Nova experiência do Projecto Casa Assombrada
O medo vive nas paredes da Quinta da Fidalga
Com vista para a ria, numa zona alvo de reabilitação e modernização, a Quinta da Fidalga resguarda-se atrás de muros altos e histórias de um amor proibido. Inicialmente, pertencia à família Gama, sob o nome Quinta do Vale do Grou, mas tomou a atual denominação devido à história do enclausuramento de D. Maria Bernardina da Gama Lobo de Saldanha e Sousa, como modo de impedir a sua união com um cavalheiro cujas ideações políticas eram contrárias às da nobre família Gama.
A Quinta da Fidalga possui uma atmosfera particular, tanto pelos seus séculos de existência como pelas histórias que a sustentam.
É nela que o Projecto Casa Assombrada, com o apoio da produtora Angel Minds, implanta a sua nova experiência de terror imersivo. A Fábrica do Terror não pôde faltar.
Reunidos à porta da quinta, calorosamente recebidos por dois elementos da produção, os participantes desconhecidos unem-se no nervosismo, mas é no interior das mais de 20 assoalhadas que o companheirismo se torna corpóreo.
Retornando às origens de uma experiência mais pessoal, os participantes começam a visita no piso térreo, com suporte áudio, onde o criador Michel Simeão nos fala das histórias da Quinta da Fidalga e nos introduz às diferentes divisões do piso social. Recomendo que deixe que o medo o invada e não procure pelos atores que poderão — ou não — estar escondidos nas diferentes divisões. Ouça a história. Envolva-se nela. Seja mais do que um observador, seja um personagem.
Para os mais energeticamente sensíveis, a esfera espiritual da casa pode ser desafiante. Para os mais céticos, bem… é provável que deixem de o ser.
Como noutras experiências, não se deixe enganar pelo conforto de ter comprado os bilhetes com amigos e de estar junto a eles: cada experiência é pessoal, e deverá separar-se dos seus companheiros conforme for sugerido. Arrisque, entre, explore as sombras e o escuro.
Subindo para o piso dos aposentos dos senhorios, será convidado a seguir as personagens da Quinta da Fidalga. Como sugerido, tente seguir pelo menos duas histórias das várias representadas — o participante, agora personagem passiva, é livre de circular pelas encenações até ser de novo chamado ao corredor principal. Daí, seguirá para a parte mais desafiante da experiência, onde terá vários ciclos de 60 segundos de isolamento dentro de algumas das 13 assoalhadas que serviam, nos tempos ativos da Quinta, como aposentos dos criados. Não conseguirá ver as salas todas, o que é uma verdadeira pena — a vossa fiel redatora ainda está a tentar decidir se teria coragem de repetir a experiência para vivenciar as salas que lhe escaparam (e a sala que se recusou a conhecer).
Meus caros, não é para os fracos de coração. Não seria o primeiro a desistir nos pisos inferiores.
Quando os grupos chegam ao piso superior, por vezes, chegam em menor número do que o inicial. Se a experiência imersiva em pequenos grupos já era aterradora, nada o pode preparar para este piso final.
É no escuro que se esconde o medo. É no desconhecido. Na antecipação. Quando sair, vai rir-se com os seus novos colegas, dizendo «não foi assim tão mau». Pois não. Depois de sair, já não é assustador. O problema é lá dentro. E quando fechar os olhos, mais tarde, já na cama, com o sono a fugir entre as memórias.
A partir do momento em que ficamos isolados de todos os elementos do grupo (conhecidos ou não), a brincadeira é outra. É nenhuma, até — ficar fechado numa sala, repetindo que é tudo a fingir, mas não saber se o cheiro é uma presença ou simplesmente os anos acumulados na madeira… se os sons são gravados ou se está mesmo alguém na sala consigo, no escuro… se o que sente é um ator ou uma das presenças seculares da quinta…
Assim, agarre-se ao que puder. Faça como eu: agarre-se à maçaneta da porta que tem de fechar sempre atrás de si — acredite, feche-a ou alguém há de fechá-la por si — e aguarde o minuto, todos os 60 segundos, até ouvir que pode sair e avançar para a sala seguinte. Sem espera, sem trocar palavras com o colega que segue à sua frente. É impossível, eu sei. Vai querer perguntar o que há lá dentro. Vai querer saber. Mas só saberá se entrar.
Será o medo apenas psicológico? A experiência prova a uns que sim, mas para outros, para os que vivem a experiência ao máximo, o medo é real, o medo é físico. O medo vive nas paredes da Quinta da Fidalga e espera por si nas personagens, na história, nos séculos dos alicerces do palacete, atrás das portas das duas dezenas de assoalhadas. O medo vive lá. E vive em si.
GOSTASTE? PARTILHA!
Maria Varanda
Diz-se que nasceu em Portugal em 1994, pelo menos nesta reencarnação. Quando a terceira visão está alinhada, brotam ideias na sua mente que a inquietam e tem de as transcrever para o papel para sossegar o espírito. Chamam-lhe imaginação, mas se calhar as ideias vêm de outro lado, e Maria serve apenas de meio de transmissão. Procura-se quem queira ouvir a mensagem.