«Penumbra», de Nuno Amaral Jorge

O autor apresenta uma série de fotografias com um tema mais sombrio.

Parte da sua inspiração para estas fotos veio do Desafio Criativo da Fábrica do Terror. O tema de janeiro era «Aberturas».


Nuno Amaral Jorge fala sobre Fotografia:

«A minha história com a fotografia começou com uma maravilhosa máquina analógica em segunda mão, que já na altura era antiga, e que o meu pai me ofereceu quando eu tinha 11 anos. Como se imagina, não percebia absolutamente nada daquilo. Para mim, um diafragma ou um fotómetro eram coisas de ficção científica, para dizer o mínimo, ditas talvez pelo Capitão Kirk, na Enterprise, ou pelo John Koening, na base lunar Alfa. Mas olhar pelo visor e ver aquele enquadramento era divertido. Era quase como estar escondido e poder ver as pessoas e as coisas sem ser visto. Acho, sinceramente, que é o que sinto até hoje.

O aparecimento das digitais melhorou e piorou tudo. Permitiu muito mais «disparos», mas há algo na impressão analógica (como os antigos daguerreótipos) que é mesmo único, apesar da possibilidade de reprodução através dos negativos. Ainda tenho algumas fotos impressas daquela analógica, e posso afirmar com certeza que foi a partir desse mecanismo que me tornei um eterno amador, mas entusiasta fervoroso da máquina, da foto e da imagem que congela um segundo irrepetível do mundo. É fascinante poder voltar constantemente a um momento que nunca mais se repete, mas que está, e não está, ali.


Gosto muito de fotografar pessoas, mas também detalhes e locais cheios de texturas, como paisagens com céus seminublados, sombras em multicamada, como é o caso das fotos que apresentei para este desafio.


Acho que estou constantemente a ser «assaltado» por detalhes que vejo e que quero — sem sucesso, claro — guardar e recordar para sempre. As pessoas são mais difíceis de fotografar, a não ser com uma excelente objetiva que permita que as fotografemos sem que elas o detetem. A maior parte dos fotografados, quando percebe que está a ser «capturada», perde uma naturalidade fluida que é, afinal, o que me faz querer fotografá-los. Mas é um desafio maravilhoso quando corre bem.

É algo que faço quase compulsivamente há décadas, sempre como amador, embora tenha feito dois cursos para, finalmente, saber o que é e para que servem os tais «fotómetro, diafragma e velocidade», o que melhorou muito a minha capacidade de tentar transportar o que vejo para as fotografias que tiro.

Nos dias que correm, adoraria ter mais formação específica e desenvolvida em fotografia, e cerca de trinta mil euros para material a sério! Sendo que ambas são agora impossíveis, tento melhorar o meu instinto, ver e desfrutar do trabalho de bons fotógrafos e esperar que esse empirismo me permita tirar fotografias de que eu goste e de que outras pessoas gostem também. Como a escrita, a fotografia é para mim uma forma de expressão, e, embora trabalhe muito mais arduamente na primeira, esforço-me cada vez mais na segunda.»