Entrevista à escritora Mafalda Santos
Autora de Conta-me, Escuridão, Do Outro Lado e Enquanto o Fim Não Vem.
«O horror tem essa capacidade de, por metáfora, mostrar aquilo que são as características dos seres humanos. Os lados mais negros da nossa psique que nos levam a coisas como o egoísmo, a ganância, a capacidade de nos atropelarmos uns aos outros para atingirmos fins. O terror é uma forma “colorida” de servir essa realidade às pessoas. Quando o vemos por essa “lente”, identificamos o horror que está em todos nós, nas nossas vidas, no mundo.»
Gostas de ler? Aqui, encontras os melhores contos de terror!
«Os Melhores Contos da Fábrica do Terror – Vol. 1»
16.50 € (com IVA)Estreou-se como autora publicada com a coleção de contos Conta-me, Escuridão, mas a carreira na escrita já vem de longe. Não se considera uma autora de género, mas os seus livros têm sempre uma pontinha de desconforto, aquela moinha que fica a martelar no cérebro de quem lê Mafalda Santos.
Nesta entrevista, falámos do seu percurso literário, do seu processo de escrita e da sua relação com as personagens, do Clube das Mulheres Escritoras e do que (não) é «ficção no feminino». No seu mais recente romance, Enquanto o Fim Não Vem, lançado em outubro de 2023, continua fiel ao seu estilo e arriscou uma classificação: um thriller surrealista.
***
Escreves para teatro e televisão, já foste atriz, tens um projeto musical e ainda arranjas tempo para escrever romances. Não me esqueci de nada?
[risos] Também tenho um filho adolescente que dá muito trabalhinho e sou uma trabalhadora como tantas outras, a tentar sobreviver.
Quando o Conta-me, Escuridão saiu, tu eras para nós (que estávamos a começar a escrever dentro do género), pelo menos na área da literatura, uma ilustre desconhecida, que estava a escrever terror português e numa editora grande. Tens noção de que este livro foi um momento pedra no charco ou esse feedback não te chegou logo, de todo, na altura?
Não me chegou de todo na altura, foi-me chegando ao longo de dois anos, lentamente. Quando escrevi o Conta-me, Escuridão, não tinha nenhuma expectativa de o publicar. Foi uma brincadeira entre mim e o ilustrador [David Benasulin] para nos distrairmos em tempo de COVID. E de repente, quando vi aquilo tudo montado, com as ilustrações, pensei: «isto era giro publicar». Mas foi com uma displicência tão grande, sem noção nenhuma de se seria possível ou não, ou o que seria necessário para lá chegar. A verdade é que, para meu espanto, e sabe-se lá porquê, tive sorte e foi fácil. Enviei o manuscrito para a Penguin, não enviei para mais nenhuma editora e, em plena pandemia, em menos de um mês, responderam-me a dizer: «temos interesse, vamos publicar». [risos] Eu sempre escrevi, mas a ideia de publicar tinha para mim, e tem, um peso muito grande. Tenho um respeito tão grande pelos escritores que admiro, e pela ideia daquilo que é ser escritor, que ainda hoje, apesar de ter três livros à venda, continuo a ter um certo pudor em dizer «Mafalda Santos, escritora». [risos] Não tenho ainda esse à-vontade, sinto que estou a trabalhar para isso, mas acho que é daquelas profissões que não é bem uma profissão. Chega-se a ela depois de muito trabalho, e esse trabalho não é com cursos que se conquista, é escrevendo e tendo o reconhecimento dos leitores, que mais nenhum interessa se não esse. Portanto, sinto que ainda estou no primeiro patamar de uma longa escada.
Vi um reel recente teu, quando o novo romance saiu, em que confessavas que não estavas nada à vontade em gravar vídeos do género, a mostrar e a falar do novo livro. Mas, porque é necessário, fazes esse esforço à mesma.
