«O Pai Mais Horrível do Mundo», de João Miguel Tavares

Quando somos pequenos, achamos que os nossos pais são uns grandes chatos!

O jornalista e autor João Miguel Tavares confessa ter-se inspirado no filho Gui para descrever com uma exatidão incrível a predisposição dos filhos para a asneira e o esforço dos pais para os proteger, educando ao mesmo tempo. 

Recomendado para 4+

Marta Nazaré

A guerra entre pais e filhos é mais velha que o próprio tempo. Enquanto os filhos não percebem bem o mundo que os rodeia e aos pais falta a paciência (e o sentido de humor) para justificar os «nãos» em linguagem simples, a comunicação entre ambos pode ser complicada e exasperante. Por vezes, o sinal da rede familiar sofre interferências quando os intervenientes passam pelo túnel do desfasamento de gerações.

O pequeno Gui, um dos protagonistas desta obra, queixa-se de que o pai não o entende. Como tal, é o pai mais horrível do mundo. Gui conta-nos os seus problemas e frustrações em primeira pessoa. As ilustrações de João Fazenda, porém, desenham-nos uma realidade bem diferente, a do pai, vítima dos «sustos» que o filho lhe prega. O retrato excelente destes dois mundos é o que faz deste livro uma leitura tão interessante.

Porém, em defesa do menino traquinas, os motivos que enumera são até bastante plausíveis. Afinal, o pai é um desmancha-prazeres. Só sabe dizer «não». É um adepto do contra e não compreende as necessidades de um menino (hiper)ativo que só quer brincar e explorar o mundo. Por muito injusto que o pai seja, no entanto, ele é adulto. Faz o melhor que pode e, como adulto, vê perigos que a inocência do Gui não lhe permite ver.

Sempre achei que os pais possuem uma espécie de instinto superapurado, parecido com o do Homem-Aranha, que os transforma em seres terrivelmente protetores dos filhos. É uma sensibilidade que os leva muitas vezes a pecar por excesso, mas temos de os desculpar; só tentam proteger os seus filhos travessos o melhor que sabem. Podem até chegar ao extremo de pôr em risco a sua integridade física (atirando-se escada abaixo e partindo uma perna, como o superpai desta história), mas jamais largam a capa de super-heróis. Os pais mais horríveis são também os melhores do mundo. Ainda bem que assim é.

Como será que acaba esta história? Conseguirá o pai do Gui entender-se com o filho, depois de passar por todas as provações e sofrer horrores indescritíveis? Só há uma forma de saber.


O Pai Mais Horrível do Mundo, de João Miguel Tavares, com ilustrações de João Fazenda, é recomendado para apoio a projetos relacionados com a Educação para a Cidadania na Educação Pré-Escolar, nos primeiros e segundos anos de escolaridade.


Em 2013, recebeu uma menção especial no Prémio Nacional de Ilustração da DGLAB. Anteriormente editado pela Esfera dos Livros, este livro ideal para miúdos e graúdos é agora reeditado pela Dom Quixote, do Grupo Leya. Também integra o Plano Nacional de Leitura.