MOTELX: Crítica aos filmes de terror infantojuvenil
Secção Sustos Curtos
Das 14 curtas-metragens programadas para a sessão de Sustos Curtos da 16.ª edição do MOTELX, apenas 11 foram apresentadas, duas das quais portuguesas. Five, Purgatory Stew e Xtra Sticky não foram exibidas.
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16.50 € (com IVA)Danse Macabre, de Dawn Brown (EUA, 2022, 2’)
Inspirada na curta-metragem da Disney, Skeleton Dance, Danse Macabre, de 1929, a realizadora Dawn Brown revela-nos o que acontece num cemitério à noite nesta animação stop motion a preto e branco. Quando a lua cheia ilumina o céu, os esqueletos erguem-se das campas para dançar.
Percebemos que houve algum distanciamento do original: danças mais simples, deixando de lado as diabruras dos esqueletos e a aproximação da cara do esqueleto à câmara com o intuito de assustar. A realizadora até introduziu elementos novos: criaturas da noite que se juntam à festa. Em suma, um tributo bem conseguido que complementou esta exibição de «sustos».
Death With Interruptions, de Joana Vieira da Costa (Portugal, 1’)
Um dos relógios na parede do castelo da Morte começa a andar para trás. Intrigada, a Morte vai investigar, deixando a Foice encarregue do turno do cemitério.
Baseada na obra As Intermitências da Morte, de José Saramago, esta animação portuguesa apresenta a morte como um anjo branco ― e arriscamos dizer com feições um tanto ou quanto alienígenas ―, distanciando-se da imagem clássica do esqueleto de túnica preta que estamos à espera de ver. O que interrompeu a Morte a ponto de abandonar o seu posto ficou em aberto.
A curta-metragem deixou espaço para a imaginação e variadas interpretações.
Fáros, de Reyna Buxton (EUA, 2020, 3’)
Manter a casa limpa e arrumada pode parecer um trabalho colossal e assustador. Para Ori, um faroleiro com alguns traços de peixe, as tarefas diárias ganham uma dificuldade acrescida quando tem de cuidar de um farol vivo. Os espectadores mais velhos poderão identificar-se com as provações desta personagem peculiar, embora estejamos no mundo da fantasia. Reconforta-nos saber que Ori conta com a companhia do gato Amêijoa para enfrentar as exigências de um dia a dia difícil, onde (na minha opinião) se encontra o verdadeiro horror desta curta-metragem.
Fáros, «farol» em grego, é uma animação imaginativa, onde não faltam criaturas marinhas. Arrancou vários sorrisos (e uma ou outra gargalhada tímida) ao público, além de nos ter despertado a vontade de a ver novamente para abarcar todos os pormenores deste universo marítimo criado pela realizadora Reyna Buxton.
The Fall, de Desirae Witte (Canadá, 2021, 3’)
Pela mão da realizadora Desirae Witte, chega-nos uma animação de humor negro com personagens amorosas. O público riu-se do início ao fim com a história de Leafie, uma folhinha de ácer que adora dançar e ser o centro das atenções na árvore onde reside. Um dia, algo imprevisto acontece, e a vida de Leafie muda para sempre.
«All good things must fall», lemos no cartaz de apresentação, pelo que achamos que a lição a retirar desta curta-metragem é a de aproveitar a vida, pois ela é inconstante. Quando menos esperamos, temos surpresas menos boas. Ninguém escapa, nem mesmo folhinhas adoráveis e bem-dispostas como Leafie.
A Curious Music Box, de Nuno Duarte de Azevedo (Portugal, 2022, 3’)
É verdade que os meninos curiosos acabam sempre em trabalhos.
Um jovem flautista arrisca entrar numa loja de instrumentos aparentemente deserta para investigar uma melodia de violino misteriosa; contudo, não estava preparado para o que foi encontrar.
Nesta animação portuguesa do realizador Nuno Duarte de Azevedo, a música é provocadora e desencaminha a criança. Num crescendo muito bem conseguido, a música transforma-se numa mancha visual e revela-se de uma forma inesperada.
A Date With Mr. Mappleton, de Gabriel Akpo-Allavo, Constance Augé, Julia Brasileiro Lopes Garcia, Lucas Narjoux, Méghane Reynaud (França, 2019, 5’)
Esta animação em 3D começa por se apresentar como uma história divertida sobre encontros românticos, mas rapidamente ganha contornos de terror.
