Entrevista a Tito Fernandes, realizador de «Incubus»

Vencedor do prémio de Melhor Filme Português e Melhor Curta-Metragem de Cinema Fantástico no Fantasporto 2023

«Este filme é a manifestação de 10, 15, 20 anos de preparação, desde os estudos até chegar aqui.»

Cláudio André Redondo

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Conversámos com o realizador português Tito Fernandes na manhã a seguir à estreia da sua curta-metragem, Incubus, no 43.º Fantasporto. O filme de Fernandes conseguiu a proeza de arrecadar os prémios para melhor filme português e melhor curta-metragem de cinema fantástico.

 

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O que nos podes dizer sobre o filme Incubus, sem revelar muito da história para quem ainda não teve oportunidade de ver esta curta?

É na realidade um drama, disfarçado de horror. É uma tentativa de congregar um monte de cenas que me afetam como homem, como ser humano, tentar dizer algo importante de uma forma leve, o que talvez seja estranho porque são temas puxados e, às vezes ,é mais impactante se usares outro tipo de mecanismo. Para mim, foi o horror. O horror ajudou-me a disfarçar, para o filme não ser tão puxado, mas ajudou-me também a entregar a mensagem como sempre intencionei. Para isso, rodeei-me de uma equipa técnica muito variada, equilibrando homens e mulheres em várias áreas . Temos homens e mulheres a trabalhar nos cargos mais importantes, que é para não ser só a perspetiva masculina, tendo em conta que parte da narrativa é um problema que afeta a mulher na sociedade atual.

Como surgiu esta história?

Em 2019, enquanto estava nos Estados Unidos, tive uma reunião com pessoal [que trabalhava em terror] e desafiaram-me a fazer um filme de terror, para provar que conseguia fazer umas coisas que assustam, criar tensão. Tive várias ideias para slashers, os típicos jump scares, mas o terror psicológico, que é caso do nosso filme, acaba por ser aquele com que mais me identifico como criador e como espectador. Por causa disso, tentei agradar às pessoas que queriam que eu provasse alguma coisa e tentei agradar-me a mim. A forma como eu presto esse serviço a mim próprio foi a desafiar-me como realizador e como escritor, e tentar fazer algo que me pusesse num lado desconfortável. Como já viste o filme, deves ter percebido que contar uma história com um ator, sem diálogo, num espaço minúsculo, é complicado em 15 minutos. Esse foi o desafio que me deu um gozo tremendo: como é que eu me posiciono neste espaço, e dentro da cabeça da personagem, e como é que isso se manifesta no processo de tensão, no processo de absorção naquele espaço fílmico de claustrofobia, de medo, de calafrios. Tentei entrar ali dentro da psique da audiência. Espero ter cumprido isso, talvez não com todas as pessoas, mas pelo menos com algumas. [risos].

Como foi o teu percurso até aqui? Porque, neste momento, não trabalhas em Portugal.

