MOTELX: Crítica a «Holy Spider», de Ali Abbasi

Secção Serviço de Quarto

Maria Varanda

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A moral, a religião, a dignidade e a política andam de mãos dadas (ou melhor, às turras) em Holy Spider. Seguindo os horrendos homicídios de prostitutas na cidade de Mashhad, a intrépida jornalista Rahimi tenta solucionar o crime que as forças policiais parecem propositadamente empatar.


A nossa personagem principal é uma mulher forte e determinada no seio de uma sociedade misógina e faz de tudo ao seu alcance para descobrir quem segue pelas ruas da cidade «limpando-as de mulheres depravadas», alegando motivos religiosos e morais.


Holy Spider, de Ali Abbasi, que poderão conhecer de outras obras como Border ou Shelley, pode ser dividido em duas partes. A primeira centra-se nos homicídios e é a mais visualmente perturbadora, enquanto a segunda se foca no processo de julgamento do assassino e no poder do homem sobre a justiça da mulher. A segunda parte é tão, senão mais, assustadora quanto a primeira, pelos princípios morais, políticos e religiosos em que está envolta.

Tenham um pouco de paciência. Depois da primeira parte mais agitada, a segunda pode parecer um pouco demorada, mas há um motivo: a justiça também é lenta, e o castigo justo (semijusto) demora a concretizar-se, sendo uma surpresa depois de um enredo que indica exatamente o contrário.

De longe, as cenas mais perturbadoras estão nos momentos em que o assassino converte o próprio filho à sua causa e no fim, quando este, uma mera criança, encena as cenas de homicídio para a nossa jornalista, parecendo defender que o trabalho do pai continue (daí ser semijusto).


Não sonhemos com finais felizes: isto é o que acontece na vida real, a toda a hora, em todo o lado, de uma maneira ou de outra.


Se o filme não o deixar arreliado que chegue, caro espectador, deixo-lhe a nota que verá passar no ecrã no final da longa-metragem: baseado numa história verídica ocorrida em Mashhad, em 2000 e 2001. Saeed Hanaei foi o assassino em série que assombrou as ruas da cidade, fazendo entre 16 a 19 vítimas no espaço de um ano, tendo sido enforcado ao amanhecer do dia 8 de abril de 2002.