Entrei numa casa assombrada para o Exsilium 

A experiência de terror imersivo é o primeiro projeto de Entre Locais Abandonados com coprodução da Geo2Go.  

Faria, o último habitante, morreu nesta casa. Existe algo na sua morte que deixa dúvidas, demasiadas. São os objetos que deixou que nos dão pistas dos seus últimos dias.

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Martina Mendes

Nota da editora-chefe:

Parte deste texto contém spoilers, mas a história era tão boa que não queríamos perder a oportunidade de publicá-la. Mais abaixo, avisamos a partir de onde a Martina conta a sua experiência de forma pormenorizada. Quem quiser participar numa sessão de Exsilium não deve ler mais nada para lá dessa linha.


***

Confesso que vim a esta experiência sem saber o que esperar. Ser assustada, óbvio! Isso eu estava à espera. Mas, como virgenzinha no que toca a terror imersivo, porque não ir a Luso, uma vila no distrito de Aveiro, experimentá-lo pela primeira vez? Uma localidade que não conheço, a conduzir sozinha e com a reserva do carro no limite? Inscrevam-me já! Claro que a última foi opção minha.
Muito pontual, e muito ansiosa, cheguei ao local. Uma casa, um pouco senhorial, encontrava-se iluminada por um único poste de eletricidade do outro lado da estrada.

Existia uma aura de escuridão a rodeá-la. Acho que foi por isso que estacionámos do outro lado da estrada. Longe o suficiente para poder escapar?

As pessoas que estavam na mesma sessão que eu foram espetaculares. Não só éramos o grupo perfeito para um filme de terror — a rapariga que se assusta facilmente, os casais que se vão acalmando, os que vão tornando a situação ainda mais assustadora, a que vai sozinha, e o rapaz que ninguém conhece, que parece fazer parte da equipa e nos deixa ainda mais aterrorizados, e que nos levará à morte certa. Como disse: o grupo perfeito.

Entrámos na propriedade com pezinhos de lã. «Estamos na casa certa?» Todas as casas naquela rua pareciam assombradas. Quase de certeza que estão.

O nosso guia saiu da casa e, muito estoico, apresentou-nos as regras:

  • São proibidos aparelhos de comunicação.
  • Os portões fecham no início da experiência (e, Meu Deus, o barulho que fazem!).
  • Se, em qualquer momento, quisermos desistir da experiência, existe uma campainha que podemos usar e um membro da equipa irá levar-nos à saída. Não haverá forma de retomarem. 
  • Em nenhum momento poderão olhar para trás ou para os cantos escuros, não importa o que oiçam ou o que sintam.

Sigam as instruções da equipa, sempre, sem exceção.

E não podia faltar o assinar do raio do termo de responsabilidade e a formal aceitação das regras. Fiquei na dúvida por um momento. «Martina, vieste aqui em nome da Fábrica, por amor da santa.»
Assinei, com uma letra nada confiante, dobrei, coloquei de novo no envelope e entreguei ao guia. Em troca: uma venda.


No final da sessão, fui convidada a entrar de novo, mas, desta vez, para falar com a equipa. O véu assustador que me tinha acompanhado em toda a aventura, na falta de melhor descrição, caiu.
Entre Locais Abandonados é um projeto criado por Miguel Correia (outro Miguel Correia, não o da Mission to Escape) e Alexandre Correia, com o apoio da Geo2Go e de Ricardo Pimenta.


«Desde sempre, adorei filmes de terror e histórias de terror, portanto, eu consumia, e ainda consumo, tudo o que isso envolve. Decidi então combinar o storytelling com o terror imersivo. Brincar com a mente das pessoas», conta-nos Miguel Correia. Acrescenta também que, apesar de esta experiência se realizar em Luso nesta altura do ano, o objetivo é desenvolver outros projetos semelhantes, talvez até em casas assombradas por Portugal — um projeto que tem bastante espaço para crescer e ficar cada vez melhor, mais assustador, com uma possibilidade de poderem utilizar outras áreas da casa, também elas assustadoras por si só. Casas antigas têm essa vertente, ou é impressão minha?