Eu cometi o erro grave de estudar cinema em Portugal, sem dizer às pessoas que me conheciam que estava a estudar cinema, porque nós não temos uma tradição assim tão forte como outros países têm em cinema. Ao estudar cinema em Portugal, senti que seria a formalidade que precisava para dizer «não, eu estou a levar isto a sério», percebes? É isto que eu quero fazer. Estudei cinema na Covilhã durante quatro anos. Depois, a realidade começou a vir ao de cima, tendo em conta o processo de financiamento em Portugal, e [pensei] «eu nunca vou fazer filmes em Portugal, não é uma vida sustentável». Mas não queria desistir, e então tive de sair. Continuei os meus estudos, um segundo mestrado no Reino Unido em efeitos visuais, que é uma paixão que tenho paralela ao cinema. Em todos os filmes que fiz, mesmo com 16 anos, andava já a brincar com os computadores e a contar histórias dentro de programas de 3D. Foi algo que foi evoluindo e sempre necessitei de efeitos visuais para realçar as minhas histórias. Acabei por tornar isso a minha carreira. Com filmes como Harry Potter e The Chronicles of Narnia, Londres passou a ser um hub enormíssimo, que atraiu muito talento, e foi na altura dessas franchises que acabei por ir estudar no Reino Unido. Depois disso, a evolução natural foi ir para Londres, já que tinha estudado efeitos visuais e tinha o background todo em filmmaking. [Fui] com a perspetiva de ver se funcionava, nem que fosse para fazer dinheiro para fazer os meus filmes. E acabei por enveredar na pós-produção, na execução ao mais alto nível de efeitos visuais para contar as histórias modernas. Porque toda a gente usa efeitos visuais, até a publicidade. E estava no lugar certo. As pessoas lá foram-me reconhecendo não só como artista, mas um artista que tem este background como cineasta. Sou, acima de tudo, um cineasta. E o resto vem por acréscimo. O pessoal reconheceu esse cruzamento e foi aí que a minha carreira explodiu, porque perceberam que me podiam pôr numa sala a conversar com o Christopher Nolan ou com o JJ Abrams, com eles a respeitarem-me, porque estávamos a falar a mesma linguagem. Foi aí que isso passou a ser o meu ganha-pão. Nesse processo, aprendi muito. Aprendi a ser um realizador muito melhor porque percebo a tecnologia e o que é que a tecnologia me pode trazer. E acabei por fazer uma curta-metragem de ficção científica que foi reconhecida em Los Angeles, cujos direitos foram comprados para ser desenvolvida numa longa-metragem, e estamos a desenvolver isso. Foi nessa circunstância que me desafiaram para fazer o filme de terror. E os efeitos visuais, como viste, fazem parte do filme, porque a minha equipa também me obrigou a fazer isso. [risos] Eles não disseram «tem de ter uma criatura», mas disseram que tinha de ter efeitos, porque é o meu unique selling point. Mas o meu objetivo era fazer o filme o mais distante possível dos efeitos visuais. Por isso, acabei por misturar as duas. Para mim, o perfeito é misturar as duas tecnologias e as disciplinas todas, que foi o que acabei por fazer com este — 90% é filmado em câmara, incluindo um dos planos do braço da criatura, que foi esculpida na minha garagem. Na minha opinião, os melhores efeitos visuais vêm de misturar a realidade e aumentar essa realidade em pós-produção. Não só pós-produção e não só efeitos práticos. É nessa dualidade, nessa cross-contamination, que sinto que está a magia do cinema, quando tudo vem para ajudar ao projeto final. E foi o que tentei fazer. Agradei à minha equipa, porque eles me pediram para fazer isso, mas também explorei outros mecanismos que são clássicos do cinema de terror. Agora, encontro-me neste cruzamento entre pós-produção e tentar fazer filmes por mim próprio, e este filme é a manifestação de 10, 15, 20 anos de preparação, desde os estudos até chegar aqui.

Dizes que já tinhas o background como cineasta e agora estás a trabalhar como artista de efeitos visuais. Sinto que, em Portugal, o estudo do cinema é muito abrangente, nós estudamos todas as áreas, enquanto no estrangeiro é muito focado numa área específica. Sentes que teres estudado cá foi uma mais-valia?

O primeiro filme que fiz, aos 16 anos, foi na altura em que a primeira câmara digital saiu para o mercado doméstico. Sou um filho do advento digital e agarrei-me logo àquilo. E a minha carreira tornou-se uma carreira digital, o que é engraçado. Mas o que lá fora se faz, o que me permitiu crescer, foi isso — a multidisciplinaridade e o quanto as pessoas dedicam uma carreira a uma arte específica. Como realizador, isso é importantíssimo. É precisamente nessa gestão de artistas de qualidade, e saber gerir e misturar, pô-los à bulha e separá-los, que está a parte divertida de realizar. Fazer um bom filme é saberes rodear-te das pessoas corretas, nos departamentos corretos, e dares as responsabilidades máximas às pessoas em quem mais podes confiar. Mas o processo, em si, aprendi antes de chegar à universidade, mesmo aqui em Portugal. Não aprendi a fazer filmes no curso de cinema; aprendi a fazer filmes fazendo filmes. O que aprendi na universidade foi a pensar sobre a vida, a pensar nos filmes e a projetar o pensamento além. Para mim, isso é a universidade. Ajuda-te a chegares ao pensamento universal. Eu tive [cadeiras de] Epistemologia, Ética, Psicologia Cognitiva. Foi isso que me fez tentar compreender a condição humana. Aprendi a pensar sobre o ser humano, aprendi a ver filmes melhor. Agora, o objetivo é «eu sei fazer filmes, porque já fiz muitos, já ajudei a fazer muitos», aprendi a pensar. E, à medida que vais amadurecendo, também aprendes a perceber onde é que te situas neste mundo. Portanto, agora, o meu trabalho é encontrar histórias que me permitam trazer isso tudo para dentro de uma redoma de vidro e manipulá-lo ao ponto de fazer algo que seja interessante para o ser humano, ou para quem esteja interessado nos temas atuais. E este [Incubus] é um exemplo claro de tentar comprimir a condição humana, the bare minimum.

