Terror no São Jorge: a experiência «Cinema Medo»

De Maria Varanda

Fotografia: Guilherme Gouveia (instagram.com/guilherme.gouveia7)

 

Uma noite após a lua nova, com as nuvens carregadas de chuva cobrindo os astros, e a luz citadina amarelada incutindo uma falsa sensação de segurança, 12 criaturas destemidas esperam no átrio do cinema São Jorge. Entre eles, operários da Fábrica.

Os bilhetes, trocados meia hora antes na bilheteira, e indicando a equipa vermelha, absorvem o suor das suas mãos trémulas. Os rostos, pouco visíveis no cinema mal iluminado, imitam sorrisos de descontração e entusiasmo — ninguém quer dar a entender que o medo lhes corre nas veias.

Falsamente tranquilizados pela ideia de união e espírito de equipa, iniciam a sessão com a visualização de uma curta-metragem de terror, a partir da qual se desenrola todo o enredo da experiência imersiva.

Os corredores exclusivos a funcionários, salas, caves e catacumbas do cinema são os locais por onde três equipas de 12 elementos caminham com cautela, sempre sob o olhar vigilante dos funcionários, sempre sob a pressão para se moverem mais rápido, de desafio em desafio, e sempre às escuras.

Das três equipas — azul, amarela e vermelha —, uma sairá vencedora; mas não antes de os três grupos de ingénuos aventureiros serem desafiados a completar enigmas e jogos mediados pelas personagens fantasmagóricas desta história inédita.

Entre sussurros aos ouvidos, com a proximidade dos fantasmas fazendo acelerar o coração, segredos e pequenos detalhes da história deixam as equipas mais perto (ou mais longe) da vitória.

O sistema de pontos dita o triunfo de uma das equipas que, após sustos, receios e alguns guinchos de terror, é premiada com uma visita exclusiva à sala onde eram censurados os filmes durante o regime salazarista, e onde a história dos fantasmas do Cinema Medo é finalmente desvendada.

O ambiente de pressão, a pouca luminosidade e o percurso fisicamente desafiante auxilia a manter os participantes, como se diz em bom português, com os nervos em franja. O desempenho da companhia de atores é a cereja em cima do bolo.

Nessa noite sem Lua nem estrelas, imbuída de coragem, e talvez um pouco a mais de orgulho (combustível para seguir em frente e completar os desafios), a equipa vermelha saiu vencedora, de cabeça erguida, mas sempre espreitando as sombras em redor, não fosse um dos fantasmas do cinema seguir alguém até casa.


Mais do que merecedora do selo de aprovação e recomendação da Fábrica do Terror, a experiência Cinema Medo, criada por Michel Simeão e em coprodução com o Projecto Casa Assombrada, prometeu levantar os cabelos da nuca e arrepiar os participantes. Sem sombra de dúvida que cumpriu.


Fotografias de Guilherme Gouveia