Crítica a El Cadáver Insepulto, de Alejandro Cohen Arazi

A primeira longa-metragem do realizador argentino foi exibida no Fantasporto 2022

 

De Maria Varanda

 

O realizador Alejandro Cohen Azari traz-nos a sua primeira longa-metragem de ficção: El Cadáver Insepulto, um filme de terror argentino. Conta-nos a história de Maximiliano, que cresceu numa família de acolhimento com outros órfãos, a cargo de um homem obeso e pouco convencional, numa quinta onde se encontra um matadouro. A morte súbita do «pai» faz com que Maximiliano retorne à pequena cidade onde os irmãos permaneceram e onde os mesmos irão insistir que se termine um importante ritual familiar.

El Cadáver Insepulto é pautado por um passo lento a marcar a progressão da história, pelas imagens viscerais de morte animal no matadouro e pelo ritual que os irmãos devem completar. O modo como o patriarca morto nos é apresentado, a sua caracterização física e a sua constante presença putrefacta provoca no espetador uma sensação de náusea. Mesmo antes de se revelar o hediondo ritual passado de geração em geração, Aldo é uma personagem que deixa, desde as primeiras imagens, a certeza de que nada de bom vai acontecer.

Ao longo do filme faz-se um bom uso da imagética e das memórias de Maximiliano para aludir ao seu sofrimento e à sua luta interna (e externa) no que toca a completar o ritual da família de acolhimento. No entanto, não se deixe enganar: o espetador facilmente se apercebe, por todo o ambiente circundante e pelas ações das personagens, que as mesmas não são merecedoras de empatia (à exceção clara das vítimas do ritual).


Não há necessidade de sons ou ruídos extremos para causar desconforto. Este é conseguido através de um bom desempenho por parte do elenco, por uma história diferente e por imagens CLARAMENTE chocantes da violência e perturbação que distingue a família. O final revela a verdadeira perversidade do ritual familiar finalmente terminado (ou será que não?).


No entanto, a realçar que certas partes da história servem apenas para ligar os pontos ou apresentar questões que não têm posterior relevância, perdendo-se minutos importantes para explorar melhor como os acontecimentos na infância manipulam a adultícia.

É certamente um bom exemplo dentro dos filmes de progressão lenta e de terror mais vagaroso. O final pode, nos fãs do género que prefiram algum sentido de justiça, ou que o bem triunfe sobre o mal, deixar uma sensação de amargura. Já para os que prefiram uma continuidade ao mal retratado, não poderia haver melhor maneira de terminar este filme.

El Cadáver Insepulto é uma estreia ambiciosa do realizador no mundo das longas-metragens de ficção e, sem dúvida, eficazmente perturbadora.