Sei que é muito difícil fazer filmes em Portugal, mas o ensino cá parece deixar os técnicos portugueses mais bem preparados do que outros lá fora. Daí ter feito essa pergunta.

Sou supervisor de efeitos visuais, vou a muitas rodagens e faço muitas rodagens na Europa toda. E, em 15 anos de carreira, só fiz uma em Portugal. [risos] Eles filmam muito aqui, em Lisboa [sobretudo], e, quando vim cá pela primeira vez, realmente senti que as equipas estão ao nível de muitas equipas técnicas que encontro na Europa de Leste e Espanha, e que estão ali a rodar filmes o dia todo. O que senti também foi que, apesar de termos bons técnicos, bons pensadores de cinema por trás das câmaras, a maquinaria não está ainda ao nível. Tens o poder intelectual e o poder artístico, mas faltam-te as ferramentas certas. Esse é sempre o meu debate e só experimentei uma vez. E já senti isso mesmo como estudante. Temos um potencial tremendo e a realidade é que o português chega lá fora e vinga, porque tem as ferramentas certas. Depois, é um pouco de overcompensating, no sentido de «eu nunca tive isto até agora», e quando apanhas aquilo consegues fazer mais do que toda a gente, porque tens aquela energia acumulada. [risos] O digital revolucionou isto tudo, porque democratizou o processo, o acesso a câmaras, o melhoramento do som. Já não há desculpas a dar, agora é fazer. Acho que Portugal está finalmente a par da Europa. Eu sei que, por causa da ditadura, estávamos fechados culturalmente. Eu queria comunicar e não conseguia, parecia que estava preso. Por isso, tive de sair. Mas agora já começo a reconsiderar a minha ida para fora. Já conversei muitas vezes com a minha mulher sobre voltar para Portugal, não só pelos benefícios fiscais [risos], mas as mais-valias da comida, da família, do clima. A realidade é que o país mudou e sinto isso no cinema também, sinto isso na publicidade. Vejo publicidade muito mais bonita e smart aqui do que no Reino Unido. A mensagem é muito mais interessante e a qualidade está lá. O João Canijo, agora, está a colher os frutos do digital, desta revolução. É um cineasta absolutamente sólido. Mas é pena estarmos sempre na cauda. Espero um dia poder vir cá e fazer um filme em língua portuguesa, explorar o nosso país, esta luz maravilhosa, e tentar elevar o nosso cinema ao ponto de estarmos no mesmo mapa. Veem-se pessoas como Alba Baptista, Joana Ribeiro, que estão a ter estatuto internacional através da Netflix. O digital está a revolucionar tudo e está a dar-nos a oportunidade de finalmente comunicar como criadores, e isso é bom. Espero um dia poder contribuir para o tecido cultural português, se me derem essa oportunidade. Mesmo que seja só filmar no país, mesmo que seja um filme em língua estrangeira.

Estás a pensar adaptar o Incubus a uma versão longa? Porque eu sinto que a história está toda contada ali. Como seria transformar isso numa longa-metragem?