Não tenho jeito para vender nada! [risos] Não me safava a vender coca-colas no deserto. [risos] Sinto-me muito desconfortável a fazer vídeos daquele género, apesar de, devido à minha formação como atriz e encenadora, ser esperado que tivesse um grande à-vontade em frente às câmaras. Afinal, trabalhei muito em televisão. Fiz novelas, comédia, diretos no 5 Para a Meia-Noite durante cinco anos. Mas aí eram personagens. Não estava a tentar vender algo que é o meu «bébé», que me levou centenas de horas a escrever e a criar. Sinto-me exposta a tentar vender uma coisa que é minha, que saiu de dentro de mim. Fico fora de pé, mas percebo que faz parte e percebo que, para os leitores, seja importante ver esse outro lado do escritor. Percebo essa curiosidade, porque eu também a tenho.
E o Conta-me, Escuridão está no Plano Nacional de Leitura. Imaginaste ter um livro de terror no PNL?
É daquelas coisas que não sei explicar. Não faço ideia de como é que ele foi lá parar! [risos] Certamente foi alguém de lá que o leu, gostou e pensou: «não temos nada de terror português no plano e faz falta para preencher aqui uma quota». Não sei dizer… Na minha editora, também ninguém foi informado nem esteve envolvido nesta escolha. Foi algo que simplesmente aconteceu. E eu fiquei muito feliz.
Quando pesquisei os quadros que tinham originado os contos, nada faria prever que aquelas imagens fossem desembocar nestas histórias. Como é que foi esse processo? Porque sei que não estavas a pensar em escrever terror quando começaste, foi um pouco «o que saiu».
Foi o que saiu, mas eu já tinha a noção de que iria para essas zonas, porque os quadros que o David me foi mostrando tinham todos essa ambiência. Pelo menos, quando os vi pela primeira vez, transportaram-me para zonas obscuras, nebulosas. Diria que não esteve relacionado com a pandemia, estávamos todos de certa forma contagiados por um certo estado de espírito, mas não foi isso. São artistas que naturalmente me levam para essas zonas. E o desafio, o jogo para mim, foi olhar para aquele quadro como se fosse uma fotografia, tirada num momento qualquer da vida daquelas personagens. E agora conta lá a história dessas personagens começando nessa fotografia.
E deixaste-te ir. Quando estava a ler os contos, pensei: «ainda bem que foi uma mulher a escrever estas histórias», apesar de não te considerares como uma autora de género. Ainda bem que não optaste por publicar com um pseudónimo masculino, porque acho que isso foi importante. Quando estou a ler os contos, não estou minimamente focada no facto de terem sido escritos por um homem ou por uma mulher, o meu foco é na história. Tu vais ao fundo da cave e levas o leitor contigo. A escrita de terror de mulheres pode ser, mas não tem de ser, feminista ou feminina. Não temos de estar sempre a fazer disso bandeira. E tu, claramente, não estavas a pensar no livro como «escrito por uma mulher».
Acho que nem a escrita de terror nem escrita nenhuma. A escrita é uma coisa universal. É uma coisa que me faz muita espécie quando as pessoas falam na escrita no feminino, na ficção no feminino, a literatura no feminino. O que é isso? Não faço mesmo a menor ideia do que seja isso. Eu não sei o que é isto de nos sentirmos mulheres ou de nos sentirmos homens. Nós somos seres humanos, tudo o resto é uma convenção que nos é imposta culturalmente pela sociedade. A escrita é das coisas mais universais que existem. O que escrevo será um reflexo da minha vida, da minha personalidade, dos meus gostos, das minhas inquietações e nada mais. Eu só escrevo com as mãos e com a cabeça, juro-te que não utilizo mais parte nenhuma do meu corpo para escrever. [risos]
Tens razão. Acho que é muito importante estares a dizer isso, porque parece que estamos sempre a bater na mesma tecla. E estamos efetivamente cansadas de bater na mesma tecla. E olhando para a tua escrita, uma vez que também escreves para teatro e televisão, uma influencia a outra? Ou consegues separar as duas Mafaldas?
