Locais a visitar: Mosteiro de Santa Maria de Seiça (Figueira da Foz)

As lendas que rodeiam o mosteiro são variadas.

A primeira tem a sua origem em 1160, quando D. Afonso Henriques, durante uma caça a cavalo, perde um criado, que morre ao cair do seu corcel. 

Maria Varanda

O nosso livro está à venda!

D. Afonso Henriques e a sua companhia depositam o corpo do falecido numa ermida perto do local e, quando se preparam para o enterro, o jovem retorna milagrosamente à vida. Terá sido por este milagre que D. Afonso Henriques doou o Couto de Seiça para a construção de um Mosteiro em homenagem a Santa Maria de Seiça.

Assim como a história das ordens religiosas em Portugal está repleta de alterações e reconstruções, também assim sofreu o mosteiro, habitado por religiosos até ao século XIX. Diz-se que, muitos séculos antes da saída das ordens religiosas das suas paredes imponentes, aquando da chegada da peste a Portugal, o mosteiro, em apenas dois dias, viu falecer mais de 150 monges, vítimas desta doença medieval.

Não terão sido, certamente, os únicos homens a perecer no mosteiro. Seria no claustro que se enterrariam os monges, com outras inúmeras figuras de renome a serem também sepultadas no interior da igreja. Como se a presença de tanta morte não emanasse das paredes seculares deste monumento, a história do mosteiro é ainda pintada pela lenda dos Degolados de Montemor-o-Velho, na qual se conta que, perante uma invasão iminente, os homens cristãos degolaram os membros da sua família que não poderiam lutar. Depois, imbuídos pela força de já nada terem a perder, ganharam a batalha para regressar às portas da fortaleza de Montemor-o-Velho, descobrindo todos os familiares vivos, a regozijarem-se na alegria da batalha vencida.

Em 1834, com a extinção das ordens religiosas em Portugal, o mosteiro, após anos de degradação e reconstrução, cai finalmente em desuso, passando de mão em mão. A junta da paróquia acabou por vender o Mosteiro a particulares cerca de 60 anos depois da saída das ordens religiosas e, algures nos anos de 1900, o mosteiro é transformado em fábrica de processamento de arroz, sendo abandonado nos anos 70.


Foi como ruína que existiu durante décadas em Seiça, vítima do desgaste dos séculos de existência, cujo peso foi crescendo sobre as suas paredes. Tornou-se alvo dos apaixonados do urbex, com inúmeros vídeos e artigos disponíveis online, falando da sua beleza em degradação.


Até há alguns anos, os amantes da natureza poderiam passear e ser surpreendidos pelos belíssimos caminhos e campos que rodeiam o mosteiro. Muitos dos que outrora o visitaram em toda a sua ruína dizem ter sentido alterações de temperatura e presenças anómalas, que associaram aos resquícios de almas penadas.

Só no início dos anos 2000 o Mosteiro de Santa Maria de Seiça ganha a distinção de imóvel de interesse público, sendo adquirido pelo município da Figueira da Foz. O processo da sua classificação como monumento nacional iniciou-se nos anos 90 e só se viu concluído em 2023.

Nos tempos que correm, já só podemos ver o mosteiro no seu antigo estado de degradação (deplorável, mas belo) em imagens e vídeos online. O município da Figueira da Foz conseguiu finalmente avançar com as obras de requalificação, numa empreitada que começou em 2022 e se estima durar dois anos. Esperemos que a inauguração do restaurado mosteiro esteja para breve e que as almas que por lá residem há mais de 800 anos não se vejam perturbadas pela renovação do espaço.


A Fábrica mal pode esperar para o visitar. Por enquanto, podem conhecer aqui, mais detalhadamente, o percurso e a história do mosteiro.