Locais a visitar: Museu da Dermatologia Portuguesa Dr. Luís Sá Penella

A inspiração ausentou-se do vosso corpo? Os vossos níveis de criatividade estão em défice? Não entrem em pânico.

Se querem escrever sobre terror corporal ou simplesmente deixar entrar na vossa cabeça imagens grotescas, para terem pesadelos como deve ser, temos a solução! Visitem o Museu da Dermatologia Portuguesa Dr. Luís Sá Penella. Possivelmente, não o conhecem. Se é o caso, não sabem o que estão a perder. 

Liliana Duarte Pereira

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Contextualizando: a sua criação fazia parte de um projeto apresentado por volta de 1947 por Caeiro Carrasco, Meneres Sampaio e Jaime Almendra, que englobava também fundar novos hospitais de dermatologia nas regiões de Lisboa, Coimbra e Porto. A verdade é que este plano não avançou, e só em 1955 o enfermeiro-mor dos Hospitais Civis de Lisboa permitiu que fosse utilizada uma pequena sala do serviço de dermatologia do Hospital do Desterro para fazer nascer este museu.

No ano de 2007, o referido hospital fechou portas, sendo o médico dermatologista João Carlos Rodrigues a promover a transferência do museu para o Salão Nobre do Hospital dos Capuchos, onde permanece até hoje. Aqui, podem ver de perto uma invejável coleção com cerca de 264 máscaras de cera (a maior de Portugal), que nos dá a conhecer os efeitos de algumas doenças dermatológicas e venéreas como, por exemplo, a tuberculose cutânea ou a sífilis.


É uma colecção bastante realista, uma vez que os moldes foram obtidos diretamente dos doentes (vivos, confirmei).


Mas, perguntam vocês, como eram afinal executadas estas máscaras? Pois bem, para dar início ao processo, a zona afetada era coberta por uma substância não aderente e por gesso. Este último, depois de seco, era retirado e obtinha-se assim o negativo da lesão. Posteriormente, era introduzida no gesso, camada a camada, uma mistura de ceras em fusão. Depois de solidificarem, era obtido o positivo em cera e passava-se à fase da pintura. Como se não bastasse os moldes partirem dos próprios doentes, fiquem a saber que os cabelos, as pestanas e os pelos utilizados são naturais. Já os olhos são artificiais… Não queriam mais nada, pois não?

Bem, sabemos que, se estão a ler isto, é porque tinham gosto que em exposição estivessem partes dos próprios doentes conservadas em formol. Escusam de disfarçar. Só uma nota: vocês são macabros. Contentem-se com estes exemplares que tão bem revelam a aflição de padecer de algo como gomas da língua, granuloma ulceroso, gangrena, condilomas, e mais e mais e mais.


Para nos deixar indispostos, temos à vista desde rostos a genitais e, escusado será dizer, que o estado é lastimável. Confessem, ver o pecado e a má sorte eternizados nestas máscaras causa, pelo menos, uma ligeira apoquentação.


Desenganem-se se acham que esta colecção foi concebida com o propósito de ser sinistra, apesar de ter alcançado esse feito com bastante sucesso. Na base da sua criação, estiveram objetivos pedagógicos. Era mais eficaz transmitir conhecimentos partindo destes modelos, e não apenas de imagens disponibilizadas nos livros. Permitiu também que ficássemos com um registo único e tridimensional de determinadas patologias que, devido aos avanços da ciência, já não existem ou são extremamente raras, como é o caso de alguns dos estádios da sífilis, doença de Nicolas Favre ou alterações dermatológicas causadas por ingestão de arsénico inorgânico.


O melhor mesmo é visitarem este museu. A entrada é gratuita e funciona às quartas-feiras no horário das 14 h às 17 h.


Não há nada como verem esta coleção ao vivo e ficarem a conhecer, através de uma visita guiada, pormenores de quem a conhece de olhos fechados. Para aprofundar conhecimentos, têm ainda disponível o livro Clínica, Arte e Sociedade. A Sífilis no Hospital do Desterro e na Saúde Pública, de Cristiana Bastos.