MOTELX: Crítica a «Something in the Dirt», de Aaron Moorhead e Justin Benson
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16.50 € (com IVA)Quem passou algum tempo nos túneis da conspiração do YouTube, do Reddit ou do History Channel (ou quem apenas sabe da existência desses túneis) irá apreciar a paródia que Something in the Dirt tece sobre aqueles documentários alicerçados em teorias mirabolantes.
Com um paralelo bem construído entre o passado e o presente, numa boa imitação do estilo documentário, o filme de Moorhead e Benson critica o comportamento de muitos conspiradores que afirmam querer revelar uma verdade escondida quando, na prática, a fama e a fortuna são finalidades muito mais apelativas. Tal é evidente através das reconstituições dos fenómenos paranormais que as personagens principais testemunham, recorrendo até a efeitos especiais e dramatizando os seus monólogos no documentário.
A história parte de dois vizinhos, Levi e John, a observarem fenómenos inexplicáveis no apartamento do segundo. Deduzindo tratar-se de provas da existência do paranormal, resolvem fazer um documentário para revelar ao mundo esta verdade oculta. Contudo, os fenómenos em si são menos importantes do que, por exemplo, o título mais chamativo para o documentário, as poses e as frases ideais, a melhor maneira de condensar as teorias cada vez mais ridículas que se vão construindo para explicar uma única certeza: a de que certos objetos do apartamento flutuam de vez em quando.
Os rabbit-holes são cada vez mais profundos e caricatos, ao ponto de os risos da plateia se converterem em caretas, no esforço de tentar seguir um raciocínio sem nexo. A veracidade dos acontecimentos acaba por ser questionável quando as narrativas do passado e do presente se unem, finalmente.
Something in the Dirt é um filme que vai deixar o espectador boquiaberto, enquanto é levado pelas profundezas dos túneis da conspiração que insultam a inteligência. A convicção com que John tece as suas teorias é hilariante, justificando a classificação do filme como «comédia». No entanto, o argumento acaba por se alongar desnecessariamente, chegando a ser «parado», não num sentido reflexivo, mas simplesmente estático e até entediante. Não deixa de ser uma paródia interessante, embora se perca, por vezes, em pormenores pouco importantes que não avançam a história.
No fundo, Something in the Dirt oferece uma viagem singular à mente de quem carece de propósitos e procura, a todo o custo, justificações que provem a existência de algo maior do que aquilo em que, geralmente, se acredita, com o bónus de poder vir a desfrutar da adoração e da gratidão da humanidade.
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Patrícia Sá
Patrícia Sá nasceu em 1999. Desde muito cedo que encontrou um refúgio na escrita e estreou-se como autora em 2021, com o conto «Amor», na antologia «Sangue Novo». Interessa-se especialmente pelo estudo da monstruosidade na literatura, nas artes e na cultura. Está determinada a provar que o terror é um género sólido. A arma dela? Resmas de livros teóricos sobre o assunto. Sublinhados. E com «post-its».