Crítica a «The Funeral»

Estreia mundial do filme de Orçun Behram no MOTELX.

«Cemal é um homem solitário que conduz uma carrinha funerária. A sua rotina taciturna é abanada quando lhe é dada uma tarefa secreta: uma jovem chamada Zeynep foi brutalmente assassinada, e o corpo tem de ser entregue à sua família no leste do país.»

Sandra Henriques

O nosso livro está à venda!

Não sou a maior fã de mortos-vivos porque (quase sempre) os filmes do género se vão colando a tudo o que já foi feito antes. É possível (de certeza) que o problema seja meu. É por isso que entrei na sala 3 do Cinema São Jorge para ver The Funeral sem expectativas de ver um filme de zombies. E um filme de zombies ele não é, felizmente.

A solidão e autoisolamento social são capazes de nos comer por dentro, que é o pouco que percebemos da vida do protagonista Cemal (Ahmet Rifat Şungar). E é mais do que suficiente. Zeynep (Cansu Türedi) — a mulher morta-viva, assassinada de forma particularmente violenta, que ele transporta no seu carro funerário para entregar à família  —  é uma espécie de último recurso para a felicidade deste homem, que até ali apenas se deixava levar pelos dias, até que a sua própria morte chegasse.

Ao longo do filme, os dois vão desenvolvendo um relacionamento de necessidade mútua: ela, de comer carne humana; ele, de lhe arranjar alimento para que ela não o coma a ele. Vi-os como uma espécie de Bonnie e Clyde do submundo, que até fazem piqueniques à beira da estrada (provavelmente, o momento mais «fofinho» do filme, piscando o olho às comédias românticas e pervertendo o género).

Gosto de filmes com fotografia opressiva, em que o sangue não tem de ser vermelho-vivo para impressionar, nem o gore tem de ser levado ao extremo para mostrar que estamos a ver um filme de género (foi o caso). Começo a ter menos paciência para filmes demasiado longos, sem razão de o ser (também foi o caso). Dito isto, The Funeral merece ser revisitado, para descascar todas as camadas.