Sessão da Noite Especial: Parabéns, Mike Flanagan!

20 de maio é o seu aniversário e a Sessão da Noite de hoje é dedicada ao cineasta americano.

Os que me conhecem sabem que tenho um amor (quase obsessão doentia) com algumas das obras deste senhor, e é neste artigo especial que transbordo esse amor numa recomendação múltipla. 

Mike Flanagan ficou maioritariamente conhecido pelos trabalhos que, mais recentemente, tem feito com a Netflix. Queridos, e que trabalhos! Estou a falar de The Haunting of Hill House, baseada na obra com o mesmo nome de Shirley Jackson, The Haunting of Bly Manor¸ baseada em contos do escritor Henry James, Midnight Mass e The Midnight Club.

O que dizer sobre The Haunting of Hill House? Bem, posso dizer que, ao contrário de filmes, músicas e livros, a minha série favorita de todos os tempos foi declarada em 2018 e dificilmente alguma a superará — e essa é nenhuma outra que The Haunting of Hill House. Desde a complexidade das personagens e dinâmica familiar à panóplia de temáticas altamente atuais e à nova interpretação do além e da passagem do tempo, esta série é uma verdadeira obra-prima. Foi o começo de um império que se seguiu e que esperemos que se prolongue por muitos anos. The Haunting of Hill House, para os empobrecidos por ainda não a terem visto, conta a história de uma família de sete e dos desastres que a marcam após a mudança para uma mansão assombrada. Acompanhamos a família Crain, uma personagem de cada vez, até ao último episódio, numa linha temporal saltitante que culmina na explicação de como tudo aconteceu e de como tudo funciona.

Culmina também com a Maria lavada em lágrimas.
(pausa para a Maria respirar e controlar a sua fangirl interior que, desde 2018, quer entrar dentro da série e dar um abracinho às personagens todas. Prometi que não daria spoilers e, portanto, vou parar por aqui, mas poderíamos discutir todos os pormenores de todos os minutos de todos os episódios desta obra que deveria ser transformada em livro para eu a poder absorver de novo, porque vê-la seis vezes ainda não chega. AAAAHHHHHHH. OK, desculpem.)

A série que se seguiu a este êxito incomparável da Netflix foi The Haunting of Bly Manor, cuja premissa principal é baseada na novela The Turn Of The Screw, de Henry James, incorporando também o conto The Romance of Certain Old Clothes, num episódio que explica a origem da Maldição da Mansão Bly. Usando parte do elenco da série anterior e acrescentando novos rostos, Mike Flanagan traz-nos uma série mais romântica, mas sem perder a chama do terror. Há uma nova abordagem ao além e à vida após a morte, e esta começa a mostrar-se como a verdadeira temática inspiradora do cineasta.

Apesar de não ter tido a mesma reação do que com a primeira série de Mike Flanagan para a Netflix, The Haunting of Bly Manor conseguiu, com a interligação das suas personagens e a sua carga emocional forte, permitir a continuidade do multiverso de Flanagan. E depois, veio Midnight Mass.


Se a minha série favorita é fácil de definir, Midnight Mass fica 0,2 pontos atrás e sem nenhuma concorrente acima a não ser Hill House. Não poderá ser considerada a minha segunda série favorita, mas sim a primeira e meia? Sim, isso.


Midnight Mass brinca com a temática da religião e, novamente, com a conceção da vida após a morte — de uma maneira ou outra. As personagens Erin (Kate Siegel) e Riley (Zach Gilford) têm uma conversa muito bonita e sentida sobre o que é morrer. Por outro lado, querendo fugir à morte, Midnight Mass une um mito e uma criatura sobrenatural muito familiares à mentalidade do cristianismo, dando-lhes uma nova vida. Não posso revelar, para os que ainda não viram, mas esta nova abordagem deixou-me (e continua a deixar-me) cheia de inveja. As boas ideias fazem isso: deixam-nos extasiados com a sua existência e invejosos por não nos termos lembrado disso primeiro. Parabéns, Mike Flanagan, odeio-o.

Mantendo novamente algum do elenco das séries anteriores, Midnight Mass anda à volta dos habitantes de uma aldeia piscatória americana, que viu o seu sustento ameaçado por um derrame de óleo e pela consequente diminuição da população residente. Com a chegada de um novo padre à aldeia, os habitantes da ilha Crockett vivenciam acontecimentos inexplicáveis, enquanto os espectadores, do lado de fora do ecrã, sofrem com todos os percalços que assombram as maravilhosas e multidimensionais personagens que nos são apresentadas. Midnight Mass é também sobre como o Inferno está cheio de boas intenções.

Fugindo um bocadinho às séries a que nos acostumou desde 2018, estreou, em 2022, The Midnight Club. Não entregou aquela dose de terror que todos estávamos à espera na altura, mas não se desleixou na inovação. São oito adolescentes em fim de vida, residentes num hospício, contando histórias e descobrindo mistérios. A inversão de temáticas não agradou a todos, mas ficou no coração dos amantes de cuidados paliativos como um verdadeiro hino.

Sem perder o mistério tão característico dos títulos anteriores, The Midnight Club é sobre laços de amizade e o caminho da aceitação da fatalidade e do destino. É uma ode aos cuidados paliativos pediátricos de mãos dadas com um mistério-fantasia. Em si e no seu enredo, é um derradeiro exemplo de como contar e criar histórias nos pode ajudar a lidar com os desafios da vida real, mesmo que o desafio seja a nossa própria finalidade.

Mike Flanagan também está por trás de muitos filmes que certamente alguns já conhecem: Absentia, Oculus, Before I Wake, Ouija, Hush, Doutor Sono e Gerald’s Game.
Mas se os caríssimos leitores e espectadores já viram isto tudo e estão a aguardar mais obras-primas, juntem-se a mim na espera de The Fall of The House of Usher, baseado livremente num conto de Edgar Allan Poe, que contará com os nomes já conhecidos do multiverso de Flanagan: Carla Gugino, Henry Thomas, Zach Gilford, Annabeth Gish, Rahul Kohli, Samantha Sloyan e, claro, Kate Siegel.

Mike Flanagan, despache-se: estamos à espera.