MOTELX: Crítica a «Family Dinner», de Peter Hengl
Secção Serviço de Quarto
Famílias tóxicas e almoços de Páscoa. O que poderia correr mal? Tudo, meus queridos, tudo. E ainda bem, porque tudo indica que o lugar de Family Dinner como um dos meus favoritos do MOTELX vai ser difícil de destronar. Já é o segundo ano que é na sala 3 e sobre comida que passa a minha longa-metragem predileta (ver The Feast, de 2021).
O ambiente é logo estabelecido à chegada de Simi a casa da tia, onde esta refere que a sobrinha não poderá ficar até à Páscoa por ser um evento limitado a membros próximos da família nuclear: como se diz em bom português, cheira a esturro.
Ao longo de toda a longa-metragem, realizada com excelência por Peter Hengl a quem também deveremos agradecer o argumento, uma sensação enervante de desconforto e fome (muita fome) passa do ecrã para a sala e percorre o espaço até ao espectador, encontrando um novo lar na sua pele, na sua mente e no seu estômago.
A distorção de antigas práticas pagãs vem culminar num final que fará com que o seu estômago se transforme num verdadeiro acrobata. Se até então passámos o filme com fome, no final vai agradecer por não ter ingerido nada.
Family Dinner fala-nos de alterações da imagem corporal, dietas extremas, violência e toxicidade familiar. De novo, como em tantas outras ocasiões, um aviso a todos os vegetarianos, vegans e defensores dos direitos animais que se possam chocar com as imagens cinematográficas que nos são oferecidas — têm um propósito e fazem a ligação com a cena final do filme, que é muito (muito!) justa.
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Maria Varanda
Diz-se que nasceu em Portugal em 1994, pelo menos nesta reencarnação. Quando a terceira visão está alinhada, brotam ideias na sua mente que a inquietam e tem de as transcrever para o papel para sossegar o espírito. Chamam-lhe imaginação, mas se calhar as ideias vêm de outro lado, e Maria serve apenas de meio de transmissão. Procura-se quem queira ouvir a mensagem.