A Bruxa Matilde, de Patrícia Furtado

As peripécias da menina de cabelo rosa e do seu furaleão

«É uma verdade universal que nenhuma menina de dez anos suporta ouvir a palavra “não”. Teimosa e senhora do seu nariz empinado, a Matilde não é exceção.» 

Como em todas as histórias de meninas endiabradas e curiosas, a protagonista Matilde Pato-Fusco tem alguma dificuldade em afastar-se de sarilhos e acaba sempre no gabinete da diretora da escola, a Valéria Telhados-Pretos. Se são os sarilhos que a procuram ou ela que os atrai, ficamos na dúvida. Mas de uma coisa temos a certeza: tudo é possível num universo juvenil de criaturas fantásticas, de retratos amaldiçoados, de gatas gatunas e de portas escondidas que nos levam a lugares secretos.

Logo no início desta aventura encantada, em Matilde e a Cidade das Portas Mágicas, a menina prepara-se para deixar Vila Velha de Oliveira, uma povoação sossegada no meio da natureza, habitada por bruxas e feiticeiros, mas onde, infelizmente, não conhece ninguém da sua idade.

Na cidade de Torres Altas, para onde a menina de cabelo cor-de-rosa vai morar, abre-se um mundo de possibilidades, de novos amigos e de peripécias. Logo a caminho de casa da enigmática tia Miranda ― a quem os pais confiaram a tarefa de incutir na filha «alguma disciplina e responsabilidade» ―, a jovem despassarada deixa a vassoura ficar no comboio. Só não se esqueceu do seu fiel amigo porque são inseparáveis! Se o perdesse logo no início desta história, como iria Matilde desvendar mistérios e fazer amizades para sempre?

Sabrina tinha o gato Salem, esta bruxinha conta com o furaleão Fred (furão + camaleão).

Podemos nem sempre conseguir vê-lo ― porque a criatura tem a capacidade de se tornar invisível ―, mas, para onde quer que Matilde vá, Fred não está muito longe. Com um riso contagiante e um pelo que muda de cor consoante o seu estado de espírito, Fred não consegue ficar sossegado em casa da tia Miranda, na companhia do papagaio Amadeu abelhudo, enquanto Matilde está na escola. É por ele se recusar a separar-se dela que, um dia, a jovem Pato-Fusco encontra, sem querer, uma porta mágica, oculta num dos corredores da escola.

Nos amigos Rodrigo Trabuco, Joana Zita e Maria Antónia (mais conhecida por Tó), Matilde encontra os companheiros de aventura, para o mal e para o bem. Juntos fundam o Clube da Esfregona, enfrentam castigos e fogem de perigos numa escola «supostamente normal». À noite, a matéria que se aprende é bem diferente da do ensino diurno, e a curiosidade de Matilde acaba por levá-la a descobrir que não é de bom-tom uma bruxa espreitar às janelas.

Em Matilde e o Retrato Amaldiçoado, o mistério em torno de um «certo e determinado mago» adensa-se. Como percebemos que tudo o que tenha o nome do Conde desaparece, achámos por bem não o mencionar, não fosse acontecer a este artigo o mesmo que aos trabalhos de História da turma da Matilde e ao medalhão da Joana Zita.

Entre panquecas de formiga e bolachas de manteiga de unicórnio, trocas de correspondência entre bruxas e jogos de cartas de Encruzilhada, acompanhamos esta bruxinha de bom coração na aprendizagem de novos feitiços (e de outras matérias aborrecidas como História, Matemática e Português). Matilde e o Retrato Amaldiçoado leva-nos a conhecer um pouco mais sobre as torres que dão o nome à cidade, alguns dos segredos que elas encerram e deixa-nos sem saber quem é Nádia Felícia (cujo nome escrito na carteira reaparece sempre depois de limpo).

Uma pergunta fica a pairar no ar: «porque é que os adultos gostam tanto de guardar segredos?».

É a eterna incógnita que aborrece todos os meninos e meninas, quer sejam feiticeiros, bruxas ou não. Teremos de nos juntar à bruxinha Pato-Fusco em Matilde e as Horas Roubadas para tentar resolver este novo mistério, se conseguirmos acompanhar os relógios que agora parecem andar mais depressa.

Esta coleção divertida de Patrícia Furtado está a cargo da Nuvem de Letras, do grupo editorial Penguin Random House. Com ilustrações amorosas e um enredo cativante, as aventuras da bruxa Matilde vão agradar a fãs de Harry Potter e/ou de Sabrina, a Bruxinha Adolescente.

Ficam desde já avisados: assim que se embrenharem nesta leitura, vão querer logo adotar um furaleão e provar as broas de grilo crocante da avó Úrsula, acompanhadas de um belo refresco de pastilha elástica.