Crítica a «Laranjas  Sangrentas»

Estreia em Portugal dia 9 de junho, no Cinema Ideal (Lisboa)

De Cláudio André Redondo

 

Laranjas Sangrentas, de Jean-Christophe Meurisse, é um filme que nos faz sentir embaraço alheio, alegria, tristeza, impotência e justiça. E fá-lo com uma mestria que poucos conseguiram.

É um filme sobre justiça e sobre a falta dela. Sobre vidas comuns, com problemas e aflições comuns, onde a injustiça nos castiga e a vingança disfarçada de justiça dá uma falsa sensação de recompensa.

O filme começa por introduzir várias personagens, com histórias que se cruzam apenas em pequenos momentos ao longo da narrativa. Para isso, utiliza quase sempre planos simples, muitos deles planos de conjunto, onde as personagens e as suas histórias são o mais importante. Os diálogos e ações das mesmas são credíveis ao ponto de se tornarem constrangedores e nos fazerem sentir que estamos a invadir a sua privacidade.

Com o tempo, as histórias vão-se ligando, deixando cada uma delas pequenas lições. O perigo das falsas aparências; o impacto que as simples e grandes decisões podem ter; a injustiça que muitas vezes impera; o prazer da justiça, mesmo quando esta ganha proporções exageradas.

São várias as mensagens que o filme nos vai passando e com as quais nos vai incomodando. A forma como essas lições nos vão sendo apresentadas levam-nos constantemente numa direção, para logo de seguida mudar bruscamente de sentido, ao ponto de nos fazerem simpatizar com o monstro, de o vermos quase como uma vítima das circunstâncias, um vingador dos injustiçados, para logo de seguida percebermos que, afinal, é só mesmo um monstro. Um terrível monstro.

A fotografia é simples, tentando imitar a realidade e ajudando a aumentar a autenticidade das personagens, fazendo-nos quase sentir que estamos nos locais com elas. A banda sonora está perfeita. As músicas aparecem apenas em momentos-chave e levam-nos a sentir exatamente o pretendido.


Este filme é quase um manifesto sobre os vários problemas que afligem a nossa sociedade. E deixa-nos com a pergunta: até que ponto a vingança disfarçada de justiça, que muitas vezes desejamos e comentamos abertamente em conversa com amigos, não terá ido longe demais, quando realmente aplicada?


Dia 9 de junho, no Cinema Ideal (Lisboa)