Tens toda a razão. Eu não quero fazer uma longa-metragem disto. O filme está feito, acabou, nunca mais quero tocar naquele assunto pelo menos durante algum tempo. A tua interpretação é correta. A minha equipa nos Estados Unidos quer que eu transforme isto numa longa-metragem. E eu estou a rebelar-me contra isso. [risos] Conto milhões de histórias antes de tocar nessa outra vez. O que Hollywood quer é produto que possa ser vendido. Eu fiz o filme para mostrar às pessoas com quem falei o que posso fazer. Já provei e já avancei. E já os convenci de que não é por aí. O que estou a tentar fazer, com este carimbo no passaporte, é voltar a ter essas conversas que tive em 2019, e ver se há alguém que tenha os direitos de um livro com o qual me possa identificar como criador e como realizador, que veja o que posso trazer tendo em conta estas competências todas que tenho, que vai da pré à pós-produção. Dão-me o dinheiro e eu entrego o produto sem problema nenhum. E é isso que vou tentar usar, este processo. Ter tido esta sorte da exposição que tive nestes festivais, as seleções oficiais e os prémios… Tudo isso vai ajudar nessas conversas, porque vão ver que «não só ele provou que sabe fazer, mas as pessoas gostam». Mas nunca vou fazer a longa-metragem do Incubus.

Gosto dessa mentalidade, porque acho que infelizmente há muito a tendência de querer estender uma história ao ponto de deixar de funcionar. Tinha receio disso com este teu filme, porque te ouvi falar disso, e gosto de te ouvir dizer que não, porque sinto que a história está toda contada.

Sim, está. Tem princípio, meio e fim, e acabou. O meu projeto anterior — que era um filme de ação, aventura, ficção científica, história coming of age, com uma rapariga a descobrir o seu papel no mundo, a sua sexualidade, essas coisas todas, com robôs e tudo isso — foi uma prova de conceito, não foi apenas uma curta-metragem. E foi para dizer que gostava de fazer essa longa-metragem. Mas o Incubus é uma curta-metragem. E nunca mais quero tocar naquilo. Podemos pegar e fazer derivativos, o monstro não tem de ser exclusivo daquela história e daquele problema, a metáfora do trauma. Mas eu mostrei as coisas, eram assuntos que me perturbaram: a paralisia do sono, que é uma condição de que muitas pessoas sofrem, e a criatura demoníaca que faz parte das crenças pagãs e que vem muito da ignorância. Quando cresces num país que é super religioso, sentes sempre alguma culpa católica a tua vida toda. São coisas com que eu sempre me debati. Acabei por misturar tudo isso e, quanto mais pesquisa fiz, mais consegui encontrar ligações entre os incubus e a paralisia do sono. Usei isso como mecanismos metafóricos para uma personagem que está em descontrolo absoluto. Adorei esse processo, é catártico; mesmo pessoas que trabalharam no filme e que já foram vítimas, sentiram isso. Quando fazes um filme que fala às pessoas a um nível muito íntimo, é a melhor sensação que um gajo pode ter como criador, sentir que o filme tem alguma mensagem com que as pessoas se relacionam a nível traumático. Basta uma pessoa dizer-me isso para eu sentir que fiz bem o meu trabalho. Sentes que contribuíste, que a tua voz serviu para alguma coisa.

Disseste há pouco que fizeste este filme de terror porque foste desafiado. O terror é algo que queres voltar a repetir, ou foi só mesmo pelo desafio?

O meu primeiro filme, quando tinha 16 anos, é um rip off do Blair Witch Project, com os meus amigos de infância. [A história de] três miúdos que vão para a mata, inspirados pelo conto O Tesouro do Eça de Queirós. Na altura, o meu irmão escreveu a continuação da história desse conto e eu peguei nisso. Filmei a história de três amigos que reencontram esta lenda, que são comidos pela raiva e pela ganância. Portanto, terror foi onde eu comecei. Muitos dos realizadores que eu mais admiro começaram pelo terror. E realmente sinto que o terror era uma arte menor, sempre aquele género que nunca é considerado nos Óscares, mas, pela primeira vez, sinto que, nos últimos 10 anos do cinema, o terror passou a ser um género sério. Com filmes como The Babadook, It Follows, Get Out, A Quiet Place. Esses filmes estão a solidificar o género do terror dentro do cinema. Foi por causa disso que acabei por fazer o filme que fiz. Senti-me confiante de que as pessoas estavam preparadas para receber um filme sério dentro do género que nunca foi levado a sério. Se esse é o percurso que está a ser traçado neste momento, é exatamente esse o percurso que eu quero percorrer. Se tivesse feito o Incubus como drama, tinha-me desgraçado. Porque é um assunto muito delicado. Senti que o horror, nesse aspeto, me permitiu contar uma coisa que é muitíssimo delicada de uma forma leve. E normalmente é o contrário, tentas usar o terror para dar peso à coisa. Contei a história de uma forma mais metaforizada, mas sempre com aquela sensação de murro no estômago que queria passar. E o drama não me permitia isso. Aprendi muito com o género em si — e agora estou viciado. [risos]

Como achas que as pessoas te veem como criador de terror, aqui em Portugal? Notas reconhecimento ou não valorizam por ser um género «menor»? Calculo que lá fora  seja diferente.

