MONSTRA 2022 — As curtas do Terroranim
A minha primeira visita ao festival MONSTRA foi para ver a sessão «Terroranim». Não podia haver melhor forma de me fidelizar ao Festival de Animação de Lisboa. Foram sete as curtas apresentadas no passado 21 de março, todas elas com histórias e ambientes bastante distintos, todas elas marcantes, cada uma à sua maneira.
por Francisco Horta
Dois ou três minutos depois de ter começado a primeira curta, dei por mim a perguntar-me por que motivo me estava a sentir tão desconfortável. Depois, lembrei-me: «isto é terror; agarra-te à cadeira». Assim fiz. Porque foi terror, e do bom, do princípio ao fim.
O Não Nascido, de Carolina Sandvik
Foi a primeira curta da sessão. A história começa com um homem a cozer ovos, e uma mulher grávida numa banheira. A coisa que a mulher estava a gestar, e que não era (definitivamente) um bebé normal, vai parar dentro de um aquário com água ensanguentada. Ou sangue aguado, talvez. Num ambiente gráfico bastante perturbador, a tensão continua a escalar mesmo quando pensamos que tal já não é possível.
Duração: 20 minutos
Título original: Night Bus
País de origem: Taiwan
Realização: Joe Hsieh
Corta, de Inez Kristina
Esta história de terror/ficção científica passa-se num futuro que esperamos que seja muito, muito longínquo. Uma mulher carrega às costas a voz de um comandante, que a guia até a uma sala onde se encontra algo verdadeiramente assustador. Um pedaço de carne viva prende-a e engole-a através de um cordão umbilical. Consegue ser claustrofóbico do início ao fim.
Duração: 7 minutos
Título original: Cut it Out
País de origem: Dinamarca
Realização: Inez Kristina
Noites Paralizantes, de Anna Henriette Koppen
Existe uma máxima no género com a qual concordo: escrever uma história de terror que termina com uma personagem, antes envolta nos mais terríveis pesadelos, a acordar para uma realidade pacífica frustra o leitor. «Afinal, tudo não passava de um sonho? Que desilusão.» No cinema, parece-me ter o mesmo efeito. No entanto, assumir, desde o início, que o que estamos prestes a ver é apenas um sonho é ter muita coragem para arriscar. Ainda bem que Anna Henriette Koppen arriscou. Uma curta tenebrosa, que nos mostra um episódio perfeito de paralisia do sono. Se disser que não lhe mexia num único frame, estou a fazer-lhe justiça. Excelente a ilustrar um terror real.
Duração: 4 minutos
Título original: Paralysed Nights
País de origem: Holanda
Realização: Anna Henriette Koppen
Bolonhesa, de Achille Thiébaux
A prova de que não é necessária uma ideia altamente original (ou então era eu que queria explorar este assunto) para haver uma excelente história de terror. Esta acompanha um dia na vida do «empregado do mês» de um muito espaçoso supermercado, que só vende carne. Apresenta imagens muito gráficas que — parece-me — visam chocar o espectador. E chocam. E arrepiam. Porque a carne picada que passa naqueles tapetes, ou as cabeças que desfilam naqueles varões, não é a dos outros animais. É a de animais como eu e tu. Uma ótima crítica à indústria pecuária, que nos deixa a pensar.
Duração: 5 minutos
Título original: Bolognaise
País de origem: França
Realização: Achille Thiébaux
Colónia, de Pilar Garcia-Fernandezsesma
Esta curta traça um paralelo entre os quatro estágios da metamorfose de um mosquito e a gravidez de uma mulher. Tendo uma casa no campo como pano de fundo, a curta é repleta de simbolismo, e a forma como o narrador se apresenta dá um toque especial à história, atirando o espectador, quase, para um documentário. Curta muito bem conseguida, oferecendo-nos um cenário de paranoia, loucura, sonho e calafrios.
Duração: 13 minutos
Título original: Colony
País de origem: Estados Unidos
Realização: Pilar Garcia-Fernandezsesma
MÃE, de Kajika Aki Ferrazzini
Do meu ponto de vista, talvez a curta mais metafórica da sessão. Mostra-nos uma criança a ser perseguida, sendo essa perseguição transmitida em todos os ecrãs, dentro e fora de uma casa, numa espécie de reality show. Uma história sobre o confronto entre Humano e Natureza, com um final, de alguma forma — da forma possível —, satisfatório.
Duração: 9 minutos
Título original: MOM
País de origem: França
Realização: Kajika Aki Ferrazzini
Autocarro Noturno, de Joe Hsieh
A curta com mais violência da sessão, e com maior enredo, mostrando (esta também) o impacto que o Humano provoca na Natureza, mas não só. Um conflito que surge dentro de um autocarro, provocado pelo roubo de um colar, acaba por resultar no atropelamento e morte de uma mãe macaca, deixando o seu filho órfão e com sentimentos de vingança. No meio disso, bons plot twists, picaretas e, claro, sangue, muito sangue, além de conseguir ligar com alguns momentos cómicos. Uma boa maneira de nos despedirmos do «Terroranim».
Duração: 20 minutos
Título original: Night Bus
País de origem: Taiwan
Realização: Joe Hsieh
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Francisco Horta
Um dia, arriscamos a entrar dentro da cabeça do Francisco como as personagens do «Being John Malkovich». Mas ainda não estamos preparados para isso. Até lá, deixamos que ele vos envolva na sua coluna. Francisco Horta nasceu em Vila Franca de Xira, em 1987, e foi criado na Subserra. Licenciou-se em Filosofia na Faculdade de Letras de Lisboa. Vive em Almada, com a mulher e a filha.