Opinião — «Evil Below»

Desenvolvido por Fábio Barbosa e José Ortega da Fire Raven Studios.

Um videojogo FPS (First Person Shooter) que garante imediatamente o terror, nem que seja pelos jump scares que facilmente elevam a pulsação de qualquer um.

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Martina Mendes

Vencedor dos prémios Jogo mais Inovador, Melhor Utilização das Plataformas PlayStation e Melhor Jogo nos Prémios PlayStation Talents em 2020, Evil Below mantinha a fasquia elevada, assemelhando-se, de alguma forma, a Resident Evil Village, por todo o ambiente em que jogamos.


A nossa personagem é uma mulher, mãe, presumo que recentemente separada do pai da criança que dorme pacificamente no banco ao seu lado, sem cinto. O carro avança pelo meio da chuva numa noite em que pouco se consegue ver além da floresta que nos rodeia. E, claro, um lobo atravessa a estrada mesmo à nossa frente. Vocês sabiam que ia acontecer, eu sabia, até a minha cadela sabia. Se eu dei um pulo na cadeira e ia mandando o rato para outra dimensão? Yep.

E onde é que acordamos? Numa espécie de floresta entre a morte e a vida, onde ainda é possível abrir portas que nos levarão ao mundo dos vivos. É aqui que vais usar o microfone, pois, para conseguires abrir estes portais, precisas de usar a tua voz — infelizmente, num tom agudo (não importa que coloques a sensibilidade do micro no máximo, ou no mínimo, experimentei os dois). O que resulta? Um guincho, quanto mais agudo melhor. Os meus pêsames a todos os que verão a gameplay.

A forma de sair deste mundo cheio de criaturas é para baixo, sempre para baixo. Quanto mais desces, mais perto te encontras da saída. Os monstros que encontras pelo caminho? Humanoides, na sua maioria. Alguns totalmente nus e encurvados, que teimam em mandar-te tijolos à cabeça, e aos quais chamei Alfredo; as mulheres-bruxas que ora te atingem com as suas palavras, que não posso nomear aqui pela decência requerida, ora com as suas poções esverdeadas, que explodem numa nuvem e que te deixam atordoada; o monstro que avança pelas águas do segundo mapa que desbloqueias e que, obviamente, ganhou o nome de Loch Ness; os queridos Eduardos-Asas-de-Tesoura, cujo nome creio ser autoexplicativo, e outros de quem fugi como quem teme pela vida, apesar de o seu cardio estar super deteriorado. A nossa personagem, infelizmente, tem uma resistência baixa e facilmente fica ofegante.

Mas nem tudo são más notícias, podemos melhorar a resistência. Temos também o nosso querido inventário, que nunca consigo deixar de amar e que, neste jogo, tem apenas espaço para cinco itens e a vida. Faltava só a força que, felizmente, podemos ir equilibrando com as armas que encontramos no caminho (podemos ter sempre duas, de forma a alterná-las). Só não façam como eu e partam os tijolos num barril a tentar abri-lo… Uma pequena dica de sobrevivência.

E nem só de monstros é feito o jogo. Existem também as personagens que nos vão ajudando: o Monge que nos informa do mundo em que estamos; o Chefe de Armas que nos ensina a esquivar e a atirar de longe e o mocinho que não para de assobiar e que nos dá dicas de como operar no jogo. Um tipo um bocadinho assustador, mas lá engraçamos com ele até ele voltar a repetir tudo o que já te disse.

Os enigmas que encontramos são fáceis de entender, mas difíceis de completar. Um grande bónus, atenção, pois de coisas fáceis estou eu fartinha — fala a pessoa que, com cinco horas de jogo, completou 1%, por isso ainda muitas horas me esperam até o terminar.

Evil Below é um jogo com controlos fáceis de usar e que permitem facilmente alterar coisas como o idioma das legendas, porque as personagens falam em inglês.

Estejam atentos às especificações requeridas. Não façam como eu no início e joguem como se a vossa querida Joana — sim, vou chamar-lhe Joana — estivesse sempre sob o efeito de drogas. Até pensei que pudesse ter sido uma opção dos criadores. Não é.


O ambiente assemelha-se a Resident Evil Village, a envolvência da floresta com as casas espalhadas pelo mapa, o som dos nossos passos, do vento, do nosso coração, a respiração, as ervas a moverem-se, tudo em sinfonia numa base que evoca a expectativa, o medo pelo desconhecido.


Falha, porém, na história. A cena inicial mostra-nos a conduzir o carro e a observarmos o nosso filho, que dorme numa posição fetal, o remexer na aliança de noivado — afinal está no dedo anelar da mão direita —, quase como se a fosse retirar, o respirar fundo, a estrada, a noite, a chuva, a floresta que nos envolve e, claro, o lobo que nos leva ao acidente em que morremos. Há, no entanto, questões por responder: onde está o nosso filho?

Como é que podemos sair daqui? Não houve um acompanhamento dessa urgência de termos de salvar outro para além de nós. Para mim, foi aí que falhou. Tornámo-nos apenas mais um a entrar no limbo e a derrotar monstros pelo caminho, sem um propósito maior do que o de sobreviver.

Evil Below está disponível para compra na Steam.