MOTELX: Crítica a «Huesera», de Michelle Garza Cervera

Secção Serviço de Quarto

Maria Varanda

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Valeria vai ser mãe. A notícia é extasiante. Depois do que o filme dá a entender terem sido várias tentativas, incluindo uma procissão religiosa até uma enormíssima estátua da santa virgem, os recém-casados não poderiam, aparentemente, estar mais felizes. Mas, poucas cenas depois, apercebemo-nos de que a gravidez talvez não seja assim tão desejada por Valeria — pelo menos não nos recantos mais secretos da sua mente.


Assombrada por visões aterradoras, a gravidez de Valeria promete não ser fácil.


Huesera é uma coprodução mexicana e peruana, cujo elenco inclui excelentes desempenhos e cujo enredo é mais do que satisfatório. O filme trata a questão de uma mulher quebrada, dividida pelo dilema de continuar a ser mulher ou passar a ser mãe. Assombrada pelas suas próprias escolhas, sonhos e desejos, Valeria é a sua verdadeira assombração.

Considerando a ambiguidade e o dilema em que a protagonista já se encontra com a gravidez, que não sabemos se desejou ou para a qual se conformou, as questões de sexualidade adicionadas ao filme parecem ter sido colocadas de modo mais forçado para tornar o filme mais polémico e com o propósito de dar profundidade aos problemas de Valeria quando a «simplicidade» teria funcionado suficientemente bem.


Os sustos de Huesera são a melhor parte do filme: têm qualidade, são discretos e não pretendem assustar o espectador pela surpresa ou rapidez clássica de um jump scare. Não podemos esquecer também todas as cenas que dão nome ao filme («mulher osso»), que conseguem mexer no nervo do desconforto de quem vê (e ouve).


Dito isso, Huesera é um filme sólido sobre as dificuldades da gravidez e do pós-parto, com referências claras às escolhas que uma mãe deve fazer para albergar a criança na sua vida.

Tenham em conta que algumas cenas podem perturbar os mais sensíveis, dado que, a certo ponto, ficamos sem saber o que aconteceu à recém-nascida de Valeria (respirem, respirem, *spoiler alert* corre tudo bem).

O final parece ter sido uma tentativa de justiça, de dar às duas partes da história aquilo que tanto desejavam, mas para mim não foi certamente a cereja em cima do bolo (tenho um claro problema com finais felizes; em caso contrário, o espectador adorará).


Apesar dos pontos que poderão agradar a uns e menos a outros, como tudo na arte do cinema, os mais sinceros parabéns a Michelle Garza Cervera pela sua primeira-longa metragem. Aguardamos futuros sustos entregues pelos seus trabalhos.