Não. [risos] Influencia-me muito. Eu comparo aquilo que faço como encenadora com aquilo que faço depois ao escrever. Como encenadora, peço aos atores que procurem a verdade e que não forcem nada, que deixem a personagem encontrar-se e desenvolver-se a si própria de uma forma orgânica, verdadeira, porque só assim é que o público conseguirá identificar-se com aquela personagem e emocionar-se com ela, rir com ela, chorar com ela, assustar-se com ela. Tem de haver essa verdade. E da mesma forma que o faço no teatro com os atores, faço essas mesmas perguntas às personagens dos livros. Cada vez que sinto que estou a ser injusta com uma personagem, ou que estou a levá-la por um caminho para a qual não a defendi, para a qual não a construí, para a qual não lhe dei ferramentas para ela se saber desenvencilhar de uma situação, apago tudo e volto a escrever. Porque sinto que não estou a ir pelo caminho verdadeiro da personagem, ou que estou a pôr-lhe palavras que ela não diria, ou expressões que ela não pronunciaria. Estou sempre nessa procura, nessa senda pela verdade. E faço muito isso. Também vem da escola do Teatro, provavelmente, a minha necessidade de ler o que escrevo em voz alta. Todos os dias começo a ler em voz alta o que escrevi no dia anterior, porque, ao ler em voz alta, há uma dimensão das palavras que se revela e que só é revelada quando é dita. Quando lemos, nem sempre temos noção da dimensão toda da palavra, para aquela personagem naquela situação. Às vezes, é só uma palavrinha que está a mais ou que precisa de ser substituída. Outras vezes, leio e sinto está tudo uma real merda e apago sem dó nem piedade. Não é fácil, mas é preciso ter essa honestidade para com as personagens e para com a história. Vou andando assim, até chegar a um ponto em que digo: OK, isto está no caminho certo, as personagens são credíveis, a progressão da narrativa não está forçada, acredito na realidade dos sentimentos que estão aqui descritos, nada está a mais ou a menos.
Facilitas um bocadinho o trabalho da tua editora [Diana Garrido] com esse trabalho de autoedição. [risos] A não ser que ela seja muito intransigente, que mude muita coisa.
Não! Comigo, pelo menos, ela é fantástica. [risos] A única coisa de que ela se queixa é que pontuo demais em vírgulas. [risos] Chama-me, carinhosamente, «o apocalipse das vírgulas». [risos] Acho que, na verdade, até já estou bem melhor, mas de facto, ao início, punha uma vírgula cada vez que, em teatro, haveria lugar a uma pausa ou respiração. [risos] Mas ela, a mim pelo menos, não corta nem muda nada.
Em duas entrevistas tuas que li, explicavas que usavas o sobrenatural como metáfora. Senti que estavas a tentar explicar às pessoas que escrever sobre fantasmas não quer dizer que acredites neles. Da mesma forma que quem escreve policiais não tem vítimas escondidas na cave. Ainda sentes essa necessidade de explicar isso às pessoas, quando isso devia ser trabalho interpretativo de quem está a ler?
Às vezes, sinto a necessidade de explicar que as coisas podem ter dois lados. E que a literatura é muitas vezes, quase sempre, muitíssimo metafórica. Eu sou a pessoa mais cética que vais conhecer na tua vida. [risos] Não acredito em Deus, na vida depois da morte, em fantasmas, em espíritos, em monstros, em bruxas, em médiuns, em nada. Acredito na ciência, na arte, mas também na maldade do ser humano e na sua infinita capacidade de surpreender e ser criativo nesse campo. O terror permite expor esse lado, de um modo mais eficaz a mexer com as pessoas do que verem telejornais. Já estamos tão habituados a esse terror real, já é tão habitual ver violência, morte e o horrendo na televisão, que estamos imunes. Passamos, vemos, mudamos de canal e não ligamos nenhuma. Neste momento, o que se passa em Gaza, por exemplo, é mais atroz e horrendo do que qualquer coisa que eu algum dia sonhe escrever. O que se passa lá ultrapassa todos os limites do horror. E é também por isso que o terror como género é tão importante: tem o poder de, por metáfora, mostrar o pior dos Homens. Os lados mais negros da nossa psique que nos levam a coisas como o egoísmo, a ganância, a capacidade de nos atropelarmos uns aos outros para atingirmos fins. O terror é uma forma «colorida» de servir essa realidade às pessoas. Quando o vemos por essa «lente», identificamos o horror que está em todos nós, nas nossas vidas, no mundo.
