A cabeça é como um balão. Quando o vento sopra, ela esvoaça. Por isso, é fundamental atar um cordel do balão ao pulso e, sempre que necessário, puxar a cabeça para o seu devido lugar.

Nem sempre é assim tão fácil. Por vezes, puxamos o cordel, mas o vento é de tal maneira forte que teima em afastar o balão em rodopios dançantes que desrespeitam qualquer coreografia. E não a conseguimos assentar em cima do pescoço.

E os ventos são muitos. Os ventos das viroses, do trabalho, da escola, da administração do condomínio, da consulta, da arrumação por fazer, das obras, do dístico de estacionamento, daquela multa por pagar, da migalha que encontramos no chão, da planta que precisamos de podar, do copo que, no armário da cozinha, não está perfeitamente alinhado com os outros. Sopram de norte e de sul, de noroeste e de este. Mais raro, mas também possível, sopram de todos os lados ao mesmo tempo, e o balão rodopia, rodopia e rodopia e rodopia. Rodopia ao ponto de o galo, em cima da chaminé, por não saber para que lado imbicar, permanecer estático antes de explodir.

São estes ventos que, depois, alimentam rajadas dentro do próprio balão.

Por isso, é útil trazer um rolo de fita-cola no bolso das calças. Quando conseguimos pousar o balão, entramos na segunda fase: passar a fita em volta das pernas, amarrando-as à cadeira. Pronto. Estamos sentados. Preparados e prestes a escrever.

Só que, por vezes, a fita encontra-se demasiado apertada e o sangue não circula. Ao descolar a fita, para aliviar a pressão, largamos o cordel, e lá vai ele embora outra vez, o nosso balão. Repetimos o processo todo. Agora, com uma atenção maior. Mesmo assim, num descuido, o cordel enrola-se na fita-cola e o balão fica preso numa posição ingrata: virado para os nossos pés. Afinal, há ali outra migalha. E é preciso pagar aquela multa.