No próximo ano, pretendem repetir esta mesma experiência. Caso queiram conhecer toda a história do Faria, ainda há bilhetes disponíveis até ao final do mês de novembro, existindo duas sessões, sempre aos sábados, uma às 21 h e outra às 23 h 20.


Apesar de ser uma experiência ficcionada, Ricardo Pimenta admite que cumprimenta o fantasma sempre que ali está. E como eu acredito nele! Afinal, senti duas figuras femininas atrás de mim. Ainda bem que só me apercebi disso quando cheguei ao carro.


A todos os que vão participar na experiência de terror imersivo Exsilium: não leiam mais a partir daqui. 

Um a um, fomos separados. Levados para diferentes partes da propriedade. Não sei quanto tempo ficámos sozinhos, tempo suficiente para que as folhas que cobriam o chão se mexessem; para que o respirar dos participantes perto de mim, mas não o suficiente, se igualasse ao meu; para que vento me trouxesse cheiros que não consegui identificar. Mexi os pés, porque não sei estar quieta, e o próprio som assustou-me. «Toquei nalguma coisa?» Expirei. Era só uma experiência, não ia acontecer nada, certo?

Finalmente, consegui sentir o cheiro do guia. Os seus passos fizeram-se ouvir logo depois, e ele levou-me para dentro da casa. Isto de ter de confiar no guia para que te leve para outro local desconhecido tem muito que se lhe diga. Mas, apesar da sua frieza, não vos deixará tropeçar nos degraus. Já é um bónus. Ao menos que se saia da experiência com uma certa dignidade.
Sentados, sei que, de ambos os meus lados, estão os outros participantes. Apesar de não ser sensitiva, nem nada que se assemelhe, sinto que estão duas pessoas atrás de mim. Por alguma razão, sei que são mulheres.

De vez em quando, há algo que me toca.

A sala permanece em silêncio.

Consegui cheirar as velas a queimar na sala — um leve cheiro a papel queimado e a algo mais que não pude identificar. E fomos autorizados a retirar a venda. Estávamos todos juntos numa espécie de sessão espírita. Um novo guia, o narrador, estava de pé a observar-nos.

A porta de entrada foi fechada, e o primeiro guia bloqueou-a. Lá se ia a nossa forma de fugir.

O narrador voltou a repetir as regras. A campainha encontrava-se na mesa diante dele. Era só tocá-la e alguém nos levaria para fora. Ninguém a tocou. Então, fomos apresentados ao pouco que se sabe sobre o último habitante daquela casa, Faria, que ali morreu. O diário que deixou para trás revela uma alma torturada — pelo quê, ninguém sabe, mas que o levou a hábitos invulgares.
É neste ambiente, iluminado apenas por velas, repleto de sussurros que se fazem ecoar pela casa, que fomos levados a conhecer os seus últimos dias.

No entanto, quando estamos embrenhados nas pequenas peças que vamos descobrindo sobre a vida dele, a experiência terminou de forma abrupta. O guia e o narrador tiveram uma conversa silenciosa e fomos levados à pressa para fora da casa, para fora da propriedade.


«Acabou mesmo?», perguntámos. Os objetos que trouxemos connosco da experiência deixaram-nos confusos. «Não, não pode ter acabado. Acabou?» Mas não obtivemos resposta. A casa está trancada. As cortinas corridas. O portão fechado.


E, cheios de dúvidas, regressámos aos carros.

Informações sobre a experiência:

Número máximo de pessoas por sessão: 10
Hora de chegada: 20 h 45
Hora de início da sessão: 21 h
Duração: 2 h
Preço: 16 €

Para inscrições e mais informações, visita a página oficial.