«Lili», de Manuel Alves

Atenção: ser protagonista de um livro traz pesadelos.

Se não estão preparados para entrar num universo de monstros com voz de canela e de pimenta que também aparecem durante o dia, é melhor não se aproximarem desta coleção de Manuel Alves. Estas histórias são só para quem não se deixa influenciar pelo que lê.

Livro recomendado para 15+

Marta Nazaré

A mãe de Lili decidiu escrever um livro para crianças, e a filha não resistiu a dar uma espreitadela. No primeiro volume da coleção, uma criatura arrasta crianças para a cave durante o sono, mas Lili já andava a sonhar com ela. Como pode ser? O que é que apareceu primeiro: os pesadelos ou a história da mãe? Primeiro mistério.

Sabemos bem que as crianças nunca conseguem conter a curiosidade. Basta juntarmos uma menina intrometida de 11 anos e um livro que lhe dizemos para não ler e estão reunidas as condições para uma boa história de terror infantil. Ou para umas noites mal dormidas. Com pesadelos. E daqueles vívidos em que é difícil distinguir se estamos acordados ou a dormir. Foi isso que aconteceu a Lili. Uma espreitadelazinha e a protagonista da história da mãe viu-se a braços com dois monstros: o Homem Que Muda e a Mão Que Puxa. Se um já faz estragos que cheguem, agora imaginem dois. Assim, não é fácil.


Felizmente, a heroína desta obra é destemida e não se deixa subjugar pelo medo.


Enquanto a mãe escreve a história, o pai faz as ilustrações e todos bebem chocolate quente nos dias frios de inverno, Lili tenta perceber por que é visitada por estas criaturas. Talvez o Homem Que Muda, que sorri sem expressão, esteja ali para a avisar de algo. Talvez a Mão Que Puxa, que risca as tábuas de madeira com os pés fininhos de arame, não seja assim tão terrível. Quem sabe? Com estas dúvidas a pairar na cabeça, Lili pede conselhos a um sapo pançudo que mora na pedra do chafariz velho do seu jardim. Fica na dúvida se ele é só um «sapo sapo» ou se é um «sapo príncipe». Na verdade, beijá-lo em nada ajudaria a chegar à «verdade verdadeira» ou a deixar de ter pesadelos.

Mas esperem, que ainda há mais. O autor Manuel Alves não ficou por aqui. E se juntássemos o Natal a esta narrativa de terror infantil no segundo volume? Alternando entre o dentro e o fora da história? Bem vos disse que esta não era uma coleção qualquer.

Depois do pinheiro de Natal já estar montado, Lili ouviu uma voz fininha vinda de trás do seu presente de papel vermelho e laço branco. Quando perguntou quem era, a voz escarneceu dela com um riso de hiena e disse: «este presente é meu». Lili não achou isso nada simpático. Não é bonito ficar com os presentes de outras pessoas. E a menina não reconheceu a voz. Não era a de um dos seus monstros conhecidos.

Ainda bem que encontrou o Pai Natal a aquecer-se na salamandra do sótão de sua casa para lhe poder perguntar o que estava a acontecer. Ela sabia que não podia estar na lista das meninas malcomportadas. Então, porque lhe queriam tirar o presente? O que será que os pais colocaram dentro da caixa vermelha? A mãe estava a escrever uma nova história. O pai desenhava as ilustrações. Lili tinha a certeza de que as respostas às suas perguntas estariam dentro do novo livro.


Esta coleção de Manuel Alves, povoada de pesadelos e monstros originais, é para ser lida num dia de inverno, com uma manta quentinha e uma caneca de chocolate quente fumegante. Conta com dois volumes: Lili e Lili: O Natal no Fundo da Caixa. O autor complementou com ilustrações suas uma história divertida, fluida e com diálogos ternurentos. É uma pena os livros só estarem disponíveis em ebook. O formato digital não lhes faz justiça.


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