Crítica a «Maelstrom»

O filme de Pedro M. Afonso estreou no MOTELX 2023.

«Chico, como é um homem de aspecto meio desleixado, decide melhorar a sua imagem para ter a auto-estima necessária a convidar a sua vizinha muito atraente, Clara, a sair com ele. No entanto, quando, depois de passarem a noite juntos, Clara, evidentemente perturbada, nega o seu envolvimento, Chico é forçado a confrontar a realidade — e as perversões da própria mente.»

Sandra Henriques

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Há uma frase, em inglês, que costumo repetir quando se fala de situações de violência contra as mulheres: not all men, but men. Em Maelstrom, Chico (interpretado por João Delgado Lourenço) leva-nos (arrasta-nos) pela mão (pelo braço) até às profundezas distorcidas da sua mente e, apesar de torcermos muito por Clara (Maria da Fonte/Cláudia Gomes), passamos o filme todo a saber o que aí vem. E isto não é dar spoilers; é dizer-vos que a esperança não é a última a morrer, ela não marca presença neste enredo.

Talvez as mulheres vejam o filme de forma diferente dos homens: eu passei 16 minutos com o coração nas mãos, quase quase quase a empatizar com o Chico (coitado, confuso, algo desengonçado), embalada pela score techno-pop e pelas montagens fofinhas das rom-coms dos anos 80, mas a saber que nesta história, provavelmente, a ficção está bastante próxima da realidade. E, apesar de ao início parecer uma personagem secundária, que só existe em serviço do protagonista, Clara é muito mais do que um acessório.

Sou particularmente sensível a histórias de terror do quotidiano; desiludo-me quando não são bem executadas. Não é o caso de Maelstrom. O filme de Pedro M. Afonso abre portas para muitos debates, nenhum deles agradável.

A curta-metragem de terror volta a estar em exibição no dia 4 de novembro, no Entre Olhares – Mostra de Cinema Português, no Barreiro.