Conhecem a Travessa das Bruxas em Lisboa?

Ligando o Largo da Graça à Rua da Voz do Operário, a Travessa de São Vicente nem sempre teve essa denominação. Até ao ano de 1859, a dita artéria lisboeta tinha o nome de Travessa das Bruxas.

Não esquecendo que os nomes de ruas muitas vezes têm origem em factos reais (vide, por curiosidade, a Triste Feia de Alcântara ou a Travessa das Pichas Murchas no Castelo), a antiga Travessa das Bruxas pode despertar curiosidade. Lamentavelmente, a informação sobre o seu nome original é escassa. No entanto, no quinto volume da obra Lisboa de Lés a Lés, da autoria de Luís Pastor de Macedo, faz-se referência à Travessa através de uma história contada por D. Tomaz de Vilhena.

A Travessa, à sua altura sinistra e tortuosa (talvez hoje em dia só mantendo a segunda característica), ligava o Largo da Graça ao Largo de S. Vicente. Sobre ela vivia a lenda de ser local onde bruxas se reuniam para os seus diversos afazeres, ora na forma humana oculta por longos e negros capotes, ora sob a forma de gatos pretos com olhos de fogo. Gatos certamente não faltariam na Travessa, não fosse um oficial da Guarda Municipal ver o seu cavalo fugir após o ataque de um felino numa noite de trovoada.

As lendas seriam tão seriamente consideradas pelos moradores que D. Bráz da Silveira, seguindo pela Travessa para casa da Sr.ª D. Mariana de Noronha, vê quatro olhos de fogo no breu da noite. Imediatamente se lança em joelhos, de mãos voltadas ao céu, e solicita o apoio do Senhor dos Passos, pondo o seu destino no colo do santo. É um amigo que o acompanha que chama a sua atenção para os vultos no escuro, que são, afinal, apenas dois gatos. D. Bráz da Silveira contou a sua aventura em casa dos Noronha, jurando que os gatos não seriam meros animais.

Com bruxas ou sem bruxas, a agora Travessa de São Vicente é uma caraterística rua lisboeta que o leitor não pode perder. Se vir gatos no caminho, mantenha a distância e apresse o passo. Nunca se sabe.

Foi graças ao excelentíssimo senhor Coordenador do Núcleo de Toponímia de Lisboa, António Adriano, que a Fábrica do Terror tomou conhecimento desta história caricata. Um sincero obrigado.