Crítica a «O Fantasma da Ópera», de Gaston Leroux
Como uma obra de terror do início do século XX, ainda é das mais apreciadas.
Histórias de amor, ameaças, mortes, desaparecimentos e, acima de tudo, um narrador que pretende provar, a qualquer custo, que o Fantasma da Ópera existiu mesmo.
Este é um livro para todos aqueles que procuram um clássico para o Halloween, para os que gostam de terror, para os que gostam de romance e para os apreciadores de música clássica.
Nada melhor do que a oportunidade de ver um dos musicais mais populares do mundo ao vivo em Portugal e poder compará-lo à obra original. O musical The Phantom of the Opera, de Andrew Lloyd Webber, estará em palco na Sagres Campo Pequeno entre os dias 15 e 27 de outubro.
A história começa na festa de despedida dos diretores da Ópera de Paris, que se demitiram, e que colocam ao corrente os novos diretores, no que diz respeito aos assuntos da Ópera e, principalmente, às exigências do Fantasma. Claro que os novos diretores acreditam que tudo aquilo é uma brincadeira. Como assim existe um Fantasma, que faz exigências em bilhetes escritos com uma espécie de tinta vermelha, querendo que o camarote n.º5 esteja sempre reservado para ele? Mas a realidade é que a primeira morte já aconteceu. Rapidamente, os novos diretores começam a aperceber-se de que algo se passa e que, se continuarem a ignorá-lo, poderão surgir consequências sérias para a Ópera e para todos os que lá possam entrar.
Seguimos também Christine e Raoul, os seus dramas e os obstáculos ao seu amor, ou, dizendo melhor, o principal obstáculo ao seu amor.
Este livro tem um dos tons mais engraçados que já li entre romances góticos. Começando pelo facto de o narrador nos querer convencer de que o Fantasma da Ópera existiu mesmo durante todo o livro, indo buscar «provas» e testemunhos de várias pessoas para contar a história.
As notas de rodapé feitas pelo próprio narrador ao longo do livro relembram-nos sempre do seu objetivo. A convicção que o narrador transmite fez-me, a certo ponto, duvidar e ir pesquisar para saber se o livro poderia ser baseado em algum acontecimento real. A tradução, feita por Rosa Marcelina, certamente também ajuda na construção deste tom. A tradutora conseguiu dar à versão em português uma fluidez que faz com que o leitor se sinta dentro da história e captado por ela. Por exemplo, sempre que existia a letra de uma parte de uma ópera, esta surgia em francês com a tradução em nota de rodapé, o que ajuda o leitor a sentir-se mais dentro da Ópera de Paris, entendendo, ao mesmo tempo, o significado do que está a ser cantado.
Além disto, não nos podemos esquecer de todos os elementos góticos e de terror. Toda a história se centra no Fantasma, a origem de todos estes elementos, mas algo que não esperava era a extensão a que ele estava disposto a ir para conseguir o que quer e, ao mesmo tempo, a sua genialidade para construir (literalmente) os ambientes mais assustadores da Ópera, como a câmara dos suplícios. É o tipo de monstro que nos faz questionar de que lado estamos e o porquê de ele ser assim.
Todos os eventos que parecem inicialmente sobrenaturais acabam por ter uma explicação racional e científica, mas o terror associado a estes elementos existe e em primeira instância, sendo que a história se desenrola de forma a fazer com que ambas as perspetivas sejam interessantes e se complementem no desenrolar do mistério, surpreendendo-nos à mesma.
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Madalena Feliciano Santos
Madalena Feliciano Santos nasceu em 2001, em Lisboa. A partir do momento em que leu The Shining, nunca mais largou o terror, estreando-se como autora na antologia Sangue Novo, em 2021, com o conto «Sonhei com uma Linha Vermelha». Frequenta o Mestrado em Tradução da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a trabalhar, sobretudo, sobre a tradução de literatura de terror.