«A Autópsia de Jane Doe» (2016)

Um filme de André Øvredal.

O homicídio de uma família, uma tempestade, uma morgue e o corpo de uma desconhecida.


Maria Varanda

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Tenho sempre muita dificuldade em responder à pergunta «qual é o teu filme favorito». Por um lado, porque tenho tendência a esquecer-me dos bons filmes que já vi. E em boa parte porque, quando me lembro, não consigo geralmente classificar um acima do outro, e precisaria de os rever todos de novo e de seguida para o poder fazer. Uma pessoa tem mais crises existenciais para responder que se sobrepõem a «qual o filme favorito»; porém, vocês são todos testemunhas do que eu vou dizer: um do meu top 3 (isto porque não quero ser injusta a dizer que é O FAVORITO — apesar dos 99% de certeza, não posso ignorar o 1%) é A Autópsia de Jane Doe.


É um filme que já data de 2016, e não me perdoo por não ter sido o primeiro a figurar na Sessão da Noite pelas intensas emoções que desperta em mim. Esqueço-me sempre dele e, quando o revejo, odeio-me por me ter esquecido.


A Autópsia de Jane Doe inicia-se em media res (a minha técnica narrativa favorita) com o homicídio de uma família em circunstâncias suspeitas e com a descoberta do corpo de uma desconhecida, o que deixa perplexos o xerife e a inteira força policial. Tommy e Austin Tilton são pai e filho, atuais regentes da Casa Mortuária e Crematório Tilton, aberta em 1919 e passada de pais para filhos desde então. São Tommy e Austin que recebem o corpo da nossa Jane Doe e que, durante uma tempestade, se veem presos na casa mortuária com as estranhas descobertas — e estranhos acontecimentos — em redor da autópsia.

Esta maravilhosa longa-metragem tem tudo o que um bom filme precisa: gore, horror, terror, drama familiar (numa pequena dose apenas para tornar reais as personagens), homicídios, sobrenatural e todo o potencial para uma prequela e sequela. Para quebrar o meu coraçãozinho, não houve nem uma nem outra. A Autópsia de Jane Doe continua a ser um stand alone movie, e um que é completamente inesquecível.

Entre todas as pancas que já sabem de que eu sofro, o meu gosto por morgues e pelo sistema mortuário americano é outra delas, e A Autópsia de Jane Doe toca no ossinho da curiosidade mórbida onde muitos poucos filmes conseguem. Já que não posso trabalhar numa morgue e casa mortuária americana nesta vida, ao menos que o faça numa próxima (e preferencialmente acompanhada de amiguinhos menos vivos, mas animados).

Sem romantizar ou estereotipar, o filme usa este ambiente para facilitar o percurso da história e para criar… bem… ambiente. Consegue o envolvimento do espectador (pelo menos desta) com as personagens, sem nos desviar do que é essencial, trazendo-nos toda uma amplitude emocional desde o medo, o nojo, o choque, a tristeza e até o riso. As descobertas que se vão fazendo ao longo da autópsia nunca deixam de surpreender, e uma parte de mim tem um bocado de pó por não ter sido eu a lembrar-me primeiro desta história.


Sabem aqueles filmes em que ficamos a desejar muito que tivesse um livro de origem? Este é um desses. E acho que é o melhor elogio que se pode fazer a um filme. Já vou na sétima repetição e nunca me canso de o ver.


A Autópsia de Jane Doe é um filme com a realização de André Øvredal, que também realizou o Histórias Assustadoras para Contar no Escuro, e tem a brilhante representação de Brian Coz e Emile Hirsch. Gostava que houvesse mais, mas, por outro lado, ainda bem que não há: o que aconteceu antes e o que aconteceu depois são momentos que não podem ser arruinados se ficarem na mente eternamente expectante de quem adorou o filme.

A Autopsia de Jane Doe passou recentemente no canal AMC, para aqueles de vós que consigam voltar para trás ou aguardar, como é sempre inevitável nos canais comerciais, que passe uma e outra e outra vez ainda nos meses que se seguem. Os outros certamente arranjarão maneira.


Então, afinal, qual é o meu filme favorito? É bem capaz de ser este, pelo menos até eu me lembrar de um que me deixe mais plena ainda depois de o ver. Pouco provável. E o vosso, qual é?