MOTELX: Crítica a «O Hotel da Noiva», de Bernardo Cabral

O filme de terror açoriano de culto

Sandra Henriques

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A secção de sessões especiais do MOTELX apela à nostalgia, ao desconhecido e ao nunca antes visto. O filme O Hotel da Noiva, de Bernardo Cabral, é tudo isso e, sendo açoriana, tem para mim uma dose dupla de sentimentalismo.

Tive a sorte e o privilégio de conversar com o realizador umas horas antes do filme (a entrevista será publicada em breve na Fábrica) e, além disso, sabia que esta obra tinha reaparecido por influência do realizador Francisco Lacerda (cujo filme Karaoke Night inaugurou a página de curtas-metragens da Fábrica do Terror). Mas, mesmo que nada disto tivesse acontecido, quando vi «filme de culto» e «açoriano» associados a este título, era certo que iria assistir. O mesmo pensaram as outras pessoas que encheram a sala 2 do Cinema São Jorge.

O Hotel da Noiva não é um filme perfeito (nem tem de ser). É um filme sem orçamento, e por isso corajoso, feito por alunos, filmado no (agora ainda mais abandonado e decrépito do que em 2007) Hotel Monte Palace, nas Sete Cidades, São Miguel. A guia Cláudia, encarregue de levar o grupo de turistas numa caminhada, cede aos viajantes que decidem parar para um mergulho antes de continuar a caminhada montanha acima. Primeiro aviso ignorado (e comum com turistas, acrescento): o desvio para umas horas de praia faz com que cheguem à montanha fora de horas e, por isso, perdem-se no nevoeiro – história de terror comum, para uns; para os açorianos, uma história de verão normal. Nas ilhas de bruma, as condições climatéricas são levadas mais a sério. Explicar isto a quem é de fora é complicado.

Mas adiante.

Num hotel decadente, habitado por fantasmas, há (por milagre) bebidas alcoólicas, roupa de cama lavada, água canalizada e eletricidade. Também há nevoeiro (imenso e espesso), cães raivosos, triângulos amorosos, ciúmes e sexo de circunstância. A ligar tudo isto? A lenda de uma noiva que morreu na sua noite de núpcias.

Seria de esperar que uma história de terror passada nos Açores fosse beber ao folclore local, mas ainda bem que não o faz. Nem toda a longa-metragem de género portuguesa tem de se agarrar como uma lapa às lendas do Portugal profundo. Além disso, a misteriosa mulher de capote que se passeia pelos corredores do hotel já é um nod to the local mais do que suficiente.

Houve muitas gargalhadas durante o filme, nem todas no sítio certo. Mas não acho que isso tire a força a O Hotel da Noiva. Se, em 99% das gargalhadas, senti carinho, pouco me importa o 1% que possa ter rido por escárnio. Os filmes de culto não existem para agradar a toda a gente.

Aguardo pelo lançamento da edição limitada em DVD (não está previsto que aconteça, mas, se deixar por escrito, pode ser que se materialize).