O Fantasma esteve em Lisboa
Fantasma da Ópera, de Andrew Lloyd Webber, visitou Portugal de 15 a 27 de outubro e trouxe consigo todo o esplendor da Broadway.
A Everything is New e a Broadway Entertainment Group garantiram ao público português uma noite inesquecível, em que a presença do temível Fantasma da Ópera de Paris se fez sentir pelas paredes do Campo Pequeno, em Lisboa.
Ao entrar na sala, fomos surpreendidos por um enorme lustre a pender sobre a plateia. Nesse momento, quem conhece a peça sabia o que nos esperava.
Desde o primeiro momento, o público foi transportado para a Ópera de Paris, palco da icónica história de Gaston Leroux (1910) sobre a misteriosa figura que a assombra. Os cenários coloridos e luminosos da Ópera contrastam com as escadas sombrias que desaguam no lago vasto, aparentemente interminável, que conduz ao covil escuro e medonho do fantasma.
O fumo, as luzes de tons frios e a música intensa acentuam a influência hipnótica de Erik sobre a jovem Christine Daaé, bem como a atmosfera de medo que o fantasma impôs aos funcionários e artistas da Ópera ao longo de anos.
O elenco extremamente talentoso em todos os seus misteres elevou o elemento operático e transmitiu com sucesso a tensão que acorrenta as várias personagens.
Enquanto fã da obra de Leroux, fiquei muito satisfeita com o casting, especialmente com a escolha de Nadim Naaman e Georgia Wilkinson: representando uma Christine jovem, delicada e ingénua, em oposição a um fantasma violento, tempestuoso e fisicamente mais velho, que reforçou o horror desta história. Muitas vezes se tende a idealizar a relação de Christine e Erik, mas a caracterização de Naaman e Wilkinson vincou a natureza forçada e abusiva do desejo do fantasma pela promissora cantora.
Deste modo, o final redentor de Erik é impactante não porque responde à fantasia do público de o ver tornar-se digno de Christine, mas porque mostra o momento em que, pela primeira vez, aprende o que é a empatia, como é ser aceite por alguém e o que significa, verdadeiramente, amar.
Não posso deixar de destacar a interpretação de Lara Martins no papel de Carlotta Giudicelli: a sua voz incrível assentou que nem uma luva à Prima Donna. Martins e a bailarina Francisca Mendo são excelentes representações do talento português no estrangeiro.
Desde o guarda-roupa, aos cenários, à interpretação dos atores, à incrível orquestra e direção musical, até mesmo à interação com o recinto — particularmente o momento em que todas as portas são fechadas e se ouve a voz do fantasma ecoar por todos os cantos —, o público é transportado para o mundo desta peça de forma entusiasmante.
Estou certa de que não fui a única a sentir a presença do fantasma naquela noite.
GOSTASTE? PARTILHA!

Patrícia Sá
Patrícia Sá nasceu em 1999. Desde muito cedo que encontrou um refúgio na escrita e estreou-se como autora em 2021, com o conto «Amor», na antologia «Sangue Novo». Interessa-se especialmente pelo estudo da monstruosidade na literatura, nas artes e na cultura. Está determinada a provar que o terror é um género sólido. A arma dela? Resmas de livros teóricos sobre o assunto. Sublinhados. E com «post-its».