Recomendações de livros para ler em setembro
Dois livros que podem ter mais do que parece em comum
Uma das escritoras mais conhecidas do terror norte-americano e um autor vencedor do prémio Bram Stoker.
Para o mês de setembro, trago recomendações de dois livros que adorei, por razões diferentes.
O primeiro é Sempre Vivemos no Castelo, de Shirley Jackson. A história é contada da perspetiva de Merricat, que vive com a irmã Constance e o tio Julian, numa casa grande e isolada. Merricat é a única que sai da casa e, nos contactos que tem com o mundo exterior, simpatia é o que menos recebe. Os pais, a tia e o irmão estão mortos. Desde o início que percebemos que a causa foi um envenenamento, e que todos culpam Constance, apesar de ela ter sido considerada inocente em tribunal.
O mais interessante neste livro é a perspetiva de Merricat, como ela descreve as pessoas da vila e a vida dentro da casa, como parece ter tanto ódio dentro de si e ponderar tudo o que diz e todos os silêncios que faz. Por vezes, tem uma voz narrativa algo infantil que, ao longo do livro, nos leva a estar num limbo entre suspeitar que ela teve alguma coisa a ver com o que aconteceu e não acreditar que isso possa ser verdade.
Estando dentro da cabeça de Merricat, entramos em mais do que no simples mundo das rotinas daquela casa: entramos num mundo de rituais e superstições governado por ela.
Este é um daqueles livros que nos puxa para dentro da história e que nos faz sentir o ambiente em que as personagens vivem. O terror vem do que escondem, de si e dos outros, da inquietação de sentir que existe algo que não bate certo e que só se intensifica cada vez mais ao longo da história.
O segundo livro para este mês é o Fantasmas da Mente, de Paul Tremblay. Este, por outro lado, é um livro onde acontece muito e onde o terror está mais ligado a ações específicas e não tanto ao ambiente. Costumo até dizer que foi o primeiro livro que li que parecia ter jump scares.
Aqui, seguimos a história de Marjorie que, aos catorze anos, começa a mostrar sinais de esquizofrenia. Depois de vários médicos não a conseguirem ajudar, os pais acabam por pedir ajuda a um padre e, de repente, damos por nós perante uma história onde há uma equipa de filmagens a colocar câmaras pela casa para filmar um reality show sobre a suposta possessão de Marjorie.
Esta história é contada pela irmã mais nova, Merry (primeira ligação ao livro anterior), que está a ser entrevistada para um livro sobre uma perspetiva mais pessoal sobre o que aconteceu. É um daqueles livros que nos deixa com várias interpretações e com um final muito aberto. Uma das questões mais evidentes relaciona-se com a pergunta sobre se ela estará mesmo possuída ou esquizofrénica. As duas opções conseguem ser suportadas.
Este é um ótimo livro para fãs de terror que gostem de encontrar ligações com outras obras. Não é só o livro de Shirley Jackson que tem ligações a este, mas também muitos outros livros e filmes. Para mim, acho que Sempre Vivemos no Castelo influenciou um bocadinho a minha interpretação daquele final. Direi apenas que passei o livro todo a defender uma interpretação e foi a última frase que me fez ver o livro de uma forma completamente diferente. A pergunta que deixo aqui é: e se tivesse sido outra pessoa?
Já leram algum destes livros?
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Madalena Feliciano Santos
Madalena Feliciano Santos nasceu em 2001, em Lisboa. A partir do momento em que leu The Shining, nunca mais largou o terror, estreando-se como autora na antologia Sangue Novo, em 2021, com o conto «Sonhei com uma Linha Vermelha». Frequenta o Mestrado em Tradução da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a trabalhar, sobretudo, sobre a tradução de literatura de terror.