Há uma razão muito maior pela qual eu saí deste país, mas acaba tudo por ir dar ao mesmo. O problema em Portugal é exatamente esse. Somos muito apaixonados por nós próprios, mas esquecemo-nos de dar importância a nós próprios. Sinto que, por estar lá fora, as pessoas me dão mais valor do que se estivesse cá dentro. E esta dissonância é triste, porque acredito que temos muito mais potencial do que muita gente que anda aí a fazer coisas. E o mesmo se reflete no género [do terror] em si. A forma como o terror é classificado em Portugal é quase igual à forma como o cinema português é classificado em Portugal. Tem um valor menor porque as pessoas não acreditam, e o português é uma língua complicada de se ouvir no ecrã. Eu sinto isso. Mas, se fizer a comparação direta à música, sinto que ela está a evoluir muito mais rápido do que o cinema. A nova geração já não é Silence 4, que está a tentar cantar em inglês. Dá-me orgulho saber que as novas gerações estão a pegar no português e não têm medo dele, enquanto os millennials estão na fase de sobrecompensação do pós-ditadura e dos pais que deram aos filhos tudo aquilo que não tiveram. Nós somos aquela geração que passou do analógico ao digital, de pais que sofreram muito quando eram pequenos e depois deram tudo e demais aos filhos. Acho que a nossa geração é uma geração um bocadinho perdida. E o horror é o género perdido dentro do género. Em Portugal, o cinema ainda continua a ser a arte mais perdida. [risos] Mas porque depende de muito dinheiro, de financiamento, e requer muitas artes e muitas pessoas. Por defeito, o cinema é sempre uma coisa muito complicada, pela escala que tem. As artes são individuais e intimistas, mas o cinema não é. O cinema é uma arte coletiva. No dia em que faça uma longa-metragem, terei todo o gosto em fazer a estreia mundial aqui [no Fantasporto]. Não no Sitges, ou noutro lado qualquer — no Fantasporto. Porque é a minha casa. Como miúdo, e já adulto, sempre olhei para o Fantasporto como a entidade máxima da projeção de cinema português no mundo. Era o cume da montanha, onde eu queria pôr uma bandeirinha, e lá consegui. Sinto-me muito orgulhoso.

O que nos podes dizer sobre projetos futuros?

A longa-metragem de ficção científica está a ser desenvolvida nos Estados Unidos, porque a curta era uma prova de conceito, como te disse. Não tinha argumento escrito, porque sou disléxico; escrevo com a câmara. O défice que tenho com a escrita é compensado pela destreza que tenho atrás da câmara. Tive a sorte de ser reconhecido lá. Os Russell Brothers abriram um estúdio em Hollywood, viram o meu projeto e gostaram dos efeitos visuais e do world building a que eles estão habituados. Então, acharam que seria interessante adquirir os direitos para tentar desenvolver aquilo. Já assinei contrato como realizador, mas Hollywood é Hollywood, é on e off. Nunca se sabe. Já é um processo que tem quatro ou cinco anos, mas o terror é aquela avenida menos complexa. É um género que é mais simples de se financiar, de se tornar realidade. Isto é uma exploração para mim, também. Ou aquele acaba por sair primeiro ou acabo por fazer uns quantos filmes de terror antes de sair o de ficção científica. A ver vamos. O meu objetivo é completar o circuito de festivais com o Incubus, que fecha aqui no Fantasporto, e daqui a dias vou para Los Angeles, passar três semanas e bater às portas, dizer «olá» às pessoas e ver se há ali alguma coisa em que posso colaborar, que possa ser desenvolvida. Se for o caso, pode ser que, daqui a uns anos, esteja de volta com uma longa-metragem e teremos uma conversa nova.