Entrevista às realizadoras de «Penrose»
O filme de Alessandra Roucos e Teresa Teixeira esteve no 18.º MOTELX.
«Este projeto permitiu-nos usar o cinema como uma ferramenta para questionar, de forma surreal e hiper-realista, como a indiferença humana pode impactar o ambiente e as nossas vidas.»
Penrose, o filme estreia de Alessandra Roucos e Teresa Teixeira, tem percorrido vários festivais de cinema nacionais e estrangeiros. As realizadoras usam o terror para expressar um aviso sobre as consequências das alterações climáticas, mas sem fazer da história uma narrativa moralista. Entrevistámos as duas cineastas por e-mail, num momento em que estão a abraçar novos projetos, mas com vontade de regressar ao cinema.
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Como tem sido o vosso percurso no cinema até aqui?
«O nosso percurso no cinema tem sido uma verdadeira jornada de autodescoberta e expressão dos nossos receios. Através da curta Penrose, encontrámos uma forma de canalizar os nossos medos e ansiedades em relação ao estado do planeta e à sustentabilidade. Este projeto permitiu-nos usar o cinema como uma ferramenta para questionar, de forma surreal e hiper-realista, como a indiferença humana pode impactar o ambiente e as nossas vidas. Como estudantes de cinema, acreditamos no poder da narrativa para transcender barreiras e despertar reflexão, e Penrose é um reflexo desta nossa visão.»
De onde surgiu a ideia para este filme?
«A ideia para Penrose surgiu dos nossos medos mais profundos sobre o futuro do planeta. Em conversas entre nós, percebemos que o receio do que pode acontecer, se continuarmos a ignorar a destruição ambiental, é algo partilhado por muitas pessoas. Inspirámo-nos na escada impossível de Penrose, que simboliza ciclos sem fim, para criar um prédio onde a rotina e os vícios das personagens se tornam numa metáfora da humanidade a repetir os próprios erros. Com este filme, queremos que o espectador se sinta envolvido num mundo ficcional, porém, ao mesmo tempo, bastante real.»
Se puderem desvendar, claro, o que representam estas personagens?
«Cada personagem representa uma disfunção ou um vício humano que reflete problemas atuais graves, como a poluição, o consumismo exagerado e a negação do impacto ambiental. O prédio funciona como um microcosmo da sociedade, onde estas figuras, de certa forma, se aprisionam em padrões autodestrutivos.»
O filme quase dá a sensação de que aquele prédio é um local onde entidades estranhas se juntam. Há possibilidade de haver mais entidades? A história poderia prolongar-se?
«Sim, a ideia de Penrose como um local de convergência de entidades estranhas foi intencional. Vemos o prédio como um espaço onde diferentes facetas da sociedade e dos seus vícios se manifestam. A história pode, sem dúvida, ser expandida, pois os vícios e problemas da sociedade moderna são diversos, e muitos outros personagens poderiam surgir para representar estas questões. Esta abertura permite imaginar outros “adormecidos”, presos nos próprios vícios, numa continuidade cíclica.»
Em 2024, Penrose passou pelo Fantasporto e pelo Curtas – Festival do Imaginário, na seleção do festival convidado, MOTELX. Estão ou vão continuar a submeter a mais festivais? Onde é que podemos ver o filme nos próximos tempos?
«Sim, estamos muito entusiasmados com a receção de Penrose em festivais como o Fantasporto e o Curtas – Festival do Imaginário. Planeamos continuar a submeter o filme a mais festivais, para que a nossa mensagem chegue a um público ainda mais vasto. Nos próximos meses, esperamos que Penrose participe em outros eventos, e divulgaremos todas as novidades assim que tivermos confirmações sobre a programação dos festivais.»
Por último, e se puderem revelar, em que projetos estão agora a trabalhar?
«Neste momento, a Alessandra decidiu expandir horizontes e abraçar novas culturas, e está agora a viver na Holanda, onde trabalha a contar histórias através da câmara e da montagem. Atualmente, explora o mundo do desporto, que lhe permite capturar momentos autênticos e colaborar com pessoas de diversas nacionalidades, mantendo o foco na criação de narrativas visuais dinâmicas e multiculturais. A Teresa está a tirar o mestrado em Escrita Criativa, na Universidade de Coimbra, o que representa uma pausa no mundo do cinema para se dedicar a este percurso académico. Ainda assim, não tem dúvidas de que voltará ao cinema assim que possível.»
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Sandra Henriques
Autora de guias de viagens da Lonely Planet, estreou-se na ficção em 2021, ano em que ganhou o prémio europeu no concurso de microcontos da EACWP com «A Encarregada», uma história de terror contada em 100 palavras. Integrou as antologias Sangue Novo (2021), Sangue (2022) e Dead Letters: Episodes of Epistolary Horror (2023). Em setembro de 2023, contribuiu com o artigo «Autoras de Terror Português» para a Enciclopédia do Terror Português, editada pela Verbi Gratia. Em março de 2022, cofundou a Fábrica do Terror, onde desempenha a função de editora-chefe.