No Do Outro Lado, fizeste-me odiar o Gabriel quase até ao fim do livro, ele é um panhonha. No desfecho, até tem uma atitude humana para com a Sara, mas na realidade provavelmente fez mais mal do que bem. Eu sei que este teu primeiro romance está classificado como uma distopia, mas ele vai novamente ao fundo do lado mais negro do ser humano. Era aquele o final que querias para a história?
Não tinha um final pensado, tal como nunca tenho. Vou sempre às escuras. O que me dá prazer na escrita é ter uma ideia-base do que quero que seja o motor da história, e depois ser levada por ela. Isso, para mim, é o prazer da escrita. Há escritores que começam por escrever a última cena. Para mim, era espetarem-me uma faca no coração! [risos] Seria impensável. Sim, o Gabriel é um panhonha, é um anti-herói, e há uma frase, que é a minha preferida do romance todo, que diz: «Impressionante como o tempo tem essa habilidade de nos enganar, colocando um filtro de enaltecimento e de beleza em tudo o que, sendo do amor, ficou mal resolvido para trás. Retirado esse filtro artificial, restam somente os factos e as pessoas, que, feitas de ossos, pele e vícios, quase sempre desiludem».
Acho que na vida real existem muitos mais anti-heróis do que heróis, não acredito muito na figura do herói. Ou, pelo menos, no herói que é sempre herói, no bom que é sempre bom, ou no mau que é sempre mau. Ninguém é sempre mau, ou são raros os casos. E mais raros ainda os casos em que alguém é sempre bom. Sempre bom é que ninguém é, de certeza absoluta! [risos] Gosto mais de jogar com isso e de pôr personagens que, à partida, até seriam gente decente, mas que, naquelas circunstâncias, revelam um enorme egoísmo e se transformam. E já chega de personagens masculinas que são grandes heróis na literatura! É preciso mostrar uns que não o sejam. [risos]
Eu sei que não gostas muito de te ligar a um género, mas como é que classificarias o Enquanto o Fim Não Vem? Vou reconhecer o estilo da Mafalda Santos ou foste por um caminho completamente diferente?
Vais. É um livro muito imprevisível. Não existe esta classificação que eu te vou dar, mas, a existir, seria um thriller surrealista. E não posso revelar mais, porque é um daqueles livros em que tudo o que eu diga é spoiler.
Tens lançado um livro por ano. Qual é o próximo romance da Mafalda Santos, para 2024?
Estou a ver se consigo manter esse ritmo [de um livro por ano]. Não é fácil, mas, como tenho um trabalho que me permite gerir o meu próprio tempo, acabo por conseguir. Há períodos mais complicados, que acontecem quando estou a encenar, o que aliás aconteceu recentemente. Entre setembro e novembro, estive fechada num teatro o dia todo e não escrevi praticamente nada. Foi horrível, porque pensava: «tenho ali aquelas personagens todas à espera e não estou a ir lá ajudá-las». Isto vai fazer sentido quando leres o Enquanto o Fim Não Vem. [risos] Tirando isso, como sou guionista e trabalho em casa, consigo gerir o meu tempo e, no meio de outras coisas, vou escrevendo os meus livros. Acredito que, em outubro de 2024, estará a sair o romance que está agora a dois terços. Sei que estou na reta final.
Estás satisfeita com o rumo da história, já estás preparada para chegar à meta?
Não. [risos] Tudo o que tenho escrito até agora estou certa de que está bem, porque vou lendo e vou fazendo essa lavagem, essa reciclagem à medida que avanço. Mas se te mostrasse o que escrevi até agora, saberias tanto como eu. [risos] Estou num momento delicado da história, em que estou a ver por onde posso ir, sem forçar a narrativa. Há fases em que a minha escrita é compulsiva, rápida, e depois há outros momentos em que parece que cheguei a um beco sem saída, e me afundo num pântano qualquer, em areias movediças, e avançar é um processo terrivelmente lento, difícil e pantanoso. Eu estou aí.
É importante que estejas a ter essa honestidade e abertura em relação ao teu processo de escrita, porque há imensa gente que acha que escrever não dá trabalho. Quase o mito do Fernando Pessoa, que escrevia de forma compulsiva e obsessiva.
O Fernando Pessoa era um génio e era louco, e negligenciou todos os outros aspetos da sua vida para viver obcecado com a escrita.
