Entrevista ao realizador Fábio Rebelo
Uma visão mais incisiva sobre a carreira do cineasta.
Fábio Rebelo, realizador premiado, apresenta-nos um olhar mais detalhado acerca do seu trajeto no cinema, bem como as suas influências e novos projetos dentro do género do terror.
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16.50 € (com IVA)Nascido em Lamego, Fábio Rebelo frequentou a licenciatura de Cinema, Vídeo e Comunicação na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.
Em 2017, começou a sua carreira profissional na AMA – Academia Mundo das Artes, através de um estágio curricular. Atualmente, desempenha o cargo de diretor técnico, tendo realizado, produzido, filmado e editado mais de 40 projetos.
Em 2019, foi argumentista e realizador da curta-metragem Mata, que venceu o Prémio de Melhor Curta Portuguesa de Terror no MOTELX 2020.
Ainda no mesmo ano, a curta-metragem Mata arrecadou dois prémios no 3in1 Film Fest — Melhor Muito Curta e Melhor Filme Português, tendo sido selecionada para o prémio Méliès de ouro do Festival de Sitges. Em 2020, realizou a curta-metragem Traço, que teve a sua exibição no festival YMOTION Festival de Cinema Jovem de Famalicão. Em 2022, escreveu e realizou a sua primeira longa-metragem, Luz de Presença.
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Tens já um variado percurso dentro da área cinematográfica. O que te levou a este caminho?
Sempre tive um fascínio pela arte da representação e sonhava, em criança, poder vir a ser ator, apesar de a minha infância, e adolescência, ter sido intimamente ligada ao desporto semiprofissional. Esse fascínio pelos atores advinha de uma ideia errada que eu tinha — a de que eram eles que filmavam e criavam tudo o que constituía um filme, série, etc. Quando cresci e percebi como as coisas realmente funcionavam, e qual o papel do realizador, percebi que seria isso que queria fazer. Essas eram as funções que eu queria, realmente, desempenhar.
Qual é a tua relação com o cinema de terror? Nutres alguma predileção por este género?
É, de facto, o género que, enquanto espetador, mais gosto de ver. Já enquanto realizador, tenho vindo a abordar diferentes temas e histórias, mas existe sempre, e certamente continuará a existir, um projeto que se enquadre no cinema de terror. De onde vem esta necessidade? Não tenho uma resposta, mas, até aos meus 10 anos, dormi sempre de luz acesa, porque tinha medo do escuro, e nas sombras imaginava monstros — pelo menos é o que contam os meus pais. Se tivesse de apostar, diria que surge desses tempos.
Em 2020, ganhaste o prémio MOTELX para melhor curta de terror portuguesa, com o filme Mata. Sentiste esta distinção como um incentivo para continuar a trabalhar dentro do género?
Não senti como um incentivo para continuar dentro do género, porque já tinha feito alguns filmes de terror. E mesmo depois da curta Mata, antes do festival, já tinha feito outros. O que o festival me deu foi motivação e inspiração para arriscar mais e sair da minha zona de conforto. Poder mostrar aquele filme para tantas pessoas, numa sala tão grande como a sala Manoel de Oliveira, foi um ponto de viragem na minha perceção do que poderia fazer dadas as minhas limitações, tanto técnicas como artísticas.
Que tipo de histórias ou narrativas te atraem mais?
Cingindo-me ao género do terror, gosto particularmente do medo do desconhecido. Quando não sabemos bem o que é o «monstro». A falta de controlo, de conhecimento sobre o «perigo», é algo que, a mim, me dá muito medo e, logo por aí, fico agarrado à história.
Como vês o estado do cinema fantástico, e mais propriamente de terror, no que diz respeito a produções nacionais?
Vejo com muito respeito. Qualquer pessoa que vá por esse caminho, que faça um filme, seja longa ou curta, fá-lo certamente com muito amor e dedicação. Porque não há outro motivo para, no nosso país, fazermos algo de género. Gostava de um dia poder ir ao cinema e ver um filme de género português, com o mínimo de condições para a sua produção que tantos outros géneros de cinema conseguem. Não sou muito otimista nesse sentido. Mas acredito que quando temos uma história para contar, e queremos muito contá-la, ela acaba por ganhar vida, independentemente de tudo.
Quais são as tuas referências dentro do terror, independentemente da categoria ou expressão artística?
Durante o tempo em que comecei a fazer filmes, houve uma espécie de mudança no cinema de terror, com o aparecimento do Jordan Peele, Robert Eggers e Ari Aster. Sendo meus «contemporâneos», e fazendo filmes a uma escala que de momento é apenas um sonho, olho para eles como uma inspiração, apesar de nem todos os filmes que fazem serem do meu agrado. Mas diria que neste momento — e é algo relativamente recente que me foi recomendado na altura da pandemia — são os filmes do realizador japonês Kiyoshi Kurosawa. E mesmo esses filmes de terror japoneses, do virar do século, são as minhas maiores referências. Vejo-os constantemente à procura de inspiração. A primeira vez que vi o filme Kairo tive de parar a meio, porque foi uma sensação de tanto desconforto, e tal era o medo do desconhecido, que não consegui ver logo. Até agora, nenhum filme me causou essa sensação.
Estás prestes a lançar online o filme Luz de Presença, no dia 21 de agosto. Onde pode o público assistir a esta estreia e o que pode esperar desta história?
O filme vai ser lançado no Youtube e as pessoas podem vislumbrar um pouco da minha tentativa de criar um mundo muito particular, assente nos meus gostos e aspirações. Conta a história de um casal que vive isolado e que perdeu recentemente um bebé recém-nascido. Numa tentativa de se livrarem do luto, tentam ter outro filho, mas, no dia a seguir à relação sexual, surge um cadáver feminino no seu terreno. A partir daí, são atormentados pelo «desconhecido». É um filme do qual tenho muito orgulho, especialmente porque existe, não tendo desistido dele quando existiram n oportunidades para o fazer. Espero que essa determinação passe para o lado de cá do ecrã.
Tens já outros projetos alinhados, dentro ou fora do terror? O que podemos esperar para o futuro?
Sim, tento sempre ter vários projetos diferentes e em vários estágios de desenvolvimento, sendo que, em breve, estreio alguns filmes fora da zona do terror. Os dois próximos a entrar em produção já serão desse género: uma curta adaptada de uma banda desenhada de terror portuguesa e uma longa adaptada de uma peça de teatro, também ela portuguesa.
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Pedro Lucas Martins
Pedro Lucas Martins nasceu em 1983, em Lisboa. Desde aí, não se lembra de uma altura em que não gostasse de terror.
Com estes gostos, preocupou toda a gente à sua volta. Naturalmente, insistiu e venceu-os pelo cansaço.
Agora, entre outras coisas, escreve e edita ficção de terror, tendo sido esta reconhecida com o Prémio António de Macedo (2018) e com o Grande Prémio Adamastor da Literatura Fantástica Portuguesa (2020). Em março de 2022, cofundou a Fábrica do Terror, onde desempenha a função de editor literário.