«A Cor Vinda do Espaço» (2019)

Um filme de Richard Stanley.

Não sei bem como é que a Sessão da Noite chega a este ponto e eu ainda não vos falei do meu amor por A Cor Vinda do Espaço e como Nicholas Cage poderia, se jogasse bem as suas cartas, ter um retorno promissor apostando no terror, mas finalmente chegámos e vão ter de me aturar.

Maria Varanda

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Quando um estranho meteoro cai na sua quinta, a família Gardner vê-se perante uma série de alterações inexplicáveis que afetam a flora e fauna, incluindo eles próprios. O enredo é conhecido dos ávidos fãs de terror como oriundo do conto com o mesmo nome, escrito pelo pai do horror moderno (e dos maus diálogos), H.P. Lovecraft. Richard Stanley e Scarlett Amaris deram o seu cunho criativo, tomando liberdades que modernizaram a história primeiramente publicada em 1927.

Se as origens deste filme não fizerem os vossos corpinhos amantes de terror alancar o traseiro no sofá mais próximo e sintonizar o vosso ecrã favorito nesta obra-prima, permitam-me continuar a minha tentativa de vos convencer.


Em A Cor Vinda do Espaço, é-nos apresentada a família Gardner, uma família tão comum como qualquer outra, não fossem os eventos que se desenrolam na película e a partir dos quais, como se diz em bom português, «tudo dá para o torto».


As dinâmicas entre as diferentes personagens seguem as noções alucinatórias do conto original, com a atmosfera de loucura e dissociação crescentes que lhe são tão características. O elenco toma as suas posições e representa-as tão bem que se sentem na pele as comichões, as mudanças e a crescente raiva, além do sofrimento e desespero do horror incompreensível que se instala no condado de Arkham, e mais especificamente na quinta da família Gardner.

Nicolas Cage não precisa de apresentações, e A Cor Vinda do Espaço integra-se, juntamente com Mandy e Willy’s Wonderland (a não esquecer o seu desempenho mais recente em Renfield, que é a única coisa boa dessa desilusão cinematográfica), no conjunto de filmes que parecem poder elevar Cage a um futuro ícone do terror cómico-psicadélico. O seu papel de pai louco é completo com uma mãe igualmente levada à loucura, belissimamente representada por Joely Richardson — que faz também papel de mãe com uma escassez de sanidade em Little Bone Lodge.

Madeleine Arthur (Devil in Ohio), Julian Hilliard (A Maldição de Hill House e Conjuring 3 – The Devil Made Me Do It) e Elliot Knight (American Gothic) fazem também os seus papéis cruciais no percurso da história de A Cor Vinda do Espaço, sendo talvez os que mais nos facilitam o trabalho de sentir empatia por personagens fictícias, num mundo cinematográfico onde toda a gente parece ter tomado umas quantas pastilhas de LSD.

A imagem e fotografia do filme também conduzem a esta sensação de estar sob o efeito de drogas psicadélicas. Se atualmente o cor-de-rosa voltou a ser o derradeiro símbolo da Barbie, há um certo tipo de rosa-magenta-lilás que, àqueles com um sentido cinematográfico de terror apurado, fará para sempre relembrar A Cor Vinda do Espaço.

Nunca me vou perdoar ter demorado tanto tempo a juntar esta obra de arte à Sessão da Noite. E por favor, se ouvirem assobios vindos de um poço, não sejam tolos: fujam o mais rápido que puderem. E, acima de tudo, não se esqueçam de alimentar as alpacas.