Numa casa antiga, repleta de animais empalhados nas paredes, vive uma anciã simpática chamada Gertrude, que aguarda uma visita para jantar. Quando George é convidado a entrar e se aproxima para ver melhor o furão, Mr. Mappleton, em lugar de destaque na lareira da sala, os animais empalhados ganham vida e atacam o cavalheiro. Desconfiamos que é por ciúme que os animais se empenham tanto em impedir a felicidade de Gertrude.
Teria gostado que a aura de mistério tivesse permanecido até ao fim, deixando-nos «no escuro» em relação ao que acontece a George.
Mora Mora, de Jurga Šeduikytė (Lituânia, 2021, 10’)
Começamos por ver uma menina chamada Mora a afogar-se num mar infinito. Pouco depois, ela avista um piano flutuante, a sua boia de salvação. Quando descobre que consegue chamar o vento tocando nas teclas do piano, é transportada para um mundo gélido, inativo, onde encontra várias criaturas. Uma em particular interage mais com ela, protege-a e tenta ajudá-la a superar o medo.
Nos créditos finais, lemos «to all who trust their inner child», o que nos leva a pensar que a mensagem desta curta-metragem passa por escutar a nossa voz interior, acreditar em nós mesmos, para podermos superar os obstáculos que nos surgem no caminho.
É uma animação de tom melancólico, com o piano e a música a desempenharem um papel de relevo. Destaca-se por ser a mais artística das curtas-metragens exibidas nesta edição dos Sustos Curtos e pela complexidade da mensagem.
Swirly, de Sofia Wang (EUA, 2019, 4’)
Swirly é a única curta-metragem dos Sustos Curtos que não seguiu a tendência de animação.
Temos o Dia das Bruxas como cenário. Uma menina anda de porta em porta a perguntar «doçura ou travessura?» quando uma casa misteriosa lhe chama a atenção. À janela, está um rapaz a comer um grande chupa-chupa. A criança fica obcecada pelo doce e resolve entrar na casa para o ir buscar.
O argumento simples da realizadora Sofia Wang transmitiu na perfeição a moralidade desta história: há perigos que esperam pacientemente que as crianças se deixem levar pela curiosidade (ou pela gulodice).
Ovation, de Sofia Wang e JoAnn Kang (EUA, 2015, 4’)
Um menino é atraído para o interior de um auditório onde decorre um espetáculo de magia. O mágico dá o seu melhor a exibir os truques. O público (que não vemos) aplaude. O menino que entrou, porém, não se deixa impressionar. Sentado na primeira fila, fica entediado com o espetáculo. Assistimos ao seu crescente aborrecimento e impertinência. Mas o mágico não se dá por vencido. Tem um último truque na manga.
Achei curioso o cartaz desta animação em 3D apresentar o mágico como o Joker, de sorriso vermelho rasgado e com a pergunta «why not smile?». É uma piscadela de olho à loucura do vilão de Batman, para quem o sorriso também era muito importante, e de certa forma acaba por revelar o que nos espera nesta curta-metragem.
Warm Welcome, de Xenia Balashov (EUA, 2020, 1’)
Uma pequena chama, sozinha em casa, ouve tocar à campainha. Imbuída do espírito do Dia das Bruxas, pega em alguns rebuçados e, aos trambolhões, precipita-se para abrir a porta. Porém, a receção foi demasiado calorosa.
O final pode ser previsível, mas esta não deixa de ser uma animação engraçada, com uma personagem amorosa, que se enquadra muito bem numa exibição de curtas-metragens de terror.
Old Gramophone’s Ghostly Tones, de Zuzana Čupová, Martina Tomková, Kryštof Ulbert (República Checa, 2021, 9’)
Dois ladrões desajeitados são obrigados a entrar numa mansão deserta para roubar um chapéu que o chefe cobiçava. No interior da residência, depara-se-lhes um gramofone que, ao começar a tocar, liberta uma série de fantasmas. Estes, após várias peripécias, acabam por lhes dar uma «ajudinha paranormal».
A dança e a música desempenham um papel importante no desfecho desta animação divertida. Tal como em muitas das curtas-metragens exibidas nesta série de Sustos Curtos, temos uma moral: cada um tem o que merece.
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Marta Nazaré
Marta Nazaré, nascida em Lisboa, a 5 de março de 1981, é formada em Letras e Tradução de Inglês. Dedica-se a tempo inteiro à tradução de livros infantojuvenis e à legendagem de filmes e séries.
Descobriu o terror em tenra idade na papelaria do bairro que vendia a coleção «Arrepios», de R. L. Stine. Ainda hoje, o terror infantojuvenil é o seu género preferido.