Falta-nos, ainda, falar do Clube das Mulheres Escritoras, que ainda não tem um ano, mas que é um movimento com muita atividade. Além da divulgação das agendas e dos eventos de cada escritora, ainda têm uma newsletter literária, mensal, com textos inéditos vossos.
A Filipa Fonseca Silva surgiu com 12 temas para o ano todo e inscrevemo-nos para os meses que queremos escrever, ou para ser revisora e editora. E está a funcionar muito bem. É um grupo onde não sentimos que haja, de forma nenhuma, competição. Todas estamos ali para nos apoiarmos, verdadeiramente. Se há algum tipo de picardia, é no sentido de «ela lançou agora um livro novo e eu estou parada, não pode ser». Puxamos umas pelas outras nesse sentido, vamos às apresentações umas das outras. Em breve, teremos um site também, e vamos começar a ter encontros com leitores.
E quem nos dera a nós que não fosse necessário ter um Clube das Mulheres Escritoras. Ele existe porque é necessário, porque ainda há uma diferença muito grande na forma como uma escritora mulher, especialmente se for jovem, é vista e tratada. Quer pelas editoras quer pelos próprios leitores. Há um preconceito tremendo para muita gente. Colado ao nome de uma mulher na capa de um livro, cola-se logo uma nota mental que diz «isto deve ser uma historieta de amor para entreter donas de casa porque é escrito por uma miúda de 40 anos». Quando, se fores ver o repertório de livros das mulheres do Clube das Mulheres Escritoras, são muito raras aquelas que escrevem sobre amor. O amor é mais temática dos homens. [risos] A maioria das mulheres não tem tempo nem vida para andar um ano ou mais a escrever sobre amor. Temos outras coisas em que pensar, outras coisas que nos afetam muitíssimo mais e que queremos contar.
Na Faculdade, tinha uma professora de literatura que nos dava textos sem o nome do autor. E o objetivo era analisarmos o texto pelo texto, sem influência do estilo, ou do género, ou do autor. Devíamos começar a fazer isso.
Sabes que eu propus isso mesmo a um autor com quem estive num evento recente, que às tantas se referiu à nova vaga da fantasia e ficção literária em Portugal: a ficção no feminino. Dizia ele que as mulheres têm uma sensibilidade diferente da dos homens e que isso se nota nos livros. Ora, isto não me faz sentido nenhum. Aliás, desafio qualquer pessoa a fazer Pepsi challenge literário! Tenho a certeza de que ninguém que lesse textos de Clarice Lispector, Virginia Woolf ou Caryl Churchill, por exemplo, conseguiria dizer com certeza se haviam sido escritos por homens ou por mulheres. Não há nada necessariamente mais doce ou mais delicado na escrita de uma mulher do que na de um homem. Isso é um absurdo e está completamente ultrapassado. É terrível que escritores em 2023 ajudem a propagar essa ideia. Chega a ser confrangedor. No Clube das Mulheres Escritoras, queremos muito combater essa ideia, porque é uma ideia que nos reduz a todos, e à própria inteligência dos leitores.
Acho que há sempre uma pontinha de horror na tua escrita, nada de coisas doces. Disse isso no artigo sobre o Conta-me, Escuridão, tenho pena que não queiras assumidamente escrever dentro deste género, mas respeito a tua escolha. Gostava muito de ler um romance de horror teu. Fica o desafio.
Mas olha que este último romance, não sendo nem de perto nem de longe terror clássico, se fosse adaptado a cinema, seria, muito provavelmente, classificado como terror.
GOSTASTE? PARTILHA!
Sandra Henriques
Autora de guias de viagens da Lonely Planet, estreou-se na ficção em 2021, ano em que ganhou o prémio europeu no concurso de microcontos da EACWP com «A Encarregada», uma história de terror contada em 100 palavras. Integrou as antologias Sangue Novo (2021), Sangue (2022) e Dead Letters: Episodes of Epistolary Horror (2023). Em setembro de 2023, contribuiu com o artigo «Autoras de Terror Português» para a Enciclopédia do Terror Português, editada pela Verbi Gratia. Em março de 2022, cofundou a Fábrica do Terror, onde desempenha a função de editora-chefe.