Festival Contacto 2022: precisamos de mais eventos destes

Sinto que, desde que a Fábrica do Terror abriu portas, repito muito a frase que dá título a este artigo: precisamos de mais eventos destes. Porque é necessário vincarmos que o terror não é um género de nicho — e prova disso é que, durante o Festival Contacto, convencemos leitores que nunca pegariam num livro de terror a fazê-lo e a dar uma oportunidade aos autores nacionais —, que há espaço (e mercado) para todos os criadores.

De Sandra Henriques

 

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Não somos ingénuos. Quando fundámos a Fábrica, sabíamos que haveria batalhas a travar, mas também sabíamos que iríamos encontrar uma comunidade que nos apoiaria incondicionalmente. O primeiro sinal desse apoio veio na forma de um convite por parte da Imaginauta para participar numa mesa-redonda sobre o terror ibérico, numa altura em que o projeto ainda nem completou três meses.

 

Novos livros de terror em português

Dos sete novos livros que foram lançados no Festival Contacto, quatro eram de terror ou incluíam contos com traços assumidos do género. 

A Editorial Divergência marcou presença com a apresentação da antologia Os Medos da Cidade, da re-edição da antologia paranormal Os Monstros que nos Habitam e com o lançamento do novo romance de Bruno Martins Soares, de terror, Insight.

A Imaginauta lançou Rua Bruxedo, uma antologia de ficção especulativa em que cada conto se inspira na cultura tradicional portuguesa, com capa da autoria de Inês Garcia.

 

Mesas-redondas

Apesar de não conseguirmos estar presentes na mesa-redonda com e sobre bookfluencers, parece-me importante destacar o papel das redes sociais na divulgação de novos livros e autores, e ainda bem que o Festival Contacto decidiu dar palco a esta nova realidade. Ainda se fala muito da falta de hábitos de leitura dos mais novos, sobretudo nos adolescentes, quando, na verdade, me pergunto muitas vezes se estamos a dar a estes leitores o que eles querem mesmo ler ou o que nós achamos que eles «devem» ler? Penso que a resposta a esta pergunta será tão simples como começar a olhar para a ficção especulativa como literatura «séria» e para os bookfluencers como comunicadores que conhecem bem as necessidades do mercado de que também eles fazem parte.

A sessão «Nos bastidores de um festival», com os organizadores do MOTELX e do Festival Vapor, foi bastante reveladora de duas coisas: que é preciso uma certa dose de loucura e de força de vontade (ou de visão, vá) para que se consigam fazer coisas «fora da caixa» e que os apoios (institucionais, sobretudo) ainda favorecem demasiado tudo aquilo que não é considerado «nicho» (quem ainda acha que o terror é um nicho, precisa de vir falar connosco).

Na mesa-redonda sobre o terror ibérico, representei a Fábrica do Terror e partilhei o palco com o autor Samir Karimo e o fundador dos Sustos à Sexta, António Monteiro. Uma hora foi o suficiente para desmistificar alguns preconceitos do terror, mas é um tema que dá pano para mangas. Tivemos uma audiência, de fãs e curiosos, bastante atenta, o que é um bom sinal de que continuar a divulgar o terror em Portugal é preciso.

A Biblioteca Municipal de Marvila

Pedro Cipriano e Nuno Ferreira na apresentação do livro Os Monstros que nos Habitam

Carolina Sousa e Bruno Martins Soares na apresentação do livro Insight