Entrevista ao ilustrador Nuno Pinto

Cenários dantescos com aura Lusitana.

«O ponto-chave foi talvez a Covid, em que tudo parou e eu aproveitei para dar de mim quase 15 horas por dia em modo compulsivo, a trabalhar a óleo, ou sakura, carvão.»

ENTREVISTA: CLÁUDIA MAIA

Nuno Pinto, 46 anos, natural de Lisboa, desde cedo se sentiu absorvido e fascinado pelo universo transcendente da arte. Desenvolve projetos de ilustração e pintura, que partilha na sua conta de Instagram Belial Necroarts. Este autodidata é, sem dúvida, um artista a reter.

Apesar da sua magnificência, está ainda na penumbra, até porque se dá muito pouco a conhecer, mas conseguimos, em exclusivo, que o Nuno respondesse a algumas das nossas perguntas por e-mail.

 

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Iniciaria por te perguntar se identificas algum momento-chave no qual tenhas despertado para a pintura?

A pintura surge ainda em criança, com o fascínio pelos quadros que via em casa de familiares. Não sei porquê, não consigo explicar, mas dava por mim a olhar horas a fio para imagens emolduradas. Muitos deles não passavam de estampas baratas compradas em alguma casa de móveis.

 

Tens ideia de quanto tempo dedicas ao desenho e à pintura diariamente?

Nos últimos 6 anos, foi uma média de 10 horas por dia a desenhar ou pintar. Fazendo as contas, são imensas, nem sei precisar, mas foi um objetivo que coloquei a mim mesmo e ainda não está atingido. Talvez nunca estará.

Sentes-te apoiado? Consegues viver apenas da arte?

Os apoios são nenhuns, na verdade. É uma vergonha o apoio às artes num país que não financia em nada a procura e promoção de novos artistas. Vivo unicamente da minha arte, contando com o apoio de bandas e editoras. As redes sociais ajudam bastante na propagação do trabalho que vou fazendo.

 

Sei que houve um interregno. Como decorreu esse processo?

Nunca parei de desenhar, na verdade, mas sim de pintar. Tudo devido à atividade profissional e familiar, mas fui sendo desafiado por amigos para fazer capas de álbuns e desenhos para t-shirts e assim começou de há uns anos para cá. O ponto-chave foi talvez a Covid, em que tudo parou e eu aproveitei para dar de mim quase 15 horas por dia em modo compulsivo, a trabalhar a óleo, sakura, carvão.

 

Como vês o panorama do terror nacional?

Eu estou mais atento ao cinema e à música e, nesse aspeto, o terror nacional está cada vez melhor. Melhor até mesmo que muitas produções estrangeiras feitas com muito mais apoios. Mais do que efeitos especiais medíocres de green screens, gosto que por cá recorram mais à caracterização dos atores e à ambiência em volta da história.

 

Para terminar, podes revelar um pouco em que projetos estás a trabalhar agora?

Não tenho nada de concreto, porém, tenho vários desejos e planos mentais:

fazer uma exposição de óleo sobre o Mar e o Inferno, onde já tenho alguns trabalhos feitos e reservados para esse fim; trabalhar mais no projeto de sonoplastia e design de som que tenho com o meu amigo Ricardo Toukos, para filmes, etc.; e continuar — e se possível aumentar — o volume de projetos que desenvolvo para bandas e editoras, que consistem na criação de artes para os seus lançamentos e também para outros que tenho em nome próprio, como é o caso de Concilium e Blasphemous Fire.