000 aquando da grande retrospetiva que o Fantasporto lhe dedicou.