«Evil Dead: O Despertar» (2023)

Um filme de Lee Cronin.

Depois de uma semana inteira sem conseguir pregar o olho, jurei, em 2013, que nunca mais veria um filme da saga Evil Dead. Os anos passaram, uma década inteira, e os meus pesadelos tornaram-se realidade. Evil Dead: O Despertar estreou em abril nos cinemas portugueses e está agora disponível na plataforma de streaming HBO.

Maria Varanda

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A saga Evil Dead faz parte de um conjunto de filmes cuja visualização é uma base obrigatória para qualquer fã de terror. O original de 1981, assinado por Sam Raimi, envelhece pessimamente, assim como o de 1986 e o de 1992, mas, quando saiu nos cinemas, deixou os mais fracos de coração a tremer como varas verdes. Em Portugal, estreou como A Noite dos Mortos Vivos, e tenho uma tia que até este dia se benze quando falamos no filme — foi vê-lo ao cinema e nunca mais se esqueceu.

Acho que será isso que define a saga: quem vê algum dos filmes nunca mais se esquece, gostando ou não de o ter visto. E se o primeiro Evil Dead continua a ser apresentado como um «filme de terror sobrenatural», os dois que se seguiram (de muito menor sucesso) já são descritos como terror-comédia; todos tiveram Sam Raimi como diretor, o último saindo nos cinemas em 1992, onze anos depois do primeiro. O original fez cerca de 29 milhões na bilheteira, Evil Dead II fez 6 milhões, mas Evil Dead: The Army of Darkness arrecadou cerca de 21 milhões de dólares. Não nos podemos esquecer do franchise que permitiu a existência de Ash vs The Evil Dead que, na minha humilde opinião, não vale a pena o tempo.

O último, dizíamos nós. Mas, em 2013, chegou a origem dos meus pesadelos: o remake de Evil Dead. Fede Alvarez foi diretor e escritor, com o contributo do criador original Sam Raimi. E se eu não sou muito fã da trilogia original, quando vi a versão de 2013, roí as unhas até ao sabugo e dormi mal (muito mal) durante uma semana inteira. Cada vez que fechava os olhos, via a personagem Mia, em estado já avançado de possessão, repetindo a frase «don’t cut it off» uma e outra e outra vez. Não me julguem, eu era muito mais nova em 2013 e apenas uma aprendiza no mundo sério do terror.


Dez anos passaram-se, o mundo ficou bonito, as flores voltaram a ter cores, e o Universo (ou deus ou o que for) decidiu permitir que Lee Cronin trouxesse ao mundo o filme Evil Dead Rise (em português: Evil Dead: O Despertar).

Muitos pediam e desejavam por um novo Evil Dead neste tempo que parece ser dedicado ao remake de filmes clássicos e mais antigos. Eu não pedi, ia jurar que não precisava, até parar de ser mariquinhas e decidir ir vê-lo ao cinema.

Que erro colossal tão bom.

Não sou propriamente fã de gore. Como diz Stephen King, há vários níveis de terror e o mais básico passa por enojar o espectador/leitor, mas MINHA NOSSA SENHORA DA AGRELA se este não tem gore de qualidade. Não me lembro do último filme que me impediu de comer pipocas.

Evil Dead: O Despertar conta-nos a história de uma família distante que se vê reunida por eventos inesperados e cuja reunião é perturbada por uma força demoníaca que se torna corpórea e se transmite pela carne e sangue das suas vítimas. Tem como elenco Lily Sullivan e Alyssa Sutherland, entre outras jovens estrelas.


O filme é um sucesso no que toca ao «terror à antiga», com um cheirinho nostálgico aos filmes dos anos 80 e 90, assim como na reinvenção do surpreendente e do nojento.

Se pensávamos que a saga e franchise Evil Dead já tinha dado tudo o que tinha, estávamos enganados — eu sei que estava. A história envolve crianças e nem essas estão a salvo dos horrores dos demónios possuidores da carne e corrompedores da alma.

Mas, se Evil Dead surpreende no desconforto e no inimaginável, falha no que toca às suas personagens. O que parece, ao início, um excelente campo para desenvolvimento de personagem torna-se, a meu ver, um clichê da aceitação do papel da mulher como mãe e protetora. Não que seja desnecessário ou pouco importante, mas o desenvolvimento das personagens não avança para lá desse resultado expectável. Há demónios em todo o lado, e as crianças devem ser protegidas, mas as personagens deixam-se ficar num certo plano de superficialidade. Talvez não tenha sido para isso que Evil Dead: o Despertar foi feito, ou talvez eu tenha falhado em perceber algum significado mais profundo.

O filme tem gore e tem horror, mas infelizmente não chega a ter terror e acho que essa era a chave para ser um filme excelente em vez de muito bom. Falta aquela sensação de que está tudo igual, mas errado. Falta maior profundidade das personagens. Faltava-me ter mais uma semana sem dormir como deve ser.

Apesar de tudo isso, Evil Dead: O Despertar não deixa de ser um bom filme, que faz jus à versão de 2013, ambas ultrapassando (na minha opinião, não me esfolem!) os originais dos anos 80 e 90. Não há nada de mal com um filme que se restringe mais ao corpóreo e não exige que o cérebro decifre mensagens escondidas com alto valor moral e social. Deixemos o filme fazer o seu propósito: entreter o espectador e dar pesadelos aos menos treinados do terror.

Evil Dead: o Despertar já saiu dos cinemas portugueses há algum tempo, mas está disponível na plataforma HBO. Quem não viu aproveite. Quem viu, e discorda comigo, guarde a sua opinião, que opinar é o meu papel, e continue a discordar comigo na próxima Sessão da Noite ( <3 – em lembrança de 2013).