Fantasporto 2023: «Sashenka», de Olexander Zhovna
Secção Cinema Fantástico
«Anos 70 na Ucrânia Soviética. Os pais de um paraplégico são mortos em casa. A polícia investiga. O filho não pode ser o culpado. Num regresso ao passado, descobre-se um país em crise, uma família abusiva e amizades que desafiam a morte. Um poderoso relato sobre o abuso e as suas consequências na saúde mental. Este filme ucraniano é a segunda longa-metragem do realizador, considerado um dos novos talentos do cinema ucraniano.»
Olexander Zhovna traz-nos Sashenka, uma história que começa com o homicídio de um casal idoso que leva o seu filho paraplégico a rastejar pela neve para pedir auxílio.
É uma trama de 2 horas e 14 minutos sobre as influências da parentalidade no desenvolvimento da mente humana e como a violência (em todas as suas frentes) pode dar azo a consequências terríveis. Há um grande foco nas relações maritais, em amizades e traições, na parentalidade e na sexualidade.
A imagem a preto e branco não só cria um ambiente nostálgico que auxilia na contextualização histórica (Sashenka vive na antiga União Soviética) como parece querer auxiliar o espectador a focar-se na estranheza e fealdade do que é contado — no entanto, não é suficiente. Sashenka mostrou-se ser exageradamente longo para a história que conta e demasiado lentificado para impedir que desejasse que já tivesse acabado.
O elenco, assim, apresenta-se satisfatório. Dmitry Nizhelsky (Sashenka) oferece-nos cenas de gritos e histeria que simbolizam a sua loucura e ruptura, mas a repetição dessas cenas ao longo do filme faz com que o seu desempenho pareça exagerado e algo falso.
Na primeira meia hora, o espectador é gracejado com três ou quatro cenas de sexo que parecem querer enquadrar a estranheza do casal morto na primeira cena, assim como a estranheza da criança que educam, mas acabam por ser em demasia,para ocupar tempo de ecrã e tentar chocar o espectador.
As cenas «íntimas» não se ficam por aí, cada vez mais estranhas, desde violações de mulheres inconscientes a masturbações com estímulos peculiares. Parece que Sashenka tenta passar a mensagem de como a sexualidade parental afeta a futura sexualidade dos filhos — assim como os distúrbios dos pais afetam as crianças e os futuros adultos em que estes se tornam. Com um toque de Norman Bates, a personagem principal é o epítome de uma educação que correu mal num thriller e drama psicológico que passou no Fantasporto no dia 28 de fevereiro, mas que, infelizmente para os interessados, não irá repetir.