E assim nasce a Fábrica do Terror
O início da Fábrica do Terror aconteceu de forma bastante orgânica. Alguns poderiam ver o primeiro encontro dos três cofundadores como uma feliz coincidência; nós preferimos acreditar que criámos este projeto numa altura em que nos fez sentido agarrar a oportunidade.
Estabeleçamos, antes de mais, estas duas balizas no tempo: não haveria uma Fábrica do Terror sem o livro Sangue Novo: Uma Antologia. E não haveria essa antologia de terror em português de 15 autores desconhecidos sem o curso de Escrever Terror da Escrever Escrever. Nada, portanto, aconteceu por acaso.
Por um lado, foi graças ao livro e ao curso que nos cruzámos pela primeira vez. Por outro lado, foi a comunidade que se criou à volta desses acontecimentos que nos deu o apoio para seguirmos em frente, e foi nela que encontrámos as pessoas que nos ajudam a produzir todo o conteúdo que preenche este site. O Cláudio André Redondo, a Cristina Moura, o Francisco Horta, a Liliana Duarte Pereira, a Maria Varanda, a Marta Nazaré, a Patrícia Sá e Telma Cebola são nossos fãs incondicionais (e nós deles) desde a altura em que a Fábrica do Terror ainda era («só») uma ideia e um logótipo.
A história das nossas origens e do nosso nome estão mais abaixo neste artigo, mas antes queríamos partilhar convosco o que queremos que a Fábrica do Terror seja: uma montra de criadores (novos e consagrados) que atraia ainda mais criadores e que mostre que o terror em Portugal nunca morre (nem nunca «passa de moda»); um armazém (esperemos) a rebentar pelas costuras de obras de terror em português (literatura, ilustração, cinema, animação, etc.); uma fonte de inspiração onde reunimos insólitos, mitos urbanos e lendas da terrinha para mostrar que já temos «cá dentro» o que é preciso para criar obras de terror com que mais pessoas em Portugal se identifiquem; um espaço onde vamos partilhar notícias e novidades sobre concursos, festivais, lançamentos, eventos para que não se continue a achar que o terror em Portugal é qualquer coisa que só acontece de vez em quando.
Perdoem-nos a falsa modéstia, mas os sonhos não têm teto: ambicionamos que, muito em breve, se possa dizer: «terror em Portugal? Está na Fábrica».
Sobre as origens
No final de julho de 2021, dois escritores e um designer entraram numa casa abandonada, numa noite sem Lua, ao pé de um pântano com um nevoeiro denso e permanente, determinados a alimentar os monstros que se escondiam lá dentro.
Bom, na realidade, foi numa sala de Zoom, mas com o espírito de quem vai derrubar paredes e escancarar portas, enfrentar o Diabo e viver para contar a história. Ou criar um site totalmente dedicado à arte de fazer terror em Portugal.
Sabíamos que o terror português existia (e em vários formatos), mas dificilmente conseguíamos saber dele fora dos circuitos dos festivais dedicados ao género. Também sabíamos que o problema não era falta de talento e de qualidade, nem sequer o de não haver tradição de se criar terror português.
Queríamos encontrar os criadores e a sua obra sem ter de abrir duas portas erradas para chegar à certa. Mostrar que eles existem, dar-lhes palco e deixar a porta aberta para os que hão de vir. Os deuses (ou os demónios) fizeram com que os nossos caminhos se cruzassem e, numa conversa curta que se transformou numa longa e produtiva primeira reunião de trabalho, lançámos a primeira pedra deste site.
Sobre o nome
Porquê Fábrica do Terror e não casa, ou mansão, ou floresta das almas penadas? Porque, apesar de encontrar o nome certo ter sido o nosso primeiro desafio, sabíamos quais eram os nomes que não queríamos. Todos eles soavam àquele crescendo de violinos fora de tom que ouvimos segundos antes do jump scare e que nos põe o coração a sair pela boca. Para nós, o terror não é (só) isso.
O terror a sério — visceral que faz com que não afastemos os olhos do ecrã, pica-miolos que nos implanta no cérebro a dúvida do foi/não foi depois de fecharmos o livro — é tudo menos clichê. E a produção de terror em Portugal é bastante mais rica e mais complexa do que se pensa. Os fãs assumidos do género sabem-no; os que ainda estão a descobri-lo precisam de o saber.
Queríamos legitimar o terror português e que este site não fosse apenas mais uma montra ou mais uma plataforma de divulgação — já há muitos que o fazem e bastante bem. Idealizámos um lugar onde pudéssemos mostrar o que se produz de terror em Portugal e onde incentivássemos a que se produzisse mais. Um ciclo de produzir para consumir para produzir, mas sem provocar um apocalipse de mortos-vivos.
E, no dia em que o nome Fábrica do Terror saltou para o topo da (pequeníssima) lista de nomes prováveis, já não conseguimos pensar noutra coisa. A 31 de agosto de 2021, a imagem cristalizou-se naquele que é hoje o nosso logótipo, vimos fumo a sair das chaminés, e a linha de montagem começou a rodar.
GOSTASTE? PARTILHA!
Sandra Henriques
Autora de guias de viagens da Lonely Planet, estreou-se na ficção em 2021, ano em que ganhou o prémio europeu no concurso de microcontos da EACWP com «A Encarregada», uma história de terror contada em 100 palavras. Integrou as antologias Sangue Novo (2021), Sangue (2022) e Dead Letters: Episodes of Epistolary Horror (2023). Em setembro de 2023, contribuiu com o artigo «Autoras de Terror Português» para a Enciclopédia do Terror Português, editada pela Verbi Gratia. Em março de 2022, cofundou a Fábrica do Terror, onde desempenha a função de editora-chefe.