O ilustrador Tiago da Silva falou connosco sobre o seu percurso e um projeto pessoal

«O projeto  A Lenda de Adora nasce do gosto de contar histórias. Tem sido uma verdadeira aventura»

Com mais de 15 anos como ilustrador, o algarvio Tiago da Silva partilha connosco alguns trabalhos de terror (não publicados), as suas maiores influências, a sua opinião  sobre a divulgação do género em Portugal e o seu mais recente projeto pessoal A Lenda de Adora.

 

De Sandra Henriques

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Fale-nos um pouco do seu percurso profissional. Quando e como é que desperta para a ilustração e sente que este é o caminho que quer seguir?

Desde muito novo que comecei a desenhar. As minhas primeiras referências e também influências foram a banda desenhada e aquelas ilustrações das capas dos livros dos anos 90, das revistas e dos videojogos, achava tudo aquilo incrível.

No meu percurso académico, estudei Design Gráfico, e foi neste período que percebi que  o que queria realmente era desenhar, não me identificava com o design gráfico. Foram assim os meus primeiros passos até chegar a profissional, o que ainda levou alguns anos.

 

Quais é que considera terem sido as suas maiores influências até agora?

A lista é demasiado extensa, mas vou enumerar apenas três figuras, cada uma de uma área diferente: Miyazaki, Frank Miller e Norman Rockwell.

 

Ao longo de mais de 15 anos de carreira, tem recebido vários prémios internacionais. Em que medida é que estes influenciam a sua carreira artística e o seu percurso profissional?

Eu comecei a participar em concursos de ilustração e BD com o objetivo de evoluir o meu trabalho. Muitas coisas positivas resultaram dessas participações, o contacto com diferentes artistas e os seus trabalhos, a vontade de querer fazer melhor. Sempre encarei isto como um desafio, no bom sentido. Aprende-se bastante.

O facto de ter ganho alguns prémios acaba por ser apenas a validação de tudo o que tinha feito até àquele ponto. É claro que também ganhei uma maior exposição, há todo um reconhecimento que proporciona a capacidade de ter mais trabalhos profissionais.

 

Num artigo de 2019, no jornal Barlavento, escrevia-se: «Tiago da Silva, artista que ombreia com os melhores do mundo na área da ilustração e que é mais conhecido no estrangeiro do que na sua terra». Acha que se avançou pouco no reconhecimento português dos artistas «da casa»? Ainda temos de ser reconhecidos lá fora primeiro, antes de sermos reconhecidos em Portugal? 

Foi a opinião do jornalista. De facto, há esse sentimento generalizado. Eu também já pensei dessa forma; agora já não dou muita importância a isso, acho que talvez seja igual nos outros países. Há tanta oferta e tanta coisa a passar-se no mundo, as pessoas não conseguem conhecer tudo e todos. Ainda para mais, eu vivo no Algarve. Eu próprio, por vezes, já me deparei com a minha falta de conhecimento em relação ao trabalho de alguns dos meus colegas nacionais.

 

Na sua opinião, o que é que faz falta na divulgação em Portugal do trabalho de artistas nacionais?

Todos sabemos que não existe um grande investimento na cultura em Portugal. Acho que passa muito por aí só com iniciativas como festivais, exposições ou publicações é que podemos dar a conhecer o que se faz por cá e os nossos artistas nacionais.

 

O seu mais recente projeto pessoal é o livro de BD em português A Lenda de Adora. Como é que está a ser essa aventura de lançar um livro original em nome próprio? Onde é que gostaria que esta obra chegasse?

O projeto  A Lenda de Adora nasce do gosto de contar histórias. Tem sido uma verdadeira aventura. Não fazia ideia de quanto é complicado conseguir publicar como autor e toda a promoção necessária, tenho descurado imenso essa parte por falta de tempo.

A resposta dos leitores tem sido bastante positiva, eu gostaria imenso de conseguir continuar a série, por se tratar de uma história bastante extensa. A ideia é criar pelo menos 8 volumes.

 

Dentro daquilo que é considerado ficção especulativa, a sua arte enquadra-se mais no género da fantasia e ficção científica, mas disse-me que tinha alguns trabalhos na temática do terror. Que trabalhos foram esses e como foi o processo criativo? É um género que o atrai ou, se pudesse escolher, ficava mais pela fantasia e ficção científica?

Eu gosto bastante de filmes de terror, em especial sci-fi que explore o terror. The Thing, Alien, o 8.º Passageiro são alguns dos meus filmes favoritos. Por vezes, tenho ideias que se enquadram na temática do horror. Como disse, a ideia é contar uma história através da pintura.

 

Os trabalhos que vos envio estão um pouco dentro desse género:

 

Bride to Be, um pouco ao estilo do The Evil Dead, acho que a imagem fala por si.

The Ritual, um conceito que imaginei e não saiu bem como esperava, daí não estar publicado.

Usher of the Dead, capa de banda desenhada com o mesmo título.

Venom, estudo de um possível poster.

 

Costuma consumir arte de terror em português? 

Devo dizer que conheço muito pouco do universo da arte do terror feito em Portugal. Espero ficar a conhecer mais com o vosso trabalho de divulgação.

 

Há muito a ideia (que com a Fábrica queremos desmistificar) de que não existe terror ou fantasia feitos em Portugal. Na sua opinião, acha que existe espaço em Portugal para que o terror português se fixe e cresça como género ou o caminho ainda é longo? 

O problema muitas vezes está na divulgação, e na dificuldade de chegar ao público, porque o espaço há certamente.

 

Se pudesse dar um conselho a um jovem criador a dar os primeiros passos na ilustração, qual seria? Ou qual seria um conselho que gostaria que lhe tivessem dado antes de começar (também podemos ir por esta perspectiva)? 

Perseverança, se é realmente o que pretendem fazer. Aplica-se a qualquer área, batalhar para se fazer o que se gosta vale a pena.

 

Algum projeto em que esteja a trabalhar agora e que possa partilhar com os leitores da Fábrica do Terror? 

Estou a trabalhar em vários projectos, mas não posso revelar. Posso revelar o mais recente que já se encontra publicado, a ilustração de capa para uma edição limitada da Wonder Woman da DC Comics.