«A Mãe Que Chovia», de José Luís Peixoto
A história da mãe que faz chover e do filho que não a quer partilhar.
Neste livro ternurento, com ilustrações de Daniel Silvestre da Silva salpicadas de chuviscos e um texto de José Luís Peixoto soprado pela melancolia, o menino protagonista conta-nos como é difícil ser filho da chuva.
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No início da narrativa, as ilustrações sugerem que o protagonista é uma criança órfã, convencida de que a chuva é a sua mãe. Com ela, «trocava tardes de domingo, descansos, beijinhos […] e enchiam a barriga de brincadeiragem». E, como todas as crianças, o menino gostaria que estas «coisas mornas de mãe e filho» fossem eternas, mas tudo o que tem início também tem um fim.
Dada a «atividade altamente qualificada de âmbito sazonal» da mãe, há alturas em que ela não pode estar presente. O trabalho obriga-a a fazer sacrifícios, a privar-se de estar sempre com o filho e a acompanhá-lo permanentemente no seu crescimento. No fim de contas, o mundo depende dela, pois só ela sabe «fazer chover».
Quando se tem uma mãe tão especial, com um motivo forte para se ausentar mais do que gostaríamos, é difícil entender o porquê e aceitar as saudades que temos dela. Tudo isto faz parte do crescimento de uma criança que tem de aprender a lição da perseverança e, acima de tudo, partilhar a mãe — o seu cuidado, amor e dedicação — com o mundo.
A cada página que folheamos, o autor transmite-nos, numa escrita poética, a tristeza de uma criança que não quer estar longe da mãe, sem se esquecer de envolver essa dor no cobertor do conforto. Percebemos que, apesar das circunstâncias que os separam, o que a mãe sente pelo filho é grande e poderoso. O amor incondicional de mãe, essa «força da natureza», está em toda a parte, só temos de olhar à nossa volta com atenção para o sentir.
Escrito por José Luís Peixoto e ilustrado por Daniel Silvestre da Silva, A Mãe Que Chovia, publicado pela Quetzal Editores, é uma homenagem bonita a todas as mães. Apesar da sua ausência, estão sempre presentes, mesmo que os filhos não se apercebam da sua presença.
Recomendado pelo Plano Nacional de Leitura, esta obra é uma estreia do autor nas histórias infantis e possibilita momentos de exposição de sentimentos e partilha entre mães e filhos.
Embora seja um livro para crianças, é aconselhável o acompanhamento de um adulto mediador na leitura para ajudar a transmitir a mensagem. Existem partes da história que, pela sua complexidade, precisam de uma explicação mais aprofundada.
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Marta Nazaré
Marta Nazaré, nascida em Lisboa, a 5 de março de 1981, é formada em Letras e Tradução de Inglês. Dedica-se a tempo inteiro à tradução de livros infantojuvenis e à legendagem de filmes e séries.
Descobriu o terror em tenra idade na papelaria do bairro que vendia a coleção «Arrepios», de R. L. Stine. Ainda hoje, o terror infantojuvenil é o